Não é cedo nem tarde, é a hora. 500 anos esperando o gigante acordar para chegar em “um lugar” que, se houvesse acontecido de alcançar, certamente não seria original e tampouco faria sentido. Seria cópia. E novamente seria cedo ou tarde demais para uma explosão. Não! É tempo! Só não é tempo de ficar paralisado.
Reconhecendo o crítico contexto socioeconômico, a crescente injustiça social e o anúncio do fim de políticas governamentais de proteção aos direitos das minorias e dos recursos naturais, um projeto desenvolvido com, para e na Pequena África tem como objetivo tanto avistar gestos de resistência diante da desumanização do presente como contribuir na estruturação de um pensamento sobre as mudanças de paradigmas também no campo expandido da arte.
Para tanto, apresenta um movimento coletivo em um espaço comum, um boteco, com diversas estações de experimentações em diferentes campos do saber que colaboram para a potencialização das subjetividades de seus participantes, majoritariamente locais e de baixa renda, para seu desenvolvimento físico/intelectual e psíquico, através da convivência em um ambiente saudável, seguro, digno e rico nas diferenças e diversidades, favorecendo a troca de aprendizados e criando espaços-tempos sem violência.
Oferece a oportunidade para a comunidade vivenciar as potencialidades da expressão artística na contemporaneidade de uma forma não institucional, onde o sujeito não é um visitante, um turista em seu próprio território. Isso não significa que o projeto é menos rico em referências e valores, muito pelo contrário. Ele surge de dentro para fora, não se querendo um estranho no ninho, mas sim um dispositivo verdadeiramente local, que fala a linguagem do seu território, que não violenta seu capital cultural, que não faz somente uma entrega de qualquer natureza. Ele é antes de tudo um processo de aprendizado coletivo desde o início, de troca e de escuta entre todos os seus interlocutores: articuladores, crianças, jovens, adultos, artistas, trabalhadores, professores, pesquisadores, vizinhos, amigos e parceiros nos propósitos de bem-estar social.
A rede e os afetos já garantidos pelos três anos de desenvolvimento do projeto Lanchonete<>Lanchonete na Pequena África, área que engloba os bairros Saúde, Gamboa e Santo Cristo, na região central da cidade do Rio de Janeiro, além do compartilhamento de suas experiências, vivências e métodos, se lançam em um novo desafio: a organização de uma cooperativa-escola.
Para os articuladores do projeto, que certos do quanto este movimento potencializa a interação entre a comunidade e outras áreas da cidade – e que, uma vez apropriados e participantes do processo, ganharão autoestima, maior sentimento de pertencimento, se tornarão autônomos e emancipados das diversas correntes de exclusão – buscam agora recursos e apoio para se atualizar de novo no espaço-tempo, onde nunca é cedo nem tarde demais. Só é o tempo de agir e fazer outra escola, livre, politizada e de constituição de sujeitos criativos, críticos, propositivos e saudáveis.
É tempo de inventar modelos de redução de danos em um plano intergeracional de médio-longo prazo, como deve ser qualquer programa preocupado em de fato propor mudanças definitivas no tecido social.
Não é cedo nem tarde demais. É a hora.