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Vista da exposição Noite. Inextinguível, inexprimível noite. (Foto: Divulgação)
Postado em 14/07/2017 - 11:15
E nada está resolvido
Em sua nova individual, o artista português Tiago Mestre escapa de limitações e aposta na ambiguidade
Luana Fortes

Em sua primeira individual na Galeria Millan, Tiago Mestre desprende-se das apenas duas dimensões e passa a se enredar pela terceira. O artista português ocupou as salas do espaço com propostas tão diferentes que quase parece inadequado falar, simplesmente, que todas elas trazem objetos escultóricos.

Ao entrar na exposição, depara-se com o título “Noite. Inextinguível, inexprimível noite.” e, de saída, sabe-se que o mistério é premissa do que virá a seguir. Seus objetos espalham-se por diferentes mecanismos de exposição que sozinhos já podem ser considerados trabalhos de arte. Se no andar de cima, totens suspendem ao olhar do público peças em argila, gesso e bronze, no andar de baixo, um lago preto funciona como espaço expositivo particular, dentro do qual se organizam obras de arte.

Vista da exposição Noite. Inextinguível, inexprimível noite. (Foto: Luana Fortes)

 

“Em meu trabalho, eu procuro fugir do espaço expositivo tradicional e criar uma auto organização que seja um pouco independente da galeria. Tentei criar uma nova ordem. As espécies tiveram que se articular com essa nova ordem. Não só diante do elemento central, mas entre elas também”, conta Mestre para a seLecT. E mesmo ao olhar apenas para uma dessas espécies, semelhante situação é perceptível – talvez por isso todas tenham título próprio.

Seus objetos apresentam uma qualidade de esboço, ao mesmo tempo em que indicam claras intenções. O artista busca criar uma tensão entre acaso e intencionalidade. Nesse sentido, ao caminhar em volta do lago negro, que criou com referência às piscinas modernistas brasileiras, talvez reconheça a figura de uma planta ou de um cristal. No entanto, talvez também não reconheça forma alguma.

Vista da exposição Noite. Inextinguível, inexprimível noite. (Foto: Luana Fortes)

 

Vista da exposição Noite. Inextinguível, inexprimível noite. (Foto: Luana Fortes)

“Uma coisa que eu penso que meu trabalho traz é a disrupção entre os elementos. Como uma flutuação, intencional e não acidental, entre os estatutos de ser às vezes quase material, às vezes quase objeto, às vezes quase arquitetura. E não necessariamente um ou outro”, pondera.

Escolheu o título “Noite. Inextinguível, inexprimível noite.”, emprestado do poema Lugar II, de Herberto Helder, pois gostaria que a exposição tivesse mais uma atmosfera do que uma assertividade. Essa noite não apresenta definições ou respostas, mas, sim, incógnitas. “É o momento antes da forma se fixar. É uma ambiguidade sensual, em que a forma está em potência e nada está resolvido”, completa Mestre.

Serviço
Noite. Inextinguível, inexprimível noite.
Galeria Millan
Rua Fradique Coutinho, 1360/1416
Até 12/8
galeriamillan.com.br