Durante a 14ª edição ArtRio, a celeste conversou com curadores de instituições culturais internacionais que vieram ao Brasil a convite do Latitude, uma parceria entre a ApexBrasil e a ABACT.
Nora Lawrence, diretora artística e curadora-chefe do Storm King Art Center, demonstrou um olhar apurado sobre as esculturas da feira. O Storm King, fundado na década de 60, é um museu a céu aberto em Nova Iorque que abriga uma ampla coleção de esculturas modernistas e contemporâneas, espalhadas por um jardim de mais de 200 hectares.
A curadora também trabalhou no Departamento de Pintura e Escultura do MoMA, National Gallery of Art, em Washington, e no P.S.1 Contemporary Art Center, em Nova York.
Em sua primeira visita ao Brasil, Nora reflete sobre os desafios da abordagem dos museus acerca das mudanças climáticas e os destaques de esculturas e instalações durante seu percurso da feira carioca.
Confira a entrevista na íntegra:
A exposição Indicators: Artists on Climate Change (2018) simbolizou um grande ponto de virada na perspectiva das instituições culturais sobre as mudanças climáticas. Quais critérios foram mais importantes ao escolher as abordagens da mostra relacionadas ao clima?
As mudanças climáticas são um tema tão amplo que pode se tornar esmagador – e sentir-se sobrecarregado não leva à contemplação, mas sim à apatia. Ao fazer uma exposição sobre o clima, achei importante reunir muitas perspectivas individuais específicas e demonstrar várias maneiras pontuais pelas quais os artistas abordam essa questão crítica. Muitas dessas obras se concentraram em situações locais dos próprios artistas: por exemplo, o projeto de Gabriela Salazar teve como tema o impacto duradouro e destrutivo do Furacão Maria em Porto Rico; a obra de Allison Janae Hamilton abordou os legados da destruição climática – bem como respostas culturais específicas a ela – no norte da Flórida. Os artistas têm a capacidade de trazer questões à tona e nos pedir para dedicar tempo às suas perspectivas. Isso pode ser um meio muito poderoso de estimular o público a um estado de atenção e conscientização.
Qual é a sua perspectiva sobre a abordagem dos museus ao redor do mundo sobre as mudanças climáticas?
Acredito que museus e espaços expositivos demoraram um pouco para acompanhar o incrível trabalho que os artistas já vêm realizando há algum tempo sobre as mudanças climáticas. No entanto, agora há múltiplas perspectivas artísticas sendo compartilhadas em todo o mundo sobre esse tema, e acho que isso representa uma grande mudança. Os museus também estão destinando fundos para mudanças arquitetônicas ou estruturais em seus espaços e infraestruturas, muitas vezes liderando projetos climáticos na área da arquitetura – acho isso fantástico. Subvenções estão sendo concedidas para projetos relacionados ao clima, o que é extremamente útil – elas servem como aceleradores para mudanças positivas.
O parque de esculturas do Storm King Art Center tem a capacidade de criar diálogos únicos entre arte e meio-ambiente. Como você enxerga essas possibilidades ao desenvolver ou comissionar novos projetos na instituição?
Cada comissão no Storm King se relaciona e interage com o ambiente ao seu redor. Um dos meus maiores prazeres no trabalho é a maneira como ele me permite considerar e investigar novos locais com os artistas, em preparação para que suas obras sejam exibidas. Trabalhar como curadora no Storm King é um processo de verdadeira colaboração artística.
Em relação ao programa dedicado aos artistas emergentes, há um olhar para estrangeiros? E para a América Latina?
Não temos um foco específico em nenhuma região geográfica, mas trabalhamos com muitos artistas internacionais incríveis, incluindo artistas da América Latina. Foi um privilégio e um prazer conhecer tantos artistas brasileiros aqui na ArtRio e aprender mais sobre as práticas de tantos outros. Também temos novas comissões planejadas com artistas latino-americanos para o Storm King, então fique atento a futuros anúncios.
Você já esteve no Brasil antes? Quais aspectos a atraem no cenário da arte contemporânea brasileira?
Esta é a minha primeira vez no Brasil. Fiquei impressionada com a amplitude das práticas dos artistas contemporâneos brasileiros, bem como com o apoio e a estrutura esmagadores que aqueles envolvidos no mundo da arte aqui fornecem para que esses artistas prosperem.
Quais foram as esculturas ou instalações que você mais gostou na ArtRio 2024?
Adorei muitas das obras que vi. Gostei muito das esculturas de artistas como Laura Lima, Joana Vasconcelos e Andrey Guaiana Zignnatto. Amei o estande individual de Bruno Faria e a oportunidade de aprender sobre o seu trabalho.