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Postado em 27/10/2011 - 1:33
Fita cassete (1963-2000)
Giselle Beiguelman

Do apogeu e morte da fita cassete

Cassete

Na genealogia do remix, ela reina soberana. Se um dia fosse construído um museu da sampleagem, teria de ocupar uma sala especial. Hoje condenada à condição de lixo da indústria eletrônica, já foi musa dos piratas e sua história se confunde com a do pop.

Ganhou o mundo nos anos 1970, quando se juntou a uma criatura japonesa, o walkman, de quem se tornou companheira inseparável. Casal de sucesso, a dupla marcou época nos anos 1990 e mudou a paisagem urbana, aparecendo com frequência ao pé do ouvido e colada na cintura dos passageiros de metrô e dos pedestres, sem distinção de sexo, cor ou religião.

Diva do cut & paste, merecia um mausoléu no cemitério dos DJs. Ícone da época dos demos, foi símbolo de um tempo em que músicos acreditavam em majors e em hit parades. Com seu amante, o gravador portátil, deu origem a uma das palavras-chave da cultura digital: bootleg. Termo que remonta ao século 17 e literalmente define o cano da bota, é associado hoje à pirataria de games a programas, passando por vídeos e afins. 

Mas ganhou expressividade na cena musical. Era ali, na perna, escondida debaixo da calça e agarrada ao gravador, que ia aos concertos de rock e registrava os áudios que seriam multiplicados e compartilhados sem ligar para registros, patentes e autorizações.

Geniosa, era dada a enroscos frequentes, partindo-se em pedaços, fragilizada diante do envelhecimento que parecia não suportar.

Nascida em berço holandês, na casa Philips, em 1963, morreu solitária e foi enterrada sem pompa nem glória no ano 2000. Jaz numa cova rasa, sem identificação, junto de uma pilha de CDs, ironicamente, seu primeiro algoz.

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