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Helô Teixeira em foto que a escritora postou no Instagram [Foto: Reprodução]
Postado em 29/03/2025 - 8:00
Adeus a uma deusa
celeste se despede de Helô Teixeira

“Diante da onda feminista que nos surpreende hoje, me fiz uma pergunta inevitável: existe uma poesia feminista? Por outro lado, uma segunda pergunta atropela a primeira: seria possível nomear uma poesia como feminista? Não estaríamos promovendo um reducionismo perigoso? Não me sinto confortável chamando essa nova poesia de feminista. Prefiro pensar no impacto do feminismo nessa nova geração de mulheres. Prefiro pensar numa poética que, agora, passa a ser modulada por uma nova consciência política da condição da mulher e do que essa consciência pode se desdobrar em linguagens, temáticas e dicções poéticas”. Assim escreve Heloisa Teixeira na apresentação do seu As 29 Poetas Hoje, livro publicado em fevereiro de 2021, quando ainda assinava Heloisa Buarque de Hollanda. 

Quarenta e cinco anos antes, em 1976, a crítica literária havia organizado 26 Poetas Hoje, apontada como a mais importante antologia da poesia brasileira da década de 1970 – livro no qual Ana Cristina Cesar foi revelada e, por meio do qual, Torquato Neto e Chacal ganharam visibilidade. Natural então que em As 29 Poetas, a autora fosse buscar em Ana C. origem – ou simplesmente um rebatimento – para sua pesquisa nos anos 2010 e 2020 sobre a “poesia de mulheres, sobretudo das jovens que fossem, de alguma forma, afetadas pela quarta onda feminista”, ou uma escrita que reverbera “o éthos pós-2013″, o levante feminista iniciado nas marchas de junho de 2013. O livro é essencial, vital, vivo na sua versão em vídeos em que as poetas performam suas letras. 

Se, nos anos 1970, Heloisa amplificou a “poesia marginal”, nos 2000 ela se voltou para “muitas vozes fora do eixo dominante, heteronormativo e branco: vozes lésbicas, vozes negras, vozes trans, vozes indígenas, interseccionais”, escreve. Criou a Universidade das Quebradas que, segundo ela, era a forma de a periferia “hackear a universidade” e instaurar uma ecologia dos saberes, restaurando um equílibrio de conhecimentos acadêmicos e periféricos. 

Vigorosa, lúcida, transgressora, visionária, construtora de pontes, inventora de formatos e linguagens, transmissora de saberes, Heloisa estava agora empenhada no programa 2025 da Universidade das Quebradas: um curso para formação de escritores dentro da Academia Brasileira de Letras, onde ela foi eleita imortal em 2023.

Como mulheres, editoras, escritoras, jornalistas, críticas e feministas, a equipe celeste agradece o imenso legado, exemplo e todo o conhecimento fomentado pela maravilhosa Heloisa Teixeira, que em 28/3/2025 virou uma estrela.