O povo Uru-Eu-Wau-Wau, autodenominado Jupaú (“os que usam jenipapo”), teve o primeiro contato oficial com o homem branco em 1981. Nas oito aldeias localizadas pela Funai nos vales dos rios Madeira, Floresta, Machado, Guaporé e Mamoré, em Rondônia, calculou-se que havia, aproximadamente, 500 pessoas. Em 1985, os Uru-Eu-Wau-Wau tiveram sua Terra Indígena revogada, mas desde então a violência reduziu a população pela metade. Hoje, com menos de 200 remanescentes, se associaram para a defesa de seu território de 2 milhões de hectares. Em um plano auto-organizado de vigilância contra invasões e extração ilegal de madeira, os integrantes mais jovens estão se aparelhando com câmeras de vídeo, drones e tecnologias de imagem em tempo real como armas de defesa. A fim de abrigar seus equipamentos de vigília, criar uma sala de encontros e de projeção e edição audiovisual foi construído o Centro de Mídia e Cultura Jupaú, na aldeia Jamari, na TI Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia.
Inspirado na oca tradicional Jupaú, com fachadas revestidas de painéis de palha trançada pela comunidade, o espaço de 280 metros quadrados foi construído com madeira apreendida de madeireiras ilegais. “É um espaço multiuso”, diz Anna Dietzsch, da plataforma Cidade Floresta, formada por profissionais de diferentes áreas, entre elas arquitetura e design. A plataforma tem projetos em andamento com os povos Guarani Mbya, Kamayurá, Kuikuro e Huni Kuin. “Os Jupaús precisavam de uma construção que não fosse temporária. Outro aspecto para nos terem contatado foi o fato de não terem mão de obra. Os homens mais ativos estão nas barreiras, na guerra”, diz Dietzsch. Na estratégia de difusão e informação sobre a sua luta, a Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau coproduziu o documentário O Território (2022), dirigido por Alex Pritz, Prêmio do Público e Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance em 2022. No filme, realizado ao longo de três anos, membros da Equipe de Vigilância Jupaú contam sua história de resistência e, câmeras em punho, expõem queimadas, desmatamentos, perseguições e confrontos na mata. “Eles querem mais do que a terra. Querem acabar com o povo indígena, os isolados. A gente não vai permitir que isso aconteça”, dizem os guerreiros Jupaú no filme.