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Danilo Santos de Miranda no Sesc Belenzinho [Foto: Reprodução]
Postado em 30/10/2023 - 10:04
Legado eterno
Morre aos 80 anos Danilo Santos de Miranda, o maior gestor cultural do Brasil

Os avanços precisam ser para todos, dizia Danilo Santos de Miranda, diretor regional do SESC SP, morto este domingo, 29/10, aos 80 anos. Em abril deste ano, em entrevista à Revista E, ele declarou que não pretendia “fazer nada muito extraordinário do ponto de vista político, cultural ou social”, mas que, a partir das suas experiências, esperava “colaborar para que a gente melhore as coisas para todo mundo”. 

Com suas experiências de vida e sua visão de um mundo em convulsão e rápida transformação, Danilo Santos de Miranda não apenas colaborou. É imensurável a sua contribuição para a redução das desigualdades do país, dada a importância que trouxe às dimensões da cultura e da educação não formal à frente da Diretoria Regional do SESC SP desde 1984. “Temos, na vida, um tempo da educação formal, organizada por intermédio da escola, mas, depois dela, permanece – ou deveria permanecer – a perspectiva da informação e do conhecimento”, disse à Ana Paula Sousa, na edição de abril da Revista E. 

Entidade privada criada nos anos 1940 com o objetivo de proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do setor de comércio de bens, turismo e serviços, o SESC – Serviço Social do Comércio –, foi reinventado e transformado por Danilo Santos de Miranda na maior potência cultural do país. Um modelo de fomento cultural. Um alicerce. Um Ministério Paralelo da Cultura. Lugar de construção de dignidade e cidadania. 

“Quantas milhares de pessoas esse homem transformou pra melhor?”, indagou o cineasta Kiko Goifman em suas redes sociais. “Um superlativo para a cultura brasileira”, escreveu a curadora Lisette Lagnado. “O maior ministro da cultura que o Brasil nunca teve”, apontou o gestor cultural Eduardo Saron. 

Minha formação cultural e humana deve muito ao SESC SP. Nas quase quatro décadas que frequento suas unidades, nunca cessei de me admirar com a grandeza intelectual e humanista de cada um dos textos escritos por Danilo Santos de Miranda para apresentar a cada uma das exposições, das peças de teatro, dos festivais de música e de cinema que foram organizados por essa instituição.  

Natural de Campos de Goytacazes, RJ, graduado em Filosofia, Ciências Sociais e Administração e ex-seminarista, Danilo fez com que o SESC fosse ao longo das décadas mudando, acompanhando e atendendo as perspectivas e necessidades do país, contribuindo para ampliar o conhecimento das pessoas sobre questões sociais fundamentais. 

Em minhas visitas ao SESC Belenzinho, este mês, e ao SESC Interlagos, mês passado, tive experiências da ordem da alegria e do maravilhamento. Com Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, exposição inaugurada em agosto com plano de itinerar durante 10 anos pela rede de unidades e parceiros em todo o Brasil, a instituição contribui não apenas para refundar a história da arte brasileira, mas para mudar as relações de poder nesse país. 

“O Brasil tem condições de melhorar as coisas para o futuro, mas tudo isso envolve política, sim, envolve economia, sim, mas envolve, sobretudo, a cultura e o convencimento a respeito de quem nós somos. E que papel temos nós – os brasileiros comuns – nisso? Temos que colaborar na nossa atividade, no nosso dia a dia. Eu, pessoalmente, tenho o privilégio e a responsabilidade de atuar no nível pessoal e de colaborar no nível institucional para, quem sabe, alcançarmos um futuro menos desigual”, declarou Danilo em abril último. 

Como anotou o Teatro Oficina em suas redes, “que a gente não perca de vista a dimensão coletiva da vida”. 

Muito obrigada, Danilo. Vida longa vida aos SESCs SP!