A organização social Odeon, gestora do MAR (Museu de Arte do Rio), divulgou nota nesta tarde (4/10) comunicando que cumprirá a ordem do Prefeitura do Rio de não realizar a exposição “Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira”. A exposição trata da diversidade de gêneros e foi originalmente montada no Santander Cultural em Porto Alegre, com curadoria de Gaudêncio Fidélis.
Em Porto Alegre, a mostra foi fechada antecipadamente pela própria instituição depois de protestos. Na exposição constavam mais de 270 obras de 85 artistas, entre eles Cândido Portinari, Lygia Clark, Leonilson, Hudinilson Jr., Adriana Varejão, Yuri Firmeza, Fernando Baril e Bia Leite.
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), fazendo eco às pessoas que protestaram, chegou a afirmar que a mostra exibia imagens de “zoofilia e pedofilia”. O Ministério Público Federal (MPF) do Rio Grande do Sul, no entanto, encaminhou ofício ao Santander Cultural recomendando a reabertura imediata da exposição. A recomendação não foi acatada. O Santander considerou que “algumas obras desrespeitam símbolos, crenças e pessoas.”
Ontem, o conselho municipal do Museu do Rio (CONMAR) havia divulgado nota favorável à realização da exposição no Rio de Janeiro, conforme os planos da curadoria. “Saiu no jornal que ia ser no MAR. Só se for no fundo do mar, porque no Rio não”, disse o prefeito da cidade em vídeo divulgado em rede social. Marcelo Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.
Confira comunicado do MAR, divulgado em 4/10:
Nota do Museu de Arte do Rio – MAR, Instituto Odeon (OS gestora)
Fundado em 2013 como “um museu de todos para todos”, o Museu de Arte do Rio (MAR) é uma instituição pública municipal gerida por meio de parceria com a sociedade civil que atua no campo da arte, da cultura visual e da educação. Nosso acervo, programa de exposições e programa educacional estão pautados na diversidade. Esta parceria com a sociedade existe justamente para que os interesses dos mais diversos públicos possam integrar, efetivamente, a gestão dos equipamentos culturais. As OS não são, portanto, apenas “administradoras”. Elas são instâncias de articulação e de ação da sociedade junto ao estado.
Questões como as culturas africanas, indígenas, judaicas, a gentrificação, a periferia, a discriminação dos nordestinos, a escravidão, a sexualidade, os movimentos sociais, a educação contra o preconceito, a favela, os movimentos LGBTQIA+, a acessibilidade, o direito à cidade, o feminismo, a imigração, o genocídio (indígena, negro, das mulheres, da comunidade trans e da juventude), a Amazônia, dentre outras, têm sido articuladas publicamente nas relações que o MAR estabelece com diferentes atores sociais, sempre na perspectiva