O projeto começou a ser acalentado há 15 anos: construir uma morada para grande parte da coleção de 5 mil itens que o colecionador paranaense Orandi Momesso vem formando há 50 anos. “Minhas obras são meus amigos e tenho que criar um lugar para eles, esse é o meu proposito”, diz ele à seLecT_ceLesTe. O Parque Geminiani Momesso é esse lugar. Localizado em área de cerca de 40 alqueires da fazenda de Momesso, no norte do Paraná, o parque foi aberto para convidados em uma espécie de soft opening, no final de outubro, por ocasião da inauguração da instalação Espaço Arco-Íris, do artista nipo-brasileiro Yutaka Toyota. Além da obra, realizada em celebração das relações entre Brasil e Japão, o lugar já conta com 60 esculturas a céu aberto de artistas como Rubem Valentim, Siron Franco, Sergio Romagnolo, Gilberto Salvador, José Rezende, Lluba Wolf e Claudio Tozzi.
“A obra do Ângelo é muito misteriosa. É um humanoide, ou um esqueleto de um animal, ou um tronco de árvore calcinado. Então, Iberê, que tem uma obra tão visceral, com a pintura O Homem com a Flor na Boca; depois o Serpa, da fase negra, com uma figura como que gritando por socorro, que poderia ser uma imagem dos conflitos que estamos vivendo hoje. E do outro lado, o Goeldi, com as ruas sempre desertas, os urubus, que poderiam estar olhando para a obra do Ângelo Venosa. E a vista da natureza pujante indica que há esperança”, completa.
Ainda que o apego à curadoria seja forte, ele conta com um comitê de diretores no recém-criado Instituto Luciano Momesso – a instituição é uma homenagem ao sobrinho, para a qual as obras, por ora em comodato, serão doadas. O grupo trabalha na composição de um programa educativo que contemple estudantes e famílias de Ibiporã, onde está localizado, e de municípios do entorno, como Londrina, Maringá, Cornélio Procópio, e a cidadezinha de Santa Mariana, onde Orandi nasceu, há 74 anos. “Há uma comunidade enorme aqui e também espero que as agências de viagens possam colocar o parque nos seus roteiros de visita à Foz do Iguaçu”, diz.

LIVROS E PAVILHÕES
Nos próximos dois anos, estão previstas as inaugurações de mais três galerias: o Pavilhão Sagrado, para abrigar a coleção de arte sacra; o Pavilhão A Mão do Brasil, com curadorias realizadas a partir da coleção de 1.000 peças de arte popular; e o Pavilhão Raphael Galvez, que abrirá para exposições temporárias.
A publicação de livros complementa o projeto de exposição e difusão pública da coleção. “A ideia de organizar publicações de artistas é também uma forma de compartilhar com o público recortes da coleção, que é super eclética; abrange arte colonial, mobiliários coloniais e modernos, prataria sacra, obras dos séculos 17 e 18 e arte moderna”.
Momesso editou um volume com um recorte da obra de Raphael Galvez; uma autobiografia do pintor e escultor da segunda fase do modernismo brasileiro; uma publicação sobre sua coleção de 70 obras de José Antônio da Silva; e outra sobre a produção do italiano Mick Carnicelli, que envolveu uma mostra retrospectiva no MAM-SP, com curadoria de Tadeu Chiarelli, em 2004. O próximo lançamento, concomitante à abertura do Pavilhão Sagrado, será um livro sobre a imaginária sacra dos séculos 16 a 19, com textos assinados por Carlos Lemos, especialista em arte sacra.
Paula Alzugaray, diretora de redação da seLecT_ceLesTe, viajou a convite do Parque Geminiani Momesso

