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Fac-Símile do periódico Ostara, editado por Liebenfels, que aludia aos Cavaleiros Templários e disseminava ideias sobre uma raça mestra ariana destinada a assumir o poder totalitário. Acredita-se hoje que Hitler tenha sido um leitor habitual (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
Postado em 16/11/2016 - 4:06
Fascistas secretos
Na virada do século 19 para o 20, nasceu na Áustria a Ariosofia, uma sociedade secreta que se transformou em uma grotesca fantasia de massa e formou as raízes ocultas da ideologia nazista
Jörg Heiser

Primavera de 1908, Áustria, a 50 quilômetros de Linz, seguindo o curso do Rio Danúbio. Algumas centenas de convidados chegam em um navio a vapor vindo de Viena e são recebidos por salvas de canhão do castelo medieval embandeirado sobre a colina, o Burg Werfenstein. Os viajantes se refrescam nos pubs locais, antes de participar de um concerto comemorativo no pátio do castelo: canto coral e fogueira até tarde da noite. O evento é relatado nos jornais nacionais.

Tudo parece bastante inofensivo. Mas o dono do castelo, um certo Jörg Lanz von Liebenfels, dirige uma sociedade sectária chamada Ordo Novi Templi (ONT), a Ordem dos Novos Templários, que se refere aos Cavaleiros Templários medievais. Seu programa, formulado em dezembro de 1907 e publicado na revista Ostara, promove uma visão de mundo “ariana” claramente racista, com pesquisa de ancestralidade genealógica e heráldica e concursos de beleza que seguem critérios raciais. No Natal de 1907, uma bandeira com a suástica foi içada sobre o castelo.

A história de vida de muitos antecessores ideológicos do futuro movimento nazista flui ao longo do Danúbio e seus afluentes: de Viena a Werfenstein e Linz, seguindo por Salzburgo e até Munique – a “capital do movimento”, como Adolf Hitler a chamou mais tarde. Eram ocultistas sectários que depositaram as sementes da colheita de Hitler: Guido von List e o mencionado Lanz von Liebenfels. Outro sectário de mentalidade semelhante tornou-se mais tarde membro do círculo íntimo de Hitler: o SS-Oberführer (coronel das SS) Karl Maria Weisthor. Ele foi assessor de Heinrich Himmler em assuntos ocultistas e supersticiosos, uma espécie de Rasputin do Reichsführer. Seguindo a liderança de Weisthor, a organização de elite do Terceiro Reich operava com símbolos e ritos ocultistas, revestindo o assassinato em massa e o Holocausto industrial de uma aura de missão superior.

Cartão-postal do Burg Werfenstein, local de encontro de ocultistas sectários que no início do século 20 promoviam visão de mundo "ariana" (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
Cartão-postal do Burg Werfenstein, local de encontro de ocultistas sectários que no início do século 20 promoviam visão de mundo “ariana” (Foto: Cortesia Jörg Heiser)

A empreitada começa na Viena do fin de siècle. Com sua vitória na guerra alemã de 1866, a Prússia realizou a chamada “Pequena Solução Alemã”: uma Alemanha sob a liderança da Prússia, mas excluindo a Áustria. Assim, a fundação da dupla monarquia da Áustria-Hungria foi indiretamente forçada. O estabelecimento desse novo império real e imperial resultou automaticamente na dominação demográfica das partes não germânicas da sociedade no interior de suas fronteiras, com a formação de novos círculos pangermânicos que ressentiam a ideia de um Estado multiétnico, e para os quais o fracasso da “Grande Solução Alemã” – a unificação da Prússia com a Alemanha e a Áustria – era uma constante fonte de insultos e injúrias.

Até o fim do século 19, esses grupos se solidificaram cada vez mais em movimentos völkisch – nacionalistas, racistas e segregacionistas –, que defendiam uma visão de mundo estritamente antissemita, germânico-machista e antidemocrática. Mais ou menos na mesma época formou-se – de Londres a Nova York – um movimento ocultista e esotérico, a teosofia, sob a liderança da russo-germânica Helena Blavatsky. Práticas espíritas como as sessões mediúnicas faziam parte disso, mas, para Blavatsky, o mais importante era a mistura de motivos religiosos orientais, incluindo hinduístas e budistas, com a gnose judaico-cristã dos séculos primeiro e terceiro (da Cabala ao Hermetismo).

