Depois de ter sido “descoberta” pelo turismo global como um dos melhores destinos europeus, chegou a hora de a capital portuguesa ganhar visibilidade internacional no mercado de arte. A primeira edição da ARCO Lisboa (que marca também a expansão da conceituada feira de arte de Madri) traz reforços para revelar ao mundo uma cena artística vibrante, diversificada, discreta, intelectualmente rigorosa e em pleno processo de internacionalização. A ARCO Lisboa acontece entre 26 e 29/5 e reúne 40 galerias. O formato pensado para o evento respeita a escala tanto da cidade quanto do seu meio de arte e concentra-se em projetos individuais de artistas por galeria, além de ativar um roteiro que possibilita que colecionadores, curadores, artistas e interessados possam experienciar a cadência lisboeta.
A lenta retomada econômica portuguesa tem animado investidores locais e estrangeiros, conservando ainda as condições que têm atraído artistas e curadores europeus e latino-americanos para se estabelecerem em Lisboa: baixo custo de manutenção, ótima qualidade de vida, excelente infraestrutura, bom clima e posição geográfica estratégica.
Entretanto, é importante salientar que o novo momento econômico ainda não trouxe de volta os milhares de jovens portugueses que emigraram. Portanto, podemos pressupor que a grande atração exercida pela principal cidade portuguesa seja mais pela situação que os imigrantes encontram em suas terras de origem do que propriamente pelas grandes oportunidades oferecidas.

Entre 2008 e 2015, anos mais agudos da crise, foram mantidos alguns fomentos para o campo da cultura, a exemplo da verba de apoio a espaços independentes que propiciaram a continuação ou a emergência de novas iniciativas e do orçamento para a internacionalização da arte portuguesa. A manutenção de dinheiro público e privado nacional e internacional assegurou certa capilaridade do circuito artístico local, equilibrando grandes instituições como Calouste Gulbenkian, Coleção Berardo e Culturgest e projetos experimentais de vários matizes.
Um dos espaços que resistiram às flutuações econômicas dos últimos tempos foi a Associação Maumaus – Centro de Contaminação Visual, entidade atuante desde 1992 que engloba a prestigiosa Escola de Artes Visuais, uma residência artística, a Editora Maumaus e o espaço expositivo Lumiar Cité. Trata-se de uma iniciativa sólida que investiga questões relacionadas aos estudos pós-coloniais e que participou da 29a Bienal de Arte de São Paulo. Grande parte dos projetos relevantes na atualidade, entretanto, iniciou-se a partir de 2009. O Carpe Diem localiza-se na casa do Marquês de Pombal e acolhe trabalhos artísticos que respondem ao espaço e à história do prédio. O Largo das Artes, por sua vez, alicerça-se numa proposta de partir do rico entorno da Mouraria e Intendente, bairros repletos de imigrantes para gerar suas atividades, como, por exemplo, jantares comunitários com seus artistas residentes e os vizinhos.
No Hangar – Centro de Investigação Artística há espaços de trabalho para artistas locais e estrangeiros, além de uma galeria e ambiente para atividades discursivas. A Kunsthalle Lissabon busca trazer para Lisboa artistas jovens que já circulam internacionalmente, colocando a cidade no mapa mundial da arte. The Barber Shop, projeto que foi ancorado numa antiga barbearia, ganhou ares nômades há dois anos e continua uma agenda experimental e afiada de discussões. Assim como a cidade às margens do Tejo, seu circuito não se revela de primeira e nos pede para adentrar em seu ritmo denso, vagaroso e surpreendente.
Cristiana Tejo é curadora independente, doutoranda em Sociologia (UFPE) e cofundadora do Espaço Fonte – Centro de Investigação em Arte. Foi diretora do Mamam, no Recife, e curadora de artes visuais da Fundaj