Inspirado pela seção Ficções, da Revista Celeste, propus Fabulatório, um laboratório de escrita fictícia que aconteceu entre abril e junho de 2024. Durante os encontros online, estudos de casos entre arte e literatura instigaram conversas sobre as especificidades da ficção na arte, levantando questões como: com quais tipos de texto, de dispositivos além do verbal (imagens, objetos, ações, intervenções etc.) e de estratégias persuasivas se constrói ficções na arte contemporânea?; se a ficção científica é um gênero onde questões tecno-científicas balizam o universo da narrativa, seria possível uma “ficção artística”, com códigos, contextos, procedimentos e vocabulários da arte?; se, a partir dos anos 1990, a autoficção se tornou um gênero, seria possível pensar na autoficção como escrita do processo artístico ou de criação?; seria possível uma crítica tratada como texto literário, ficção ou autoficção?
O laboratório foi também um lugar de interlocução para que cada participante criasse um texto que é, agora, publicado no site.
Experimentando possibilidades literário-fictícias de produção teórica, Ana Elisa Lidizia, Camila Alba, Fabiana Alcantara e Silvia Zanatta Da Ros fabulam o texto crítico, a entrevista, a escrita historiográfica e a reportagem para que essas categorias de escrita expressem não só o conhecimento de cunho factual e científico, mas também o conhecimento que só a ficção, ao espelhar o real de modo irreal, é capaz de imaginar.
Referenciando-se em seus trabalhos artísticos em vídeo, objeto e foto-performance, Rodrigus Pinheiro e Vanessa Freitag criam textos que ao mesmo tempo em que desdobram suas obras no espaço verbal, se descolam dessas referências plásticas para serem narrativas autônomas.
Andrea V. Zanella, Claudio Moreira e Sandro Clemes partem de experimentações com instrumentos como a apropriação, o esboço de situações e personagens e a relação cênica do texto com a página para escritas híbridas que transitam entre peça, poema e texto-instalativo.
As ficções escritas em Fabulatório, agora publicadas aqui, sugerem um panorama de possibilidades fictícias transpassadas por questões plásticas, a partir das fabulações instigadas pelo campo de interesse de cada participante.
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Fabio Morais (São Paulo, 1975) é artista plástico. Trabalha entre os espaços expositivo e editorial fundindo visualidade e escrita ao experimentar a plasticidade e a espacialidade da linguagem na ficção, na história, nas estórias e na narrativa. Desde 1999 atua nos circuitos de arte brasileiro e internacional. Sua mais recente exposição individual foi Gráfico Fágico (2024), no Cabinet du Livre d’artiste, em Rennes, na França. É mestre e doutor em Artes Visuais pela UDESC, com dissertação e tese sobre a escrita como obra no campo da arte e atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado na ECA-USP sobre escrita em vídeo.