O aspecto importante era a ideia de um acesso privilegiado a revelações que só poderiam ser alcançadas por meio de certas técnicas de meditação, antigos ritos de iniciação e conhecimento secreto, qual seja, magia (para uma perspectiva mais detalhada da influência e das visões de Blavatsky do que seria possível no âmbito deste artigo, ver o ótimo livro de Gary Lachman, Madame Blavatsky: The Mother of Modern Spirituality, 2012). De maneira crucial, Blavatsky desenvolveu a noção das cinco “raças-raízes”, discernindo a história humana em sete etapas de desenvolvimento, sendo a quinta a “ariana”, na qual vivemos atualmente. A anterior, segundo ela, terminou milhões de anos atrás, com a queda da Atlântida.

De Blavatsky a Senhor dos Anéis
Foi contra esse pano de fundo que se desenvolveu uma grotesca fantasia em massa, embora sob os auspícios de um conhecimento secreto supostamente exclusivo. Seu nome, de som distinto e inofensivo, era Ariosofia. Seu primeiro proponente foi Guido von List, um homem que publicou compulsivamente textos völkisch. A ideia teosófica das raças-raízes e de uma era ariana foi algo que Von List adotou alegremente e transformou em seu próprio sistema ideológico, substituindo os componentes “hindus” de Blavatsky por outros germânicos.

List era filho do comerciante de couros vienense Karl Anton List, e Guido só adotou o falso “von” de nobreza após a morte do pai. Esse estranho desejo de nobreza, decorrente de uma linhagem de ancestralidade germânica, tornou-se típica para muitos líderes e discípulos dos grupos ariosóficos. Em sua obra-padrão de excelente pesquisa As Raízes Ocultas do Nazismo (2004), o historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke, especialista em grupos ocultistas, menciona incontáveis nomes obscuros que soam típicos de sua época por serem grotescamente excêntricos e parodisticamente poéticos, como Ottokar Stauf von der March, Wilhelm von Pickl-Scharfenstein (barão Von Witkenberg), Harald Arjuna Grävell von Jostenoode, ou Frodi Ingolfson Wehrmann. Eles soam quase como uma lista de personagens de Game of Thrones. Especialmente o último: Frodi é o nome de um antigo rei mítico, que aparece tanto nas Eddas da Islândia quanto no épico Beowulf, transformado em “Frodo” por J.R.R. Tolkien para seu O Senhor dos Anéis. E, obviamente, isso levanta suspeitas de que um bom número desses senhores acima citados simplesmente inventou sua suposta linhagem ariana e cavalheiresca. A invocação de uma genealogia germânica de sangue azul serve como uma forma fantasmagórica de autoconsolo para aqueles em solo austríaco que se sentiram excluídos da “Pequena Solução Alemã”.

Em comparação, o nome de Guido von List é modesto, mas ele é ainda mais ousado na fabricação de sua própria ascendência. Analisado pelo arquivo de registro da nobreza de Viena, ele “prova” seu título com um anel de sinete que ostenta o brasão de um cavaleiro do século 12, Burckhardt von List. Parte da fama posterior de List veio de ele ter anunciado que era vidente e podia enxergar muito atrás no passado germânico. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, ele previu uma vitória gloriosa, o que o obrigou a reinterpretar a derrota de 1918 como uma catástrofe necessária no caminho para a iminente salvação dos ario-germânicos.

