“A poesia não é, não deve e não pode estar confinada ao mundo impresso”, disse o artista novaiorquino John Giorno quando começava a experimentar com uma mídia que não era das mais novas. Pelo Telefone, de autoria de Donga e Peru dos Pés Frios, foi dos primeiros sambas gravados no Brasil, em 1916, e muito pouco depois disso, nos anos 1920, do outro lado do planeta, o artista húngaro László Moholy-Nagy já encomendava pinturas pelo telefone.
Hoje não se fala mais ao telefone. No máximo, pra chamar uma pizza. Mas em 1968, quando John Giorno começou a entregar por telefone “poesia instantânea”, lida por uma turma de amigos artistas e poetas, o projeto Dial-a-Poem foi absorvido pelo MoMA e, em 1970, ganhou uma versão na antológica exposição Information, organizada por Kynaston McShine.
A experiência da escuta também pode ser performática. Assim, por uma semana, consumi poesia no café da manhã sobre uma toalha xadrez verde e branca. Na segunda-feira, calminha, uma estrela d’alva matinal atravessou minha cama. Na terça-feira, entramos em abril, o mais cruel dos meses. Na quarta-feira, ouvi que tudo são flores, que os caralhos são flores. Na quinta feira, músicaaaahhhh. Na sexta feira, perdi a cabeça para um atirador de facas e não tenho mais cabeça para outro assunto. No sábado, ouço paisagens pelo telefone. Domingo, há mulheres que dizem. (Estes são fragmentos de textos lidos por Fabrício Corsaletti, Luís Capucho, Júlia Rocha e Gustavo Galo, Eucanaã Ferraz, Eliane Robert Moraes e Marília Garcia, ligeiramente modificados pela memória da ouvinte).

Serviço
Dial-a-Poem Brasil
Curadoria Marcela Vieira
coleção moraes-barbosa e Giorno Poetry Systems
+55 11 50391344
Recomendado para maiores de 18 anos
moraes-barbosa.com/Exposicoes_JG-Dial-A-Poem