Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co’os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!Opiário, Álvaro de Campos
Nova exposição na galeria traz pinturas do artista carioca, realizadas em diálogo com o poema Opiário, do heterônimo Álvaro de Campos, de Fernando Pessoa. Publicado em 1914, Campos descreve a passagem pelo Canal de Suez no mesmo ritmo efêmero da fumaça do cigarro que fuma. Uma pulsão de morte paira no ar, inerente a um dos muitos significados do paraíso: o descanso eterno. É nesse viés que as massas aguadas de tinta acrílica se lançam na tela de Lannes. Numa paleta sombria, repleta de azuis, pretos e cinzas, figuras quase indistinguíveis estão em movimentos que o olhar não captura. Opium (2023) é uma delas. Uma figura (humana?) busca apoio ou golpeia a composição, como se à la Samara Morgan, do filme O Chamada (2022), quisesse superar a superfície pictórica e aterrorizar todos em volta. Até 12/6.