Madame Helena Blavatsky, lider de um movimento esotérico formado no fim do século 19, e autora de ideias teosóficas que foram apropriadas e deturpadas por Guido von List na composição de sua doutrina antissemita (Foto: Wikimedia)
Madame Helena Blavatsky, lider de um movimento esotérico formado no fim do século 19, e autora de ideias teosóficas que foram apropriadas e deturpadas por Guido von List na composição de sua doutrina antissemita (Foto: Wikimedia)

Os escritos de List foram instantaneamente convertidos em clássicos no meio völkisch, especialmente sua novela Carnuntum (1888), em que ele conta a história de um ataque fictício de tribos germânicas à cidade romana de Carnuntum (a 40 quilômetros a leste da atual Viena). Mas o ponto crucial é que ele implementa seus motivos pagãos germânicos na construção de uma raça mestra ariana destinada a reinar. A doutrina esotérica propagada publicamente do wotanismo – baseada no principal deus germânico, Wotan, também conhecido como Odin – destinava-se a dar às classes sociais inferiores uma mitologia de orgulho popular. Apesar da doutrina interna esotérica Armanenschaft, a casta sacerdotal dos iniciados chamada “Alta Ordem de Arman”. Usando motivos estabelecidos pelos maçons, assim como pelos rosa-cruzes, List criou esse nome para invocar uma linhagem de reis-sacerdotes míticos que remontam às antigas raízes teutônicas. Mais tarde ele adornou sua criação com todo tipo de descoberta esotérica, de sigilos criptográficos (pictogramas mágicos) baseados no abade Johannes Thritemius de Sponheim (1462-1516) a suas próprias leituras das runas germânicas. A partir dos anos 1910, Guido von List imaginou o futuro reinado dos arianos: ele pedia simplesmente a submissão de todos os não arianos à raça mestra ariana. Os subjugados e escravizados fariam então todo o trabalho menor e mais duro, enquanto os cargos mais graduados nas empresas, no serviço público e na vida espiritual e intelectual seriam reservados aos ario-germânicos. A vocação para esses empregos se basearia, em primeiro e único lugar, no critério da pureza racial. Só homens ario-germânicos teriam liberdade e cidadania completas, enquanto todas as famílias teriam de manter um livro de ancestralidade racial. É um modelo societário que antecipava em duas décadas as Leis da Raça de Nuremberg e a abordagem geral dos nazistas. O elitismo místico de List precede a visão de Himmler de um Estado-Ordem SS.

Igreja católica x ideologia germânica
A construção de List também inclui de maneira típica uma teoria da conspiração. Seu objetivo é explicar como, se a raça mestra ariana era tão superior, ainda não se havia estabelecido o Estado da raça mestra. List afirmava que a culpada era a Igreja Católica, tão forte na Áustria na época que repudiou e demonizou o sacerdotalismo germânico durante séculos. O que também explicaria a necessidade de práticas secretas para transmitir o conhecimento proibido. É o típico argumento tautológico adotado pelos professores de ocultismo e teóricos da conspiração: a necessidade de sigilo é explicada pela igualmente secreta conspiração dos adversários.

A visão de List do renascimento das “Cortes Vêmicas” do fim da Idade Média na Westfália – tribunais secretos protovigilantes que emitiam e executavam sentenças de morte etc. – tornou-se a fantasia preferida de muitos, antecipando o futuro império pangermânico. A característica estratégica dupla dos movimentos sectários vem ao primeiro plano aqui: a iniciação interna oculto-religiosa deve ser equilibrada externamente por uma ação político-militar, embora encoberta.

O alinhamento anticlerical de List pode em princípio parecer em total contradição com a abordagem do monge cisterciense Jörg Lanz von Liebenfels, que depois de List tornou-se a principal fonte dos zelotes místico-germânicos. Assim como List, Liebenfels havia criado uma genealogia mística de nobreza para si mesmo: o filho do diretor escolar Johann Lanz, de Viena-Penzing, afirmava ser de fato o barão Johann Lancz de Liebenfels, com uma linhagem que remontava ao reinado dos Hohenstaufen, do sul da Alemanha, sobre a Sicília medieval.

