Com a obra finalizada e oficialmente entregue na terça-feira 26/11, o novo edifício Pietro Maria Bardi – que ficou famoso nos anos 2000 como “o puxadinho do Masp”, na avenida Paulista – tem 19 nomes eternizados em letras de metal na parede principal acima dos elevadores: são pessoas físicas doadoras dos R$ 250 milhões que financiaram a obra do anexo (além de duas doações anônimas). Nas palavras de Alfredo Setubal, presidente do conselho do Masp, “a história do museu é ligada à história da sociedade paulistana desde o início”. Em entrevista coletiva à imprensa, Setubal narra os primórdios do Masp, no centro da cidade, até a construção (1958-1968) do icônico edifício projetado por Lina Bo Bardi, e a entrega, naquela data, do novo prédio.
A sociedade paulistana em questão é, evidentemente, a alta sociedade. Segundo Heitor Martins, diretor-presidente do Masp desde 2015, responsável por sanear as finanças do museu, o modelo de doação de pessoas físicas sem fazer uso da Lei Rouanet, inspirado em práticas de mecenato nos EUA, tem por objetivo uma gestão independente de oscilações políticas ou econômicas. Também nos EUA, o museu abriu uma fundação a fim de internacionalizar a fonte de receitas. Martins destaca, da história de sua gestão (que chega ao fim quase dez anos depois, com sucessor escolhido e abandono de cadeiras no conselho), a “arqueologia arquitetônica” — expressão de Adriano Pedrosa, diz — realizada para trazer ao público um Masp mais próximo do projeto original, com o retorno dos cavaletes para a exibição do acervo, entre outras mudanças no edifício dos anos 1960.
Os números do novo Masp impressionam: o espaço expositivo destinado à exibição do acervo do museu duplicou, os 250 milhões da obra, 66% de crescimento de área total, capacidade para receber 2 milhões de visitantes/mês (hoje, o museu tem capacidade para 600 mil visitantes ao mês). Mas não convém se ater aos números. “O museu é muito mais do que as finanças. Finanças são só meio”, diz Martins. “O edifício de Lina ficou pequeno para esse Masp. Apesar de ser uma obra prima, tinha uma série de limitações”. Além de quatro andares de salas expositivas, salas multiuso, salas de aula e áreas de acolhimento ao público, loja e restaurante, o Pietro Maria Bardi tem, por exemplo, um grau de adequação às normas internacionais de segurança contra incêndios que o edifício Lina não tem. Além de expandir as limitações físicas do museu, que atualmente condicionam à exposição permanente de pouco mais de 1% de seu acervo.


MUSEU VERTICAL
Assinada pela Metro Arquitetos Associados, a adaptação do edifício vizinho teve, desde a sua aquisição, a primeira parte da obra realizada pelo então presidente do museu Julio Neves. “A expansão do museu foi primeiramente idealizada por Júlio Neves, arquiteto que ocupou o cargo de presidente do MASP por 14 anos, de 1995 a 2009. Na década de 1990, Neves foi responsável pela reforma que incluiu a instalação da reserva técnica do museu e a renovação do sistema de ar-condicionado. Ele participou da compra do edifício Dumont-Adams nos anos 2000 e desenvolveu o projeto inicial para o edifício”, detalha o texto de apresentação Masp em Expansão: Um Museu para o Futuro.
Na realidade, Neves elaborou um primeiro projeto de adaptação do edifício que previa uma mirante suspenso sobre uma torre metálica de 70 metros, 116 metros acima da avenida e 932 acima do nível do mar, segundo informações de O Estado de S.Paulo de janeiro de 2005, reproduzido pelo Fórum Permanente. O belvedere foi vetado por entidades do patrimônio histórico. Em 2012, novamente Julio Neves arremeteu contra o bom gosto em projeto espelhado com um caixote de vidro no topo, insistindo nos atributos panorâmicos da empreitada [select.art.br/o-puxadao-do-masp/].
O sóbrio conjunto arquitetônico do Masp entregue na terça-feira passada, sem competição visual entre suas partes, tem volumes horizontal (edifício Lina) e vertical (prédio Pietro) equivalentes, com fachadas que também se complementam, a transparência das paredes de vidro do primeiro rebatida nas chapas perfuradas do segundo, a cor destas rebatida na dos caixilhos do outro. Para desenvolver o projeto, de acordo com Martin Corullon, da Metro, museus verticais nova-iorquinos serviram de modelo. A janela lateral que muda de lugar de um andar a outro parece saída diretamente do edifício de Marcel Breuer, que abrigou o Whitney Museum até 2014.
André e Lilian Esteves
Amalia Spinardi e Roberto Thompson Motta
Carlos Francisco Ribeiro Jereissati e família
Cleusa Garfinkel
Denise Aguiar Alvarez
Doação anônima
Doação anônima
Família Ermírio de Moraes
Flávia e Frank Abubakir
Fundação Brava
Geyze e Abilio Diniz
Haddad Foundation
Lina Maria Aguiar (in memoriam)
Marcos Adolfo Amaro e Ksenia Kogan Amaro
Maria Eduarda e Ricardo Brito Santos Pereira
Marina e Fernando de Almeida Nobre
Ronaldo Cezar Coelho
Rose e Alfredo Egydio Setubal
Rubens e Mônica Silveira Mello
Sonia e Fernão Bracher
Tide e Olavo Egydio Setubal (in memoriam)