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Caixa de poemas Quem Leu Leu (2021), por Preto Matheus, publicado por SQN Biblioteca [Foto: Divulgação]
Postado em 19/08/2024 - 5:15
LIVRO LIVRE
Quem Leu Leu, caixa de poemas de Preto Matheus, promove letramento no tipograpicho por meio de jogos visuais

Editar em qualquer tipo de superfície foi a filosofia dos selos editoriais do coletivo de arte urbana 4e25, durante toda sua atuação nas ruas, bares, festas e duelos de MCs de Belo Horizonte, entre 2009 e 2019. Editar em muro, em camiseta, em cartaz, em tatuagem na pele… A edição sempre foi campo aberto para os designers e artistas Preto Matheus, Kid Azucrina e Marcel Magno, que vendiam suas publicações a R$ 4,25. Era o livro, de fato, livre.

Esta é a origem da SQN Biblioteca, selo editorial focado na confluência entre livros-objeto, escrita experimental e cultura urbana, que edita a caixa de poemas Quem Leu Leu (2023), de Preto Matheus, escritor, editor, agitador cultural e designer gráfico, autor também de Considere o Enunciado (2020). Resultado de uma década de prática do tipograpicho, a caixa contém 72 poemas visuais que já estiveram nos muros da cidade e hoje circulam impressos em serigrafia sobre papel kraft.

IDENTIFIQUE A FONTE
Enquanto a pichação ainda é criminalizada no Brasil, mas suas tipografias seguem sendo apropriadas pelo design comercial, dentro da voracidade da lógica neoliberal, fazem-se mais e mais necessárias publicações legítimas como a de Matheus. Sem o verniz de uma “visualidade transgressora”, o livro traz a potência genuína da integração entre poesia e arte urbana.

O título “quem leu leu”, porque nem todos os poemas são decifráveis – como acontece com o picho, que efetivamente só dá leitura para quem conhece a língua. “Fomos alfabetizados a partir de fontes latinas e romanas, então quando se pega uma tipografia vinda de outro lugar, nesse caso, vinda da rua, isso também requer um processo de alfabetização”, diz Preto Matheus em um documentário para o Faísca Festival.

Página de Quem Leu Leu (2021), por Preto Matheus, publicado por SQN Biblioteca [Foto: Divulgação]
Os poemas fazem um autêntico letramento na tipografia urbana. Tem letra reta, angular, com arco, com serifa e sem, de leitura vertical ou horizontal. São muitas as variações, mas as tipografias utilizadas são, de fato, duas e têm nome: Quebrada e Criptotipia.

O livro ainda preserva a lógica “código aberto” da arte de rua: a obra pode ser livremente copiada e/ou distribuída, desde que identificada a fonte. O site disponibiliza o pdf, que pode ser baixado gratuitamente ou, muito melhor, é claro, mediante o preço que o leitor “achar justo”. O catálogo da SQN Biblioteca tem, ainda, títulos do cofundador do selo, o escritor e compositor Miguel Javaral, entre outros autores. Desaprenda tudo o que sabe e reaprenda a ler.

SERVIÇO
Quem Leu Leu
R$ 210,00
SQN Biblioteca
www.sqnbiblioteca.com.br/