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Still de As Mãos do Epô (2007), de Ayrson Heráclito (Foto: Cortesia do Artista)
Postado em 11/09/2017 - 1:32
Áfricas utópicas
Com curadoria de seLecT, mostra de vídeos na ArtRio ilumina a cultura afro-brasileira no acervo Videobrasil. Enquanto isso, o 20º Festival admite Portugal no mapa do Sul geopolítico
Paula Alzugaray

No acervo da Associação Cultural Videobrasil, os conteúdos remissivos à cultura afro-brasileira são majoritariamente documentais. Há ótimos docs como Quilombos Urbanos (1994), de Monica Simões, mas quem efetivamente começa a trabalhar a questão da democracia racial desde um ponto de vista da criação artística é o coletivo Frente 3 de Fevereiro, com a performance Futebol, no 15º Festival VB (2005). Esse trabalho integra a curadoria Áfricas Utópicas, que seLecT realiza no Espaço Transversal da ArtRio 2017, um recorte de obras da coleção VB que se posicionam política e criativamente em questões relativas à identidade africana. Integram a mostra cinco trabalhos de quatro autores brasileiros – Ayrson Heráclito, Flavio Lopes e Louise Botkay – e um cabo-verdiano, Irineu Rocha da Cruz.

O acervo VB reflete a interlocução da instituição com a produção audiovisual do Sul geopolítico do mundo (América Latina, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio). Mas chama atenção que a única coleção brasileira dedicada a esse segmento só apresente um artista natural da África portuguesa, Irineu Rocha da Cruz. “Acredito que isso se deve a duas questões. Primeiro, à história social e econômica das ex-colônias portuguesas”, diz Solange Farkas, diretora do VB. “Alguns desses países têm uma história recente de conflitos, consequência de sua também recente independência. Isso afeta a infraestrutura do país e a consolidação de um circuito de artes – o que, diga-se, Portugal, enquanto colonizador, se preocupou menos que outros países em estimular. A segunda questão nos diz respeito diretamente e é o fato de o Festival não ter chegado a acessar todas as cenas locais que gostaríamos e estar continuamente ampliando sua rede de interlocutores.”

Num esforço de elaboração do passado colonial que nos é comum, o VB intensifica um movimento de autorreflexão que resulta em ações concretas – como a inclusão da autodeclaração étnica nas fichas dos artistas do acervo. Outro exemplo é a inserção de Portugal no mapa do Sul geopolítico do 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que acontece em outubro, em São Paulo.  “O Sul geopolítico é, como todo mapa político, passível de ajustes, que acompanham as mudanças da distribuição de poder no mundo. Portugal sempre esteve simbolicamente à margem da Europa, digamos, na borda, e, como outros países do continente, passou por uma espécie de downgrade simbólico e social durante a crise econômica, também como consequência das medidas de austeridade impostas”, diz Farkas. A diretora do VB foi convidada a dar continuidade a essa reflexão nas Conversas ArtRio 2017. 

seLecT expandida:
Confira a íntegra da entrevista de Solange Farkas em bit.ly/solange-farkas