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When Two Places Look Alike (2012-2013), uma série de fotografias que compara Belterra e Alberta (Foto: Cortesia de Clarissa Tossin)
Postado em 30/01/2017 - 6:47
Dois em um
Exposição de Clarissa Tossin, nos EUA, apresenta a complexidade do mundo através do avizinhamento de opostos
Ana Abril

Já conhecida no Texas e na costa oeste dos Estados Unidos, Clarissa Tossin cruza o país para apresentar a mostra Stereoscopic Vision (Visão Estereoscópica), na Ezra and Cecile Zilkha Gallery, em Connecticut. O nome da mostra faz referência à dualidade conceitual dos trabalhos selecionados pelas curadoras Judith Hoos Fox e Ginger Gregg Duggan. “Elas quiseram enfatizar como o trabalho apresenta a complexidade de certas questões através do avizinhamento de opostos: natural e produção em massa; duas e três dimensões; economias co-dependentes; intenção e acaso; Brasil e Estados Unidos e assim por diante”, explica a artista brasileira radicada nos Estados Unidos.

De certo modo, a mostra é uma pesquisa da produção de Tossin nos últimos sete anos relacionada à estereoscopia, técnica usada para obter informações do espaço tridimensional através da análise de duas imagens obtidas em pontos diferentes. When Two Places Look Alike (2012-2013), uma série de fotografias que compara Belterra – cidade criada por Henry Ford na floresta amazónica brasileira – e Alberta – uma localidade de Michigan -, exemplifica claramente o conceito que nomeia a mostra. Apesar de estarem separadas por milhares de quilômetros, ambas cidades compartilham um tipo de habitação específico e um passado em comum: construídos em 1935, os municípios eram provedores de matérias primas da companhia automobilística Ford.

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Transplanted (VW Brasilia), de Clarissa Tossin (Foto: Edouard Fraipont)

 

Ainda relacionado com o mundo do carro, Transplanted (VW Brasilia) (2012) consiste em um molde de látex de um Volkswagen Brasília, que sem a carcaça lembra à pele humana. Os traços antropomórficos da instalação são usados pela artista para criticar o consumismo da sociedade, fazendo uma analogia com a terceira pele que cobre o homem moderno, neste caso, o carro. A escolha pelo uso do látex faz referência aos processos industriais. Dessa forma, humano e máquina se fundem em um mesmo elemento.

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Monument to Sacolância (2010) (Foto: Cortesia da artista)

 

A artista Clarissa Tossin, que já participou da ArtRio 2016, imprime carácter histórico e de forte crítica social a suas criações. Tendo como protagonista um dos locais mais representativos de Brasília, cidade na qual Tossin passou sua infância, o trabalho Monument to Sacolância (2010) relata um processo de gentrificação. O Palácio da Alvorada, residência do presidente do Brasil, foi o primeiro prédio edificado por Oscar Niemeyer na cidade planejada. Para construir o lago Paranoá que rodeia os jardins de palácio, houve a expulsão dos moradores de Sacolância, uma comunidade batizada assim por erguer seus barracos com sacos de cimento. O trabalho da artista consiste em um modelo do Palácio feito de saco de cimento sobre uma jangada. A reprodução foi lançada sobre o lago Paranoá com os jardins do Palácio ao fundo e a ação foi documentada com fotografias, um vídeo e uma série ilimitada de cartões-postais.

Mais sete obras completam a mostra Stereoscopic Vision, em cartaz até 5 de março.