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Postado em 12/11/2011 - 10:46
Escrita cursiva
Giselle Beiguelman

Com mais de 2 mil anos nas costas, ela, a letra cursiva, que trazia a velocidade inscrita no seu próprio nome, tornou-se lenta e elitista diante da digitação

Cursiva

Fruto da longa história das técnicas de registro e da comunicação humanas, a escrita cursiva floresceu no Império Romano. Alongada e ligeiramente inclinada, era agregadora: nas suas linhas, as letras viviam ligadas umas às outras. Com vocação popular, era a preferida da forma cotidiana de escrever.

Aos poucos, ela desbancou suas avós, mãe, irmãs e primas, escritas trabalhadas e luxuosas que habitavam os livros e monumentos e só sabiam se fazer ouvir em maiúsculas. Ganhou a Europa, a partir da Idade Média, e sofreu, ao longo dos séculos, diversas simplificações e adequações locais, respondendo à necessidade de agilizar a transmissão e documentação de informações, à emergência de novos centros de poder e ao paulatino alargamento dos horizontes de acesso ao saber.

Já não era musa de pedagogos desde os anos 1920. Professores alertavam que os alunos, por serem alfabetizados com livros, deveriam aprender a escrever em letras bastão (de forma), tendência que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial. Apunhalada de frente no estado de Indiana, nos EUA, em 2011, foi ali mesmo desenganada pelos especialistas do Departamento de Educação, que liberaram seus pupilos da necessidade de conhecê-la. Com mais de 2 mil anos nas costas, ela, que trazia a velocidade inscrita no seu próprio nome (cursiva vem do latim cursus, movimento rápido), tornara-se lenta e elitista diante da digitação.

Publicado originalmente na edição impressa #2.

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