As três exposições coletivas, em cartaz no Espaço Cultural Unifor, têm curadoria de Denise Mattar. 20a Unifor Plástica: Simultaneidades – A Arte Com A Palavra parte do uso da palavra na arte produzida na região, a fim de explorar relações entre a arte moderna de vanguarda, o artesanato e as diversas manifestações contemporâneas. Da Terra Brasilis à Aldeia Global – 2a Edição reúne mais de 200 obras produzidas desde o período colonial até o contemporâneo, selecionadas do acervo total de 870 obras catalogadas da Coleção da Fundação Edson Queiroz. Yolanda Vidal Queiroz – Momentos, por fim, é uma coletânea afetiva de obras da coleção pessoal da matriarca da família Queiroz.
Na 20a Unifor Plástica: Simultaneidades – A Arte Com A Palavra, chama a atenção a multiplicidade de assuntos e linguagens discutidos pelos artistas que nasceram ou vivem na região. A experiência local está na base do projeto. No vídeo Na Medida Em Que Caminho (Ou Notas Sobre Um Nome), por exemplo, Haroldo Saboia registra o deslocamento de uma região de semiárido para a serra, em ritmo dilatado, com textos de reflexão existencial, inseridos como legendas. Histórias esquecidas e ficções também são parte da exposição nos trabalhos de Virgínia Pinho, que apresenta fotografias e áudios que narram histórias de pessoas com hanseníase, que nos anos 1940 foram isoladas em campos de concentração. Na pintura No Início Era O Verbo E No Fim O Mundo Sem Fim, Julia Debasse cria um mapa ficcional que relaciona lendas e mitos da região, com muito bom humor.
Além da reunião de objetos pessoais e da vida doméstica, como roupas, objetos e outras coisas que permitem traçar paralelos entre sua história pessoal e o momento social, Yolanda Vidal Queiroz – Momentos apresenta a coleção bastante heterogênea construída por sua autora ao longo de mais de 40 anos. São exibidas lado a lado, sem hierarquia, peças religiosas de diversos momentos da história e lugares, como Índia, barroco brasileiro, pinturas cusquenhas e peças do modernismo brasileiro. Entre os modernos, há diversas e boas obras de José Pancetti e de Anita Malfatti, por exemplo. Pouco conhecidas, apresentam um “lado b” da história oficial.
Da Terra Brasilis à Aldeia Global 2a Edição apresenta um novo recorte da importante coleção, traçando uma narrativa que vai do século 16 até a produção contemporânea feita no Brasil. Segundo Cecília Bedê, assistente de curadoria, essa narrativa é problematizada nas visitas realizadas pelos educativos com as escolas e com a comunidade local, questionando as formas de representação e as narrativas oficiais.
A coleção foi formada de modo sistemático, reunindo obras de diversos períodos, tanto de artistas modernos como contemporâneos. Assim, a coleção oferece a possibilidade de o público conhecer os processos de trabalho de Adriana Varejão, Waltércio Caldas, Beatriz Milhazes, Leonilson, entre outros. Com obras dos períodos de formação e obras maduras, todos eles contam com uma boa representação na coleção. Este é um modo exemplar da prática de colecionismo, na medida em que o acompanhamento frequente e aquisição regular de obras é um meio de fomentar a pesquisa artística a longo prazo.
Mas a coleção não está apenas na área expositiva do Espaço Cultural Unifor. Ao percorrer os corredores da reitoria da Unifor (Universidade de Fortaleza), onde está alocada a Fundação, encontramos pinturas de diversos períodos de Alfredo Volpi, Candido Portinari, Antônio Bandeira, entre outros. Com a instalação das esculturas de Franz Weissmann, Amílcar de Castro e Afonso Tostes nos jardins e pátios da Universidade, alunos e visitantes podem ter um contato orgânico e cotidiano com a coleção. “Quando percebi que podia fazer uma mostra com obras que vão ‘da Terra Brasilis à aldeia global’, vi que não havia nada de aleatório na seleção de obras feita para a formação da coleção de Airton Queiroz”, diz à seLecT a curadora Denise Mattar. “Sempre houve ali a ideia de ter no Ceará uma coleção importante e representativa da arte brasileira”.
Há um projeto de construção de um museu ao lado do campus da Unifor, nos próximos anos, criando condições ideais de armazenamento de obras e visando a ampliação da coleção. Mas ao manter sua coleção sempre aberta ao público, promovendo diversos projetos sociais e educativos que buscam sanar problemas públicos no acesso à arte, a Fundação Edson Queiroz tem um papel fundamental na comunidade local. Além de atrair novos e recorrentes visitantes do Brasil afora, que podem conhecer aspectos inusitados de uma coleção a cada novo recorte.
Serviço
Fortaleza
Yolanda Vidal Queiroz – Momentos
Da Terra Brasilis à Aldeia Global
Unifor Plástica: Arte Cearense Em Destaque, exposições coletivas, até 1/3/2020, Espaço Cultural Unifor, Fundação Edson Queiroz, Av. Washington Soares, 1321 | unifor.br/fundacao-edson-queiroz