icon-plus
Postado em 09/01/2023 - 6:13
Conhecimentos e imaginários
Projetos e verbetes do Instituto Itaú Cultural ressaltam ideias e pensadores indígenas, propondo pontes entre suas origens e o mundo ocidental

PROJETOS

MEKUKRADJÁ – CÍRCULO DE SABERES: LÍNGUA, TERRA E TERRITÓRIO
A segunda edição do Círculo de Saberes Indígenas foi realizada em outubro de 2017, em São Paulo, e contou com consultoria de Daniel Mundukuru e Junia Torres na organização de palestras, debates, oficinas e mostras de filmes. Mundukuru e Alcione Pauli ofereceram uma oficina de literatura indígena, enquanto Alberto Tavares ministrou uma de vídeo e fotografia etnográficos. Na mostra de filmes, Conversas no Maranhão (1983), de Andrea Tonacci, e Martírio (2015), de Vincent Carelli, foram apresentados na instituição. Entre os temas centrais dos debates e palestras, programação que contou com nomes como Tonico Benites, Darlene Taukane e Anápuáka Tupinambá, estavam as tensões territoriais, a preservação das tradições e as pressões por políticas públicas.

Em sua apresentação, a advogada Fernanda Kaingáng (foto) comenta como seu povo tem uma concepção dualista, dividindo a organização social em duas grandes famílias: dos kamé, que são noturnos, lunares e guerreiros, e dos kairu, que são os xamãs e intelectuais da sociedade, solares e diurnos. Segundo ela, os Kaingáng são o terceiro maior povo indígena do país, com 45 mil pessoas nas regiões Sul e Sudeste, passando por problemas territoriais que afetam seus padrões nutricionais e de saúde. “Nós comíamos plantas não convencionais que cresciam nas sombras das araucárias e que eram muito nutritivas. Isso foi substituído pelo recebimento de cestas básicas que vêm com trigo envenenado por agrotóxicos, gerando obesidade e hipertensão”, relata.

DAVI KOPENAWA – SEMINÁRIO ARTE, CULTURA E EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA
Ao apresentar como funcionam as dinâmicas de ensino e aprendizado para os Yanomâmi, Davi Kopenawa (foto), importante liderança indígena, mostra como isso inclui os cantos, as festas e as danças. Os afetos e as formas de comunicação, como falar e ouvir, também são partes desses ensinamentos que compreendem o sofrimento e a alegria como formas de identificar o bem e o mal. Essa compreensão histórica das formas de pensar indígenas permite ver como as relações entre o micro e o macro, o próximo e o distante, o submerso e o que está na superfície estão em constante interação. Diferentemente de objetos estáticos e isolados, o pensamento Yanomâmi compreende os fluxos e as conexões entre as coisas, buscando cuidar desses processos para a manutenção da vida. O seminário Arte, Cultura e Educação na América Latina também contou com a participação de outros especialistas em educação, como Stela Barbieri, Ana Mae Barbosa, Everson Melquiades e Roxana Pineda.

[Foto: Divulgação]

VERBETES

PATRICIA FERREIRA MBYÁ
Cineasta e pesquisadora, é natural do povo Mbyá-Guarani, que vive na fronteira entre Argentina e Brasil. Produz e ensina cinema através do projeto Vídeo nas Aldeias e é umas das fundadoras do Coletivo Mbyá-Guarani de Cinema, pelo qual dirigiu filmes como Bicicleta de Nhanderú (2011). O documentário trata da espiritualidade do povo Mbyá-Guarani e é codirigido por Ariel Ortega. A cineasta também assina o documentário experimental TekoHaxy (2018), em parceria com a diretora Sophia Pinheiro. Essa obra trata do encontro entre duas mulheres, uma indígena e outra não, para discutir suas semelhanças e pontos de contato, mesmo vivenciando cotidianos culturalmente diferentes.

CRISTINO WAPICHANA
Escritor e músico natural de Roraima, colabora para a difusão da cultura indígena para crianças e jovens através da organização de atividades recreativas e de sua produção literária. É produtor do Encontro de Escritores e Artistas Indígenas e, em 2007, foi premiado no 4º Concurso Tamoios de Literatura pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) com o texto A Onça e o Fogo. Entre seus títulos publicados estão A Oncinha Lili (2014) e A Boca da Noite (2016), que leva para as crianças o cotidiano e a poesia do povo Wapichana ao narrar a aventura dos irmãos Dum e Kupai, que querem descobrir o que acontece com o Sol, quando chega a noite.

[Foto: Chris Rufatto]

RONI WASIRY GUARÁ
Professor, é formado em Pedagogia Intercultural Indígena e escritor de livros infantojuvenis. Vindo do Baixo Amazonas, do povo Maraguá, foi vencedor do 8º Concurso FNLIJ Tamoios de Textos de Escritores Indígenas. Entre seus títulos estão Olho d’Água – O Caminho dos Sonhos (2012), A Árvore da Vida (2014) e Mondagará – Traição dos Encantados (2019), que descrevem a relação dos indígenas com a natureza e com a ancestralidade antes da chegada do homem branco e como, a partir desse contato, surgiram tragédias como a devastação e a miséria.