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Registro da performance Passagem (1979), de Celeida Tostes [Foto: cortesia Galeria Superfície]
Postado em 24/05/2024 - 9:22
Celebrando com Celeida
A Galeria Superfície comemora dez anos com a exposição Vênus Ancestral, a primeira individual de Celeida Tostes (1929-1995) em São Paulo

Neste mês de maio, a Galeria Superfície comemora dez anos e quem ganha presente é o público. A exposição Vênus Ancestral, primeira individual da artista – ceramista, barrista, ativista da terra, gravurista e educadora –  carioca Celeida Tostes em São Paulo, é um presente de valor inestimável. 

É uma oportunidade única para conhecer e apreciar a seleção de quase 30 obras de diferentes fases, desta artista que participou da 21º Bienal de São Paulo (1991) e de tantas outras exposições coletivas na cidade, como a recente Terra Abrecaminhos: Uma Jornada, no Sesc Pompeia, mas sem nunca ter tido suas obras reunidas em um único espaço.

Ao avistar da calçada as obras através da fachada de vidro da galeria, o olhar entra em estado de puro encantamento pela beleza da oxidação cromática das peças, processo produzido pela ação da terra. Ultrapassada a porta, já com os pés dentro do espaço expositivo, as mãos iniciam movimentos involuntários como se fossem pegar, apertar e amassar o barro.

O barro é o afeto.

O barro é a comunhão.

O barro é a permanência.

O barro é a matéria-prima de Celeida. 

O barro é a expressão poética de Celeida.

O barro é o feminino de Celeida, a primeira artista brasileira da sua geração a falar de gênero.

O barro é a ancestralidade de Celeida e de todos nós.

O barro moldou a pedagogia da educadora Celeida.

O barro é a tradição brasileira da olaria que Celeida elevou ao patamar de arte, trouxe para o proscênio como personagem principal, e não mais como mero coadjuvante. 

Nesta exposição, o cubo branco transformou-se em palco.

Vênus (déc. 1980), de Celeida Tostes [Foto: Ana Pigosso/ cortesia Galeria Superfície]

OVOS, JOÃO DE BARRO E VÊNUS
A certeira escolha das obras – tarefa que não deve ter sido fácil – aliada à belíssima expografia valorizou o fruição artística, possibilitando uma experiência estética e sensorial única. No térreo, as esculturas Ovos (s/d), as da série João de Barro (s/d) e Vênus Ancestral, da série Ferramentas (1979), estão elegantemente dispostas na horizontal no mesmo suporte sob uma camada de terra. Acima, pendurada na parede, observando e abençoando tudo, a escultura Vênus (1980).

Na parede oposta, a série Passagem (1979), conjunto de 23 fotos registradas pelo antropólogo Henri Stahl (1901-1991) da performance sem espectadores realizada no apartamento de Celeida Tostes em Botafogo. Nesse trabalho, a artista e a sua matéria prima tornam-se um só corpo. O livro Passagem foi reeditado por ocasião desta exposição, e pode ser comprado diretamente com a equipe da Galeria Superfície.

ABRAÇO COLETIVO
Subindo a escada que dá acesso ao primeiro andar já é possível avistar os Amassadinhos (1991) apresentados pela primeira vez na  instalação Gesto Arcaico, na 21º Bienal Internacional de São Paulo, SP, 1991.

Na Bienal eram 20 mil Amassadinhos ocupando três painéis em 36m2 de parede. Nesta exposição, são 70 dispostos na horizontal lado a lado ocupando três paredes, quase um abraço coletivo. Os Amassadinhos são um encontro de milhares de mãos – bebês, presidiários, alunos, turma de professores, amigos, meninos de rua – , são punhados de barro que nascem do gesto-reflexo das mãos que se fecham ao segurar uma pequena porção de barro.

Saindo do abraço dos Amassadinhos, vamos ao encontro do Guardião (1980), do Beijinho (1970), do casal Vênus e Guardião (1970) e da série Urnas (1980), e com eles queremos ficar. Como se despedir de uma exposição que deveria ser permanente? Não sei a resposta, mas o alento é que a Galeria Superfície nos presenteia também com um belíssimo catálogo criado pela artista gráfica Júlia Lara. O catálogo é uma outra forma de estarmos na exposição. Obrigada Galeria Superfície por nos lembrar o quão importante é conjugar o verbo Celeidar.

Vamos todos Celeidar!

 

Serviço

Celeida Tostes – Vênus Ancestral
Texto crítico – Pollyana Quintella
Galeria Superfície @galeriasuperficie
Rua Oscar freire, 240 – São Paulo – SP
www.galeriasuperficie.com.br
Visitação de 23/03 até 25/05/20204
Terça a sexta das 10h às 19h.
Sábado das 10h às 17h.
Entrada gratuita.
Acessibilidade:
Banheiro adaptado.
Não há elevador nem rampa de acesso para o andar superior.
Não há mapas táteis. 

COMO SE DESPEDIR DE UMA EXPOSIÇÃO QUE DEVERIA SER PERMANENTE?
Passagem (1979), de Celeida Tostes [Foto: cortesia Galeria Superfície]