A nova edição da Residência Arte Celeste #4 se inicia em uma nova chave: os residentes oferecem oficinas gratuitas de criação literária e gráfica. Ambas são projetos públicos da exposição Águas Abertas, que tem como objetivo proporcionar a ativação do Parque Linear Bruno Covas por meio da produção artística. Elaborando exercícios criativos baseados na fruição espacial às margens do rio, esta edição fomenta a vivência do espaço público e contribui com o processo em curso de revitalização do Pinheiros.
As oficinas acontecem de forma híbrida e simultânea em maio de 2025, com aulas online e presenciais no Parque Linear Bruno Covas, em São Paulo. Com um cruzamento entre os módulos, os participantes interessados poderão trabalhar visualmente os textos escritos ou, ao contrário, partir da experiência gráfica para a criação literária.
Gráfica Fluvial é uma oficina ministrada por Nina Lins com assistência de Ari Frost, e tem o objetivo de construir um comentário visual sobre a paisagem a partir da montagem de resíduos urbanos – gráficos, históricos ou de consumo – ao longo do Parque Linear Bruno Covas, às margens do Rio Pinheiros. Enquanto laboratório de pensamento e imaginação gráfica, a oficina propõe uma reflexão sobre as ocorrências sociais, ambientais e demográficas do cotidiano atravessadas pelas águas urbanas. A partir de interferências gráficas com materiais encontrados na região, os participantes serão convidados a um exercício de imaginação de futuros possíveis, atentando-se à articulação entre o visual e o contexto urbano e a construção visual como agente de transformação do espaço.
A oficina se divide em dois momentos. No primeiro, será proposta uma conversa sobre ficção visual – como histórias em quadrinhos, cartazes e zines – e os imaginários distópicos que habitam nosso cotidiano. Em seguida, inicia-se a caminhada pelas margens e arredores do Rio Pinheiros, coletando resíduos de materiais – como restos de cartazes, papéis, objetos, plantas e outros dispositivos, que poderão ser utilizados nas montagens. Na segunda etapa, os participantes irão trabalhar em uma gráfica móvel in loco montada no próprio local, utilizando técnicas acessíveis de reprodução de imagem, como serigrafia sem gravação de tela, estêncil e moldes. Com os materiais coletados, poderão ser criados cartazes, zines e lambes.
Escrever o Rio é uma oficina experimental de criação literária gratuita, ministrada por Ian Uviedo, cujo objetivo é encontrar disparadores para textos no transcorrer do curso de rios urbanos. Aberta às imprevisíveis ocorrências climáticas e demográficas do cotidiano na cidade, a proposta da vivência é deslocar o olhar automatizado pelo ritmo da megalópole para os fenômenos da rua, estejam eles fixos (arquitetura) ou móveis (comunidade), convidando os participantes a refletir sobre sua própria presença e interferência no espaço em que habitam. O curso do rio é o que dá o direcionamento da jornada, e toda a paisagem é pensada a partir do lugar de transformação e adaptação das águas. O papel da ficção é condensar este cenário em textos realistas, especulativos ou distópicos – o que importa é abrir os olhos e os ouvidos para coisas que tendem a sumir sob a sombra dos grandes temas, tal como um rio canalizado sob camadas de concreto. No início de cada percurso, haverá uma apresentação breve de bibliografia, partindo de livros e trabalhos onde estas questões são capitais, para que haja um direcionamento prévio, porém livre, na relação de cada participante com sua expressão.