Em uma região onde a cultura se funde organicamente com a paisagem, o fotógrafo Rao Godinho desafia as representações convencionais da Amazônia. Suas imagens não se definem pela visão exotizada mais comumente presente na fotografia desse bioma ou pela densa floresta tropical, mas buscam capturar a complexidade humana que habita este vasto território. Embora seu nome tenha ganhado destaque crescente no circuito internacional da fotografia, sua trajetória teve um início quase acidental — um jovem curioso registrando sua cidade natal para compartilhar com amigos. O que começou como um simples exercício de observação evoluiu para um projeto que questiona e redefine a iconografia da região amazônica.
A lente de Godinho vai além da Amazônia. Sua sensibilidade se estende para captar manifestações culturais que resistem ao tempo e à homogeneização global. No Carnaval deste ano, esteve em Pernambuco, onde um personagem essencial do Maracatu Rural ecoa o espírito de resistência: o Caboclo de Lança. Com sua indumentária, composta por espelhos e lanças, ele encarna uma fusão singular de influências afro-brasileiras e indígenas, um testemunho vivo da história e da força cultural do Nordeste.
De acordo com Godinho, “algumas fontes consideram o caboclo de lança um ‘guerreiro de Ogum’, pois há um sincretismo afro, cristão e indígena. Sua história está na roupa. Fui ao Engenho Cumbe, distrito do município de Nazaré da Mata, para ver onde tudo começou”, conta o artista à celeste.

O projeto HUMANAMAZONIA emerge como um contraponto necessário à visão idealizada da Amazônia. Dentro dessa série, a fotografia Carambela, tirada em 2011 em Manicoré – AM, se destaca como uma das mais emblemáticas, pela precisão da composição, aliada ao domínio da luz e do contraste. “Tenho várias imagens premiadas, e Carambela foi a mais premiada delas, acho que 6 ou 7 vezes”, afirma o fotógrafo.