“Se quisermos, cada conceito é uma bactéria, um vírus que a nossa linguagem deve explorar, como o microscópio e múltiplos outros aparelhos exploram matérias: aumentando o tamanho da coisa observada, olhando com mais atenção para um lado, depois para outro, colocando um pormenor do conceito-vírus no centro da discussão, retalhando o conceito nas suas partes ou, variante mais usada – criando as condições para a procriação intensa, se possível infinita, de um conceito vírus.” Gonçalo M. Tavares em Atlas do Corpo e da Imaginação
EXPOSIÇÕES
Alguma Versão de Algo Que Aconteceu
O Museu do Louvre Pau-Brazyl se despede com uma instalação do Chopped Liver Press, projeto fundado pelo duo de artistas Adam Broomberg & Oliver Chanarin. O fim do ciclo pau-brazyl coincide com o fim da dupla criada em 2012 para publicar edições limitadas de livros e pôsteres. Cada série de pôsteres é composta por uma edição de 100 que apresenta uma frase impressa à mão em vermelho sobre páginas do The New York Times. “Alguma versão de algo que aconteceu” é a última frase que estampa o último pôster da dupla e se eterniza como um epitáfio para essa franquia-ficção memorável criada no edifício Louvre de Artacho Jurado.

Últimos dias de O Dia Antes da Queda
A exposição coletiva que acontece no bairro central da Bela Vista, em São Paulo, está quase encerrando. Invocando a metamorfose como estratégia coletiva de sobrevivência, em um território em constante disputa, artistas como Ana Raylander Mártis dos Anjos, Bruna Kury, Castiel Vitorino Brasileiro, Lucyfer Eclipsa, Transälien e Vulcanica Pokaropa, criam instalações especialmente para a mostra. “Emergindo entre as ruínas e a proliferação de showrooms, encontramos um espaço de vida e resistência LGBTQ+. O centro é um território de fissuras, e é justamente nessas fendas que forjamos o impossível” diz a curadora Clarissa Aidar sobre o projeto. Até 6/6.

Diário 366, de Bruno Novaes
O que fica de fora dos circuitos de documentação? Neste projeto de arte postal Bruno Novaes mesclou a documentação de sua história pessoal com a de voluntários, em um processo de 4 anos. Os colaboradores escolheram datas e receberam as páginas do diário correspondentes, em forma de cartão postal. Depois responderam com o envio de itens que comentavam o motivo da data, muitas vezes relatando histórias íntimas. O processo foi documentado em um grande calendário, em que o artista registra as devolutivas por meio de aquarelas dos itens recebidos. A mostra conta com o lançamento do livro homônimo. No Centro Cultural dos Correios de São Paulo, até 16/7.

Água-Viva, de Alexandre Wagner
Espaços imaginários, oníricos, conduzidos não apenas pela ideia de paisagem, mas principalmente pela escolha da cor. Essa é a síntese das pinturas apresentadas na mostra que reúne 23 obras em pequeno e médio formato, realizadas entre 2019 e 2021, feitas em grande parte dentro do período da pandemia, nas quais Alexandre convida o espectador a se aproximar, a olhar de perto sua superfície. Na galeria Marilia Razuk, em cartaz até 24/7.

O contexto urbano na Central Galeria
A mostra coletiva A Margem é Mais Larga que o Vão, com curadoria de Talita Trizoli, apresenta artistas mulheres, cis e trans, propondo uma reflexão sobre a experiência do corpo feminino no contexto urbano, suas estratégias, desejos e limitações que mediam a presença desses corpos nos espaços de convivência. Já a exposição individual de Rodrigo Sassi, intitulada Caminhos Incertos, Horizonte Imprevisível. Apresenta uma investigação sobre os limites plásticos de materiais como concreto, madeira, ferro e pedras, em sete trabalhos tridimensionais que exprimem o fluxo caótico das grandes metrópoles. A primeira até 3/7 e segunda até 31/7 na Central Galeria.

Pedra, Papel, Tesoura: Monotipias de Adriana Moreno
Como na brincadeira de Pedra, Papel e Tesoura, “A mão é quem conduz os lances na monotipia, uma técnica em que domínio e acidente andam juntos, como em um jogo.” escreve a curadora Janaina Nagata sobre a primeira exposição individual que apresenta a pesquisa de Adriana Moreno. Realizadas a partir de uma mistura de cinzas neutros sobre um papel também neutro de dimensões exatas de 100×100 cm, as imagens desta série apresentam-se como símbolos distorcidos pela materialidade ostensiva das figuras e por sua escala monumental. Até 31/7 na Galeria Pilar, online e presencial.

Ver Como Anda o Mundo Sem os Olhos, de Pontogor
É pensando o observador de arte como um leitor de imagens, sons, texturas (e mesmo odores), mas também de palavras, que a silenciosa e crítica exposição de Pontogor se manifesta na Galeria Sé. O artista defende uma percepção corporal, sensorial, rigorosa e detida das palavras escritas – inscritas em frases lapidares, como se destinadas ao toque e ao manuseio, ao uso prático e ao jogo. O uso do preto opaco e matérico tem também valor de negação – emanando, como ato abertamente antipictórico, da matéria-prima industrial. Em cartaz até 21/8.

ONLINE
Ensaio para Uma Cidadania Mundana: Vídeos de Renan Marcondes
A Casa de Cultura do Parque inaugura exposição virtual com vídeos do artista Renan Marcondes. Com curadoria de Ruy Luduvice, a mostra traz uma série de performances que investigam a ideia de presença e invisibilidade. Tendo em comum o esforço de desalienação tanto do trabalho artístico quanto da subjetividade dos espectadores, os quatro vídeos apresentados exploram o subterrâneo político do visível que tem formatado a nossa imaginação nos últimos anos e as suas consequências para a formação dos laços sociais na contemporaneidade. A partir de 9/6. Obras disponíveis no site e YouTube até 8/8.

