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Retrato de John Giorno ao telefone [Foto: Giorno Poetry Systems]
Postado em 12/03/2025 - 3:16
Delivery de poesia
Paisagens eróticas pelo telefone, em reedição de projeto sonoro do novaiorquino John Giorno

“A poesia não é, não deve e não pode estar confinada ao mundo impresso”, disse o artista novaiorquino John Giorno quando começava a experimentar com uma mídia que não era das mais novas. Pelo Telefone, de autoria de Donga e Peru dos Pés Frios, foi dos primeiros sambas gravados no Brasil, em 1916, e muito pouco depois disso, nos anos 1920, do outro lado do planeta, o artista húngaro László Moholy-Nagy já encomendava pinturas pelo telefone.

Hoje não se fala mais ao telefone. No máximo, pra chamar uma pizza. Mas em 1968, quando John Giorno começou a entregar por telefone “poesia instantânea”, lida por uma turma de amigos artistas e poetas, o projeto Dial-a-Poem foi absorvido pelo MoMA e, em 1970, ganhou uma versão na antológica exposição Information, organizada por Kynaston McShine.

Vista da exposição SIT IN MY HEART AND SMILE na coleção moraes-barbosa, onde foi lançada a versão brasileira de Dial-A-Poem [Foto: Ding Musa/ cortesia coleção moraes-barbosa]
Hoje, a preferência é textar a falar. Mas temos um bom motivo para abrir o aplicativo do telefone e apertar as teclas 11-50391344. Após ouvir a voz sinuosa de Giorno, que parece vir diretamente de 1968, sussurrando aos ouvidos em um contato quase intimista, escuta-se um poema lido por um dos 54 escritores e artistas convidados pela coleção moraes-barbosa (cmb) a participar da reedição do projeto. O uso que os artistas da versão original, como John Cage, fizeram do projeto Dial-a-Poem, foi certamente atemporal. E é precisamente seu caráter libertário que interessa a curadora Marcela Viera, autora da seleção de poetas para versão brasileira.

A experiência da escuta também pode ser performática. Assim, por uma semana, consumi poesia no café da manhã sobre uma toalha xadrez verde e branca. Na segunda-feira, calminha, uma estrela d’alva matinal atravessou minha cama. Na terça-feira, entramos em abril, o mais cruel dos meses. Na quarta-feira, ouvi que tudo são flores, que os caralhos são flores. Na quinta feira, músicaaaahhhh. Na sexta feira, perdi a cabeça para um atirador de facas e não tenho mais cabeça para outro assunto. No sábado, ouço paisagens pelo telefone. Domingo, há mulheres que dizem. (Estes são fragmentos de textos lidos por Fabrício Corsaletti, Luís Capucho, Júlia Rocha e Gustavo Galo, Eucanaã Ferraz, Eliane Robert Moraes e Marília Garcia, ligeiramente modificados pela memória da ouvinte).

Foto: Paula Alzugaray/ celeste

Serviço
Dial-a-Poem Brasil
Curadoria Marcela Vieira
coleção moraes-barbosa e Giorno Poetry Systems
+55 11 50391344
Recomendado para maiores de 18 anos
moraes-barbosa.com/Exposicoes_JG-Dial-A-Poem