Enquanto List se dedicava à religiosidade germânica neopagã, Liebenfels atuava com a obscura gnose do início da cristandade e alusões aos Cavaleiros Templários, embora com exatamente o mesmo resultado: a evocação de uma raça mestra ariana destinada a assumir o poder totalitário. A principal obra de Liebenfels tem o título incomparavelmente louco de Theo-zoology, or the Lore of the Sodom Apelings and the Electron of the Gods (1905). “Teozoologia” designava uma bizarra interpretação de motivos bíblicos com o conhecimento científico da época sobre radiologia e semelhantes. Segundo Liebenfels, os anjos celestiais, por exemplo, eram simplesmente seres superiores de tempos antigos que haviam perdido suas capacidades sobrenaturais depois de terem se misturado de forma sodomítica com raças inferiores – capacidades sobrenaturais que os arianos recuperariam depois de uma suficiente higiene racial. Assim, Liebenfels (que teve de deixar os cistercienses, ironicamente, por causa de pecados da carne) fundou a sociedade secreta masculina dos ONT. Foi sob a insígnia desse grupo que ocorreu o acima mencionado festival místico em Burg Werfenstein. Hoje acredita-se de modo geral que Adolf Hitler foi um dos leitores habituais do periódico de Liebenfels, Ostara. No entanto, muito cedo ele tomou cuidado para não fazer qualquer referência explícita a esses antecessores místico-ocultistas. Hitler não estava absolutamente interessado nos tradicionais círculos elitistas pequenos e sigilosos, mas pretendia formar uma cultura de massa extática, livre de todos os escrúpulos civilizados e dedicada a uma presença total industrial-militar que duraria mil anos – ou melhor, pelo período de vida do próprio Hitler (ele nunca designou um sucessor para o caso de sua morte), como se o Reich fosse sua obra artística que naturalmente cessaria com sua morte.

Tendo em vista esses objetivos, os antecessores místicos só interessavam a Hitler como um meio para atingir um fim, e, portanto, ele considerava sua apreciação explícita prejudicial (pelo menos a sua própria vaidade). Já em Mein Kampf (1925-1926) Hitler zomba dos evangélicos esotéricos alemães com suas longas barbas e, durante a cúpula do partido do Reich, em 1938, ele anunciou que “a insinuação dos exploradores místicos do além de tendência mística não será tolerada”. Entretanto, as semelhanças entre as manias racistas de Hitler, List e Liebenfels, ligadas a visões de um Grande Reich Alemão, são próximas demais para ser explicadas meramente por uma semelhança entre suas respectivas afinidades e meios. Afinal, Hitler fez da SS de Himmler, com suas bases místicas, a elite e o principal instrumento de poder.

Entre 1918 e 1929, na acelerada sucessão de derrota, hiperinflação, sucesso ilusório e estouro catastrófico experimentada pela Alemanha e a Áustria, criou-se uma sensação de irrealidade apocalíptica. Ela tornou-se o canteiro para os novos mantenedores da tradição germânica. Outro precursor do movimento nazista de Hitler em Munique foi a Sociedade Thule, liderada pelo barão Heinrich von Sebottendorf (ou apenas Adam Glauer – outro pseudonobre. Entre seus convidados estiveram os líderes nazistas tardios Rudolf Hess e Alfred Rosenberg. Sebottendorf foi instrumental na fundação do jornal Münchner Beobachter, depois rebatizado de Völkischer Beobachter, o órgão central da propaganda nazista. Outro grupo, a Sociedade Edda, fundada em 1925 na zona rural da Baviera, dedicou nada menos que três edições da revista Hagal às supostas capacidades sobrenaturais de um certo Karl Maria Wiligut – ninguém menos que o acima citado Weisthor, que se tornou o Rasputin de Himmler.

Antissemitismo e antifeminismo
Wiligut, ou Weisthor, continuou sendo a única exceção, o único ex-sectário promovido às fileiras dos nazistas dominantes depois de 1933. Nascido em Viena, o antigo oficial do Exército austríaco aposentou-se, em 1919, em Salzburgo, e passava o tempo criando sua própria lenda como descendente de um germânico pré-histórico, da realeza e semidivino. Na verdade, ele afirmava ser capaz de olhar diretamente para o passado de milhares de anos. Seu reconhecimento dos tempos remontava a 228 mil a.C., quando três sóis brilhavam sobre uma terra governada por gigantes e anões. Wiligut desenvolveu traços cada vez mais paranoicos e acreditava haver uma conspiração entre a Igreja Católica, os judeus e os maçons. A perda precoce de um filho e herdeiro muito desejado, juntamente com uma crise financeira causada pelo mau investimento de um ex-sócio, levou-o a um colapso em 1924, diagnosticado como esquizofrênico com manifestações megalomaníacas e paranoicas. A contragosto, Wiligut foi internado em um asilo em Salzburgo, onde passou três anos. Aparentemente, esse passado foi um dos motivos que o levaram a usar o pseudônimo Weisthor. Esse foi o homem que se mudou para Munique em 1932 e foi introduzido nas SS no fim de 1933.