Em Nome das Rosas, de Eugênia França
A artista plástica mineira realiza exposição virtual sobre a condição feminina frente à violência doméstica. Com cerca de 150 obras realizadas entre 2018 e o começo de 2021, a mostra tem título que indica a dimensão contraditória de várias histórias, que não se resumem à dor, pois, muitas vezes, são histórias de amor, de superação, de empoderamento. Pintadas em acrílica sobre lonas de caminhão, as obras trazem marcas do longo uso do tecido, muitas vezes remendado, que são como as cicatrizes que marcam as experiências de cada uma das retratadas. Em cartaz na plataforma virtual do BMDG Cultural, de BH.

PUBLICAÇÕES
Arjan Martins
Extenso panorama da trajetória do artista carioca que vem retratando em sua obra a negritude afro-brasileira enquanto presença, memória e imaginação. Os rostos de suas figuras negras são muitas vezes borrados em pinceladas aflitas e elegantes, traduzindo uma negação da identidade com gestos que multiplicam as direções expressivas contidas na forma. “A poética e o imaginário de Arjan Martins convidam a permanecer em um estado de travessia, percorrendo o negro oceano que liga a África, a Europa e as Américas em jornadas que se cruzam com as de diversos pensadores da diáspora negra”, escreve Paulo Miyada, organizador do livro. Editora Cobogó, 184 páginas, R$ 135.

A Parte pelo Todo, de Lucas Dupin
Sem se ater à materiais, linguagens e modos de trabalhar específicos, Lucas Dupin realiza trabalhos em que partes intentam acessar um todo. Para o artista “”As relações que se articulam entre partes (pedaços incompletos, residuais ou à espera) parecem sempre submetidas às tarefas de recompor, corresponder e reiterar um todo, o qual estabeleceria o sentido último de seus componentes.”” Em campanha de financiamento coletivo, o artista intenta reunir em uma publicação homônima, não um todo, mas uma seleção de obras realizadas em sua pesquisa. Via benfeitoria.

SESC Realizações 2020
O documento produzido anualmente oferece um panorama da atividade institucional do Sesc. Em vista de uma conjuntura incerta, repleta de desafios, o documento de 2020 narra acontecimentos vivenciados pelas diversas equipes e públicos do Sesc São Paulo, ao longo de 2020. De acordo com o diretor Danilo Santos de Miranda, o documento é apresentado com a intenção de compartilhar os aprendizados, na esperança de como comunidade seguirmos construindo diferentes maneiras cada vez mais humanas, éticas e poéticas de fomentar a vida em sociedade. Disponível em plataformas Android e iOS ou no site.

FESTIVAIS
LABVERDE: O Amanhã é Agora
Como pensar além da monocultura nas diversas áreas que fazem parte da sociedade? Pandemia, desmatamento, genocídio indígena, redução das áreas de proteção ecológicas na Amazônia.O Festival une arte, natureza, ciência e saberes ancestrais produzidos na (e a partir da) Amazônia, com o objetivo de abrir as janelas do conhecimento e vislumbrar novos horizontes. A programação é totalmente online e gratuita e celebra a sociodiversidade com shows, dança, mostras de arte, performances e debates, transmitidos pelo Youtube entre os dias 02 a 05 de junho, às 19h de Brasília.

FILMES
Mostra Ecofalante de Cinema – Especial Amazônia
Programação conta com 16 filmes e duas séries para TV, além de um ciclo de debates, webinário e master class. Na mostra, acontece a pré-estreia mundial do longa-metragem BR Acima de Tudo, de Fred Rahal Mauro. A série exclusiva HBO Transamazônica: Uma Estrada Para o Passado, dirigida por Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel, a master class O Cinema Ambiental de Jorge Bodanzky e o webinário A Crise Climática e a Amazônia, com Paulo Artaxo e José Marengo, dois dos mais influentes cientistas brasileiros da atualidade, são alguns dos destaques. A mostra é gratuita e acontece de forma online. De 2 a 9 de junho.

CURSOS
Women on Walls Ipanema – WOW
A 2ª edição do programa internacional gratuito de capacitação para mulheres artistas visuais de todo Brasil e países de língua portuguesa selecionou 60 alunas – de 500 inscritas – para embarcar nos encontros, experiências e mentorias virtuais ministradas por artistas e articuladoras mulheres influentes das artes, do Brasil e do mundo, em uma curadoria minuciosa de Marina Bortoluzzi, idealizadora do programa e sócia do Instagrafite, realizador do projeto. São 22 aulas com transmissão ao vivo pelo Youtube. O evento conta com artistas como Mag Magrela, Renata Felinto, Pati Rigon, Igi Ayedun, Arissana Pataxó. A programação pode ser acessada no site da WOW.

INTERVENÇÃO
Táticas Gastrosóficas para Um Novo Mundo
A intervenção transdisciplinar da artista Ingrid Cuestas discute na prática os pilares da soberania alimentar. O Laboratório Itinerante tem como objetivo ativar uma Zona Autônoma Gastrosófica através de um dispositivo móvel de criação coletiva que abrange diferentes linguagens artísticas e reconhece o patrimônio alimentar como nossa fortaleza. Aspectos econômicos, políticos, sociais, ambientais, medicinais que se escondem por trás do alimento são debatidos. A criação de lambes das receitas preparadas e dos tópicos da soberania alimentar são um exemplo dos registros do laboratório que aporta no Instituto Goethe no sábado 5/6.