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Postado em 02/12/2024 - 5:51
Águas Abertas
Plataforma de ações, reflexões e proposições para o Rio Pinheiros

Quando o curso de um rio é atravessado por uma cidade, que forças se colocam em disputa? Tensionado por São Paulo e com nascentes na Serra do Mar e foz no Tietê, o Rio Pinheiros teve seu leito curvilíneo retificado e seu curso revertido – com trechos desviados mais de 700 metros do traçado original –, devido a uma violenta operação de engenharia para geração de energia na capital. O que se testemunha hoje é um rio que resiste, apesar do desarmonioso processo de aterramento que modificou seu desenho e retirou parte considerável de suas curvas.

Se sabemos que a urbanidade exclui todas as possibilidades de vida que não a dos humanos, como diz Antônio Bispo dos Santos, qualquer outra forma que tente existir nela só vinga graças à força do orgânico – e não porque os humanos a queiram. Sobre esse modo de viver exclusivista, Ailton Krenak afirma que, embora sempre nos mantivemos perto da água enquanto humanos, aprendemos muito pouco com a fala dos rios e fomos nos “espalhando por cima dos corpos deles de maneira tão irreverente, a ponto de não ter mais nenhum respeito”.

Águas Abertas é um projeto de proposições artísticas que se coloca no contexto desse rio que, agora, respira por aparelhos ao receber bombeamento para produção de energia ou para controle de sua vazão; correndo tanto para a foz quanto para a nascente, em um ciclo artificial que visa restaurar suas condições insalubres e possibilite o retorno do viver aquático.

Uma iniciativa que convoca um grupo de artistas e arquitetos a pensar o que significa ser um ente cooperador no “abrir das águas” de um rio como o Pinheiros, tal qual uma plataforma de reflexões, ações e proposições, para fazer fluir diálogos represados entre a população e este outrora manancial de vida. Cinthia Marcelle + vão, Coletivo Coletores, Day Rodrigues, Igi Lola Ayedun + Metro, Keila-Sankofa, Lenora de Barros e Lúcio Ventania nos acompanham nesse processo.

Mesmo que a natureza siga sem ser ouvida quando as grandes decisões cosmopolitas são tomadas, mesmo que haja quem continue negligenciando os avisos do clima, quais ainda podem ser os sentidos das palavras semear, cultivar, oxigenar, florestar, navegar, entre outras, nos rumos que necessitamos tomar?

Voltando a Nego Bispo, se as cidades são estruturas colonialistas, queremos pensar por meio da arte que tipo de espaço público desejamos construir ao longo dos 8 quilômetros do Parque Linear Bruno Covas, onde Águas Abertas sonha em ser vazante de ideias.

Uma vez na encruzilhada que abriga a região, nos perguntamos dentro do que nos cabe: como cooperar para que o rio reinvente o seu melhor curso?