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Espaço Expositivo do Museu de Fotografia Fortaleza (Foto: Celso Oliveira)
Postado em 21/03/2017 - 3:45
A história e o futuro do olhar
Silvio Frota disponibiliza sua coleção de fotografia em museu recém inaugurado em Fortaleza
Paula Alzugaray

Hoje todo o mundo é fotografo. Com essa premissa na cabeça e uma coleção de 2.000 imagens na mão, o casal Paula e Silvio Frota inaugurou o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), instituição inteiramente dedicada à fotografia. Se não for o único no Brasil, o MFF é sem dúvida o mais completo. O acervo abrange um arco de 200 anos, dos primórdios da técnica ao que há de mais novo em arte contemporânea.

O edifício de 2.500 metros quadrados abriga um recorte de 400 obras do acervo, realizado pelo curador Ivo Mesquita, ex-diretor da Pinacoteca de São Paulo. Os três andares do museu foram ocupados por quatro exposições que mostram a pluralidade dos usos da fotografia – no jornalismo, na etnografia, na arquitetura, na moda e na arte –, organizados sem hierarquias ou categorizações redutoras. Em cada um dos eixos da mostra, todos esses campos se relacionam e se acrescentam, formando discursos de grande riqueza e densidade.

Syrio (Aleppo), de Gabriel Chaim
Syrio (Aleppo), de Gabriel Chaim

As exposições inaugurais do museu – uma temporária e três de longa duração – mostram um equilíbrio saudável entre obras icônicas de grandes fotógrafos – como a Garota Afegã, de Steve McCurry, primeira imagem comprada pelo casal, há 9 anos – e obras de artistas contemporâneos pouco conhecidos do grande público, assim como obras em vídeo e novas técnicas, que representam, segundo Silvio Frota, “o futuro da fotografia”. Há grandes pérolas expostas, como o bando de Lampião clicado na série Cangaço, por Benjamin Abrahão, ou a série que o fotografo de guerra Gabriel Chaim realizou na Síria.

O colecionador credita 100% das escolhas deste primeiro recorte ao curador Ivo Mesquita. “Quando você chama um curador, você tem que dar liberdade total. Às vezes ele pedia minha opinião e eu não dava, porque estaria interferindo no que ele estava pensando”. Novos recortes serão feitos no futuro por outros curadores, biscando sempre novos olhares à coleção.

A coleção já nasceu com foco internacional?

Como queremos dar a oportunidade para as pessoas terem acesso a essas obras, nada mais justo do que você ter obras icônicas dentro da coleção. Tudo começou em Houston, em uma exposição do Steve McCurry, em que comprei a foto da Garota Afegã e outra também. A partir daí me apaixonei, comecei a ler sobre fotografia, a pesquisar, a estudar. Logo depois fui a Nova York, e visitei galerias especializadas em fotografia.

Espaço expositivo do MFF (Foto: Celso Oliveira)
Espaço expositivo do MFF (Foto: Celso Oliveira)

Você tem icônicos, mas também novos e inusitados. É um risco se lançar ao novo e adquirir um jovem fotógrafo?

Eu já era apaixonado pela arte contemporânea e comprava para minha coleção de pintura. Então foi natural. Gosto de obras instigantes, em que o fotógrafo saia do lugar comum e da zona de conforto. Então, tudo o que compõe a nova fotografia, o que se aplica também aos vídeos, nós temos que ter. Tudo o que compro, eu gosto. E não compro uma obra só. Normalmente, eu compro séries. Compro no mínimo cinco fotos de um fotógrafo, para que se tenha a dimensão de seu trabalho.

Silvio Frota em frente ao Museu de Fotografia Fortaleza (MFF) (Foto: Paula Alzugaray)
Silvio Frota em frente ao Museu de Fotografia Fortaleza (MFF) (Foto: Paula Alzugaray)

Como se relaciona com a “fotografia expandida”, aquela que se relaciona com outras mídias?

Só no recorte que temos hoje aqui, você vê que a coleção é bem diversificada. Não é uma coleção que prioriza um só tema, como a fine art, por exemplo. Ela é bem abrangente, não é engessada. Eu não gosto de comprar sempre a mesma coisa.

Qual a importância de tornar pública uma coleção privada?

Para mim isso é o principal, porque eu tinha grande dificuldade de ver grandes obras que eu sabia que existiam, mas que ninguém tinha acesso. Muitos colecionadores não disponibilizam suas obras. Aquilo me incomodava. Na minha coleção, há obras que passam o ano inteiro viajando, expostas. Mas logo entendemos que tínhamos que ter um espaço. A ideia amadureceu até chegar ao museu. Escolhemos chamar de museu pensando no turismo. Quando você visita uma cidade, você quer conhecer os museus. A segunda etapa será levar o museu às populações carentes que não tem acesso. Esse é o nosso foco principal.

Serviço
Museu da Fotografia Fortaleza (MFF)
Rua Frederico Borges, 545, Fortaleza