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Retrato de Koyo Kouoh [Foto: Mirjam Kluka]
Postado em 04/12/2024 - 7:50
Koyo Kouoh é nomeada curadora-geral da 61ª Bienal de Veneza
Kouoh é a primeira mulher africana a ser nomeada para o cargo

Koyo Kouoh foi oficialmente nomeada curadora-chefe da Bienal de Veneza. Nascida em 1967 na cidade de Duala, nos Camarões, Kouoh é a primeira mulher africana a ser nomeada para o cargo – o primeiro homem foi o curador nigeriano Okwui Enwezor, que morreu em 2019, dirigente da mostra em 2015. A conselho da Biennale se reuniu no dia 5 de Novembro e deliberou a nomeação por recomendação de seu presidente, Pietrangelo Buttafuoco.

Atualmente diretora executiva e curadora-chefe do Zeitz Museum of Contemporary Art Africa (Zeitz MOCAA) na Cidade do Cabo, capital da África do Sul, Kuouh carrega um extenso currículo antes de sua nomeação por parte do presidente da Biennale, Pietrangelo Buttafuoco. Fundou e dirigiu o centro de artes, pesquisa e educação RAW Material Company em Dacar, capital do Senegal, e integrou as equipes curatoriais das Documentas 12 em 2007 e 13 em 2012.

A ampla atuação internacional de Kouoh enquanto curadora é um ponto a favor de sua direção para a 61a Biennale. Tendo estudado administração de negócios na Suiça e administração cultural na França, participou de exposições internacionais em Moscou, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos e diversos países do continente africano – o trabalho nestes, inclusive, lhe tornam um expoente panafricano da pesquisa e pensamento sobre instituições artísticas na África contemporânea. Trabalhando e vivendo atualmente entre a Cidade do Cabo, Dacar e Basel, na Suíça, sua carreira lhe rendeu o Grand Prix Meret Oppenheim em 2020, prêmio suíço de artes, arquitetura, crítica e curadoria.

Sobre sua nomeação, Kouoh comenta em comunicado oficial no site da Biennale (tradução da celeste):

“A Exposição Internacional de Arte da Biennale di Venezia tem sido o centro gravitacional da arte há mais de um século. Artistas, profissionais da arte e museólogos, colecionadores, marchands, filantropos e um público crescente convergem nesse local mítico a cada dois anos para sentir o pulso do Zeitgeist. É uma honra e um privilégio únicos na vida seguir os passos de predecessores ilustres no papel de Diretor Artístico e compor uma exposição que espero que traga significado para o mundo em que vivemos atualmente — e, mais importante, para o mundo que queremos criar. Os artistas são os visionários e os cientistas sociais que nos permitem refletir e projetar de maneiras possíveis apenas a essa linha de trabalho. Sou profundamente grata ao Conselho da Biennale e, particularmente, ao seu Presidente, Pietrangelo Buttafuoco, por me confiarem essa missão monumental, e estou ansiosa para trabalhar com toda a equipe.”

Incertezas para 2026
A nomeação por parte do presidente da Fondazione La Biennale di Venezia, Pietrangelo Buttafuoco, parece apaziguar os ânimos oposicionais à sua gestão. Designado para o cargo em outubro de 2023 pelo então Ministro da Cultura italiano Gennaro Sangiuliano (que resignou ao cargo em setembro deste ano), Buttafuoco substituiu o produtor de cinema Roberto Cicutto em março de 2024. Por suas ligações à extrema-direita italiana, incluindo seu controverso apoio ao governo da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, Buttafuoco é considerado figura polêmica para os dois polos políticos; sua conversão ao Islamismo, por exemplo, levou a agora primeira-ministra a se posicionar contra uma candidatura de Buttafuoco no passado. Na ocasião de sua nomeação, no entanto, os membros do partido de extrema-direita Fratelli d’Italia comemoraram publicamente – o senador do partido Raffaele Speranzon, por exemplo, se pronunciou dizendo que “a Fondazione La Biennale foi considerada pela esquerda como um feudo onde se colocam amigos e seguidores. Buttafuoco, finalmente, afirma uma mudança que o governo Meloni deseja imprimir em todos os centros culturais e sociais da nação”.

Se essa impressão irá se concretizar ou não, resta ao futuro dizer. Apesar do anúncio indicar uma tendência progressista para a edição de 2026, ainda resta saber qual será a sua temática. Em comunicado oficial, Buttafuoco comenta:

“A nomeação de Koyo Kouoh como diretora do Setor de Artes Visuais é o reconhecimento de um amplo horizonte de visão no amanhecer de um dia repleto de novas palavras e olhos. Sua perspectiva como curadora, acadêmica e figura pública influente se encontra com as inteligências mais refinadas, jovens e disruptivas. Com ela aqui em Veneza, a Biennale confirma o que tem oferecido ao mundo por mais de um século: ser o lar do futuro”.