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Postado em 30/06/2012 - 7:19
Gabriela, quengas e mazelas
Emília Vandelay

Na paradisíaca Ilhéus da novela ninguém trabalha. Só as quengas. Mas, no momento, elas estão em greve

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Legenda: Reprodução. Gabriela – Site oficial. Rede Globo 

Liguei a TV e me assustei. Tinha uma mulher pelada com olhar de peixe morto fazendo propaganda de sei lá qual cosmético, melecada de make up ultra bronze até a planta do pé. Mas não era intervalo, era a nova mininovela da TV Globo, Gabriela e um monte de gente que fala baianês ensinado em Copacabana. Mentira. Metade fala baianês e a outra mais que a metade, os coroné — tem quilos deles — fala uma língua inventada pelo Dom Pantaleão. É mentira Terta?

Tudo se passa numa mítica Ilhéus, uma cidade paradisíaca em que os homens só pensam em “se aliviar” e onde o mundo se divide entre as quengas e o resto. Ninguém trabalha. Só as quengas, o grande centro nervoso de tudo e as únicas que fazem alguma coisa para ganhar a vida. E trabalham fazendo o que? Sexo… Mas, no momento, elas estão em greve.

Justiça seja feita. Trabalham muito também os câmeras e a turma da pós-produção. Descobriram uma maneira de gravar cenas noturnas na praia, sobrepondo um filtro azul que, pelo visto, amaram. Em cinco minutos, passaram umas três tomadas desse tipo de cerca um minuto e meio cada… Acho que roubaram todo estoque de luminol do CSI e derramaram nos nossos mares. Esse e o de base. A Juliana Paes deve estar sentindo o peso de tanta maquiagem.

Não deve ser fácil carregar sabe-se lá quantos litros de creme para ficar com cara de cravo e canela. Vai ver que é por isso que ela passa quase o tempo todo se contorcendo e sem roupa, coitada. Mas, ela não é explorada pela empresa. Cuidam muito bem dela. É protagonista e todas as suas falas se resumem a: “Moço bonito…” “Que vestido lindo, seu Nacib, carecia não”. Uma mexidinha na panela, uma lambida calculada na colher de pau e dá-lhe banho, cama e outras atividades mais interessantes.

No meio disso tudo, umas batidas no cabelão de comercial de shampoo para cabelos com cacho. Ninguém é de ferro. Só o coroné Ramiro Bastos de Antonio Fagundes, o maior pudê da cidade. Administra falta de chuva, suas intermináveis plantações de cacau — cenário muito útil para dar um descanso ao elenco que vive, dia e noite, no Bataclã, o bordel de Maria Machadão (Ivete Sangalo, ótima) — e a greve das quengas, óbvio.

Entre o pior do pior, só mesmo Marcelo Serrado, botando pinta de comedor, franzindo as sobrancelhas sem parar. Crô Forever…

Ai, meu são Jorge tão Amado, me salva desse planeta das ó xentes fabricadas no Projac!

Emília Vandelay é formada em jornalismo pela Unisinos e cursa o Master of Arts Program in Cinema Studies da Universidade de Toronto. Twitter: @emiliavandelay