O que nos conta essa pré-história da ideologia nazista ocultista? Em primeiro lugar, expõe como o insulto e a injúria narcisistas a pessoas que antes se consideravam naturalmente superiores (por que “nós” não fomos integrados ao novo Reich alemão? Por que somos subitamente uma minoria na Áustria?), em uma cultura soldadesca geralmente machista (das guerras alemãs de 1866 à Primeira Guerra Mundial), levaram a uma mania de raiva e vingança ligadas a fantasias de superioridade por meio de parentesco e raça.

Ruína de Carnuntum, cidade romana localizada a 40 km a leste da atual Viena, que dá nome à novela escrita por Guido von List em 1888 e que se tornou um clássico instantâneo da literatura völkisch (Foto: Reprodução)
Ruína de Carnuntum, cidade romana localizada a 40 km a leste da atual Viena, que dá nome à novela escrita por Guido von List em 1888 e que se tornou um clássico instantâneo da literatura völkisch (Foto: Reprodução)

E essa mania foi reveladoramente iniciada por notórios mentirosos e impostores. É esse espírito intoxicado de seres “insultados” e “injuriados” que se perpetua sempre que uma cultura machista de guerra se funde com uma ideologia de recuperar algum tipo de superioridade supostamente perdida em tempos antigos, devido a uma conspiração. É uma mistura característica para as personalidades politicamente psicopatas de hoje, em todo o espectro político e muitas vezes em lados antagônicos dele. Pense na cultura das armas pelos suprematistas brancos nos Estados Unidos e em Donald Trump, que se consideram ferozes opositores do islamismo fundamentalista – mas não poderiam ser mais alheios aos princípios democráticos da Constituição americana, exceto o direito de portar rifles. O Estado Islâmico no Iraque e na Síria foi cofundado por ex-membros do serviço secreto de Saddam Hussein, homens tão convencidos de sua superioridade quanto são mentirosos, ao fazer seus seguidores acreditarem estar lutando por uma causa religiosa “real”, com a ajuda do simbolismo oculto (as bandeiras, as teorias da conspiração ocultista etc.). Seus atos terríveis, muitas vezes representados em seus vídeos promocionais como jogos de tiro para computador, se disseminaram como um vírus contagioso entre os garotos imigrantes de segunda e terceira geração na Europa Ocidental, que desenvolveram personalidades injuriadas, intoxicadas, machistas, que têm tantas semelhanças com os que são supostamente seus inimigos políticos – psicopatas de direita como Anders Breivik, o mass murderer norueguês que cinco anos atrás matou 77 pessoas em Oslo, que se descrevia alternadamente como um cavaleiro templário cristão e como um “odinista” (seguidor do deus viking Odin). O rapaz de 18 anos que cometeu uma matança em um shopping center de Munique, em julho de 2016, e matou nove pessoas antes de se suicidar era filho de imigrantes iranianos, nascido na Alemanha, que trocou seu nome de Ali para David e se orgulhava do fato de ter nascido no mesmo dia que Adolf Hitler. O que todos parecem ter em comum, quer se declarem fascistas antimuçulmanos ou islamitas fundamentalistas, ou uma mistura absurda dos dois, é um feroz antissemitismo, antifeminismo e ódio do empoderamento queer, da diversidade étnica e religiosa em respeito mútuo e dos esforços da esquerda para melhorar a educação. Como disse Nietzsche de maneira muito apropriada: “Quem despreza a si mesmo ainda se respeita como alguém que despreza”.

Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves