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BoobsBar (2019), do coletivo OPAVIVARÁ! [Foto: A Gentil Carioca/ Divulgação]
Postado em 13/02/2025 - 6:04
Ativismo do prazer
OPAVIVARÁ! celebra 20 anos de vida em mostra inédita n’A Gentil Carioca, em São Paulo

OPAVIVARÁ! é uma palavra que não está no dicionário da língua portuguesa, mas é uma expressão frequente da arte contemporânea brasileira há 20 anos. Há muitas definições possíveis para OPAVIVARÁ! – escrito assim, em letras capitulares e exclamação. OPAVIVARÁ! é coletividade, vida pública, jogo, parceria, festa, crítica etc. A partir de 15/2, quando comemora duas décadas de vida com a exposição QUEM VIVER VIVARÁ!, n’A Gentil Carioca São Paulo, o público paulistano terá a chance de conhecer esses e muitos outros sentidos envolvidos nas atividades do coletivo de artistas cariocas. 

A mostra, composta por 30 trabalhos produzidos entre 2007 e 2025, conta também com duas novas instalações desenvolvidas especialmente para o projeto panorâmico. A tônica que prevalece em quase todos é a noção de ativação da experiência do espaço público. “Que pode ser usado ou habitado como tal, uma vez que o público não é instituído, e sim gerado na convivência da coletividade – ideia que não se materializa no campo digital”, afirmam os quatro integrantes em conversa com a celeste.

Surubancos (2019) e Saia Como (2018)

“Só é possível transformar o mundo da hiper individualização com uma responsabilização coletiva, porque a responsabilização individual é uma estratégia capitalista para culpabilizar o indivíduo, deixar as pessoas nesse estado de depressão e de impotência. […] Nosso trabalho vem nesse lugar da ‘propositividade’, de inventar maneiras de adiar esse fim do mundo. Pode ser meio incongruente falar de prazer, de hedonismo e de coisas celebrativas, mas o nosso nome carrega a palavra VIVA, assim como o título da exposição”, continuam.

O OPAVIVARÁ! reivindica em seu trabalho não apenas o direito ao ócio, como também o ativismo do prazer. Os objetos relacionais ou ‘transantes’, termo cunhado por Caroline Valansi, artista e ex-integrande do coletivo, criam uma conexão entre os dispositivos nos campos conceitual e corpóreo, além de aprofundarem a experiência coletiva e sensorial, atuando como catalisadores das múltiplas relações do público com as obras. “Essa não é uma exposição para ver com a mão nas costas, e sim para ver com a mão nas coisas”.

Karaokente (2025), do OPAVIVARÁ! [Foto: A Gentil Carioca/ Divulgação]

CASA COLETIVA
No intuito de ressignificação do uso de objetos do cotidiano, o OPAVIVARÁ! apresenta Karaokente (2025), um fogão com rodinhas com um grande alto falante dentro do forno, com microfones e uma tela para o karaokê conectados. Cria-se aqui uma relação entre fogo, mudanças climáticas e  um elemento central da estrutura de uma casa, o fogão, que é também lugar de nutrição. O objeto é composto por quatro bocas e quatro microfones para quatro pessoas cantarem e se encontrarem. 

O âmbito doméstico é virado de cabeça para baixo em peças como Aguardente (2019), um bidê com um sistema de fonte que jorra cachaça e inclui copos para os visitantes beberem; e a série Saia Como (2018), feita de talheres de metal que dançam pelos ambientes junto ao público.

Aguardente (2019), do OPAVIVARÁ!

Fresh-cura (2025), instalação inédita, subverte a função de um guarda-sol ao integrá-lo a um sistema de irrigação, fazendo chover sob sua cobertura. A desconstrução dos objetos na prática que coletiviza suas existências é uma estratégia do OPAVIVARÁ! para causar estranhamento e, sobretudo, questionamento sobre as nossas noções de convivência com os outros seres – vivos ou inanimados.

Fresh-cura (2025), do OPAVIVARÁ!

A passagem do privado ao público se dá em jogos – de linguagem, sexuais, sonoros, alcoólicos – em uma espécie de parque de diversões para adultos. Existe algo não-banal no exercício lúdico, que geralmente está limitado às crianças e só é socialmente aceitável aos adultos de forma constrangida. O OPAVIVARÁ! leva os elementos da diversão considerada adulta de volta para a ludicidade benigna da brincadeira infantil, des-constrangendo as dinâmicas relacionais.

Aos 20 anos de estrada, o coletivo se pergunta o porquê da necessidade da novidade o tempo todo. “O que é novidade? A quem interessa a novidade? Porque não olhamos para o que já existe, sabe? Arte precisa de tempo, de maturação e de fermentação para poder crescer”, destaca. Para além dos objetos em si, são as relações criadas pelo público com os trabalhos que somam novas camadas de ação ao projeto, e esse caráter é sempre imprevisível. 

Karaokente (2025), do OPAVIVARÁ!

Parceria é outra palavra que bem define OPAVIVARÁ! A mostra também estabelece uma ação colaborativa com a cozinha da Ocupação 9 de julho, que participa da abertura no sábado, e no domingo (16) recebe o OPAVIVARÁ! com ativações na própria ocupação.

 

SERVIÇO
QUEM VIVER VIVARÁ! do OPAVIVARÁ!
Abertura 15/2 (sábado), 14h às 19h
Em cartaz de 18/2 a 8/3/25
A Gentil Carioca SP (Travessa Dona Paula, 108)
Entrada gratuita