Abre neste sábado a exposição Home/Hope, com curadoria de Yev Kravt, no contexto de uma bienal cujo tema, em sua terceira edição, é Home Away from Home [Em casa longe de casa], em torno da crise global de refugiados e assuntos correlatos …Uma História Que Eu Nunca Esqueci… (2013/2015), de Rosana Palazyan, chega à Bienal de Larnaca, em Chipre, após ter percorrido outros países desde 2013, quando foi lançada.
Leia a seguir, texto da artista sobre a obra:
A obra, que trata da memória/não apagamento, identidade, diáspora/ sobrevivência, é apresentada agora, em 2023, no momento de um novo genocídio. Diante de crimes contra a humanidade cometidos pelo Azerbaijão, o povo de etnia Armênia, cerca 99% da população de Artsakh (Nagorno Karabach) foi forçado a deixar suas terras ancestrais, em mais um episódio de limpeza étnica, após 108 anos do genocídio sofrido contra seus antepassados armênios pelo Império Otomano (atual Turquia), c. 1915/1923. A obra …Uma História Que Eu Nunca Esqueci… (2013/2015), vídeo (15’ 12’’) integrante da instalação com mesmo título, será apresentado na Bienal de Larnaca, em formato de filme de arte.
O vídeo. produzido de forma artesanal, sem pretensões de virtuosismos técnicos, nasceu como um exercício solitário de anotações visuais e sonoras no cotidiano do estúdio. Propõe reconectar a memória fragmentada das histórias e relatos ouvidos desde a infância sobre a diáspora em consequência do genocídio armênio (c. 1915 a 1923). O extermínio de 1,5 milhão de pessoas e a tentativa de fazer uma cultura inteira desaparecer. Uma história que sempre foi impossível esquecer, pois seria o esquecimento do próprio ser. Foi preciso remontar cada fragmento da memória como em um quebra-cabeça, carregado de enorme custo pessoal.
Em uma bienal que trata sobre casa, pertencimento, esperança, nesse momento, pensar que quando um povo é retirado não só de suas casas, mas também é forçado a abandonar suas terras ancestrais e bens culturais, que já vem sendo depredados, como forma de limpeza e apagamento existencial, pergunto: onde está a esperança? O que me faz lembrar das palavras do filósofo e ambientalista Ailton Krenak: “A nossa história colonial no Brasil é uma história de genocídio contra o povo indígena. É uma tristeza você construir uma nação em cima do cemitério da outra”.
O reconhecimento de um genocídio é parte fundamental como demanda de justiça e no processo de cura de seus descendentes que o têm como uma ferida aberta. Como brasileira de ascendência armênia, a necessidade de justiça, não apagamento e não recorrência pulsa em mim duplamente e a arte é o que me move nessa busca.
Rosana Palazyan, 2013/2023