Na mesa em que mediou conversa entre os fotógrafos Felipe Russo, Tuca Vieira e Tetawaki Nio, a artista e crítica Giselle Beiguelman (do conselho editorial de seLecT) citou Hito Steyeri, artista da 32ª Bienal de São Paulo: “A câmera é hoje não mais instrumento de documento, mas de projeção do sujeito no espaço”.
Essa qualidade da fotografia como intenção e projeção de questões pessoais está presente no trabalho de Claudio Edinger com foco seletivo. O fotógrafo, que ministra um workshop no Valongo Festival Internacional da Imagem, em Santos, SP, ressalta a importância da síntese e da redução de elementos na composição de uma imagem, porém, sugere um paradoxo. “Muitas vezes o que está em foco tem muito menos importância e diz menos do que o que está fora da área de foco”, disse Edinger a seLecT.
O resultado dessa técnica aproxima o olhar da lente objetiva ao funcionamento do olho humano. “Nessa imensa área que rodeia o ponto focal, é onde está localizada a fantasia”, diz ele. Além disso, no campo expandido das associações entre fotografia e psicanálise, ao desfoque pode se associar o esquecimento. E ao foco, a memória. Muito há o que se ler, portanto, nas imagens de Edinger. Mas, aqui no Valongo, ele é quem empreende leituras das imagens dos fotógrafos inscritos no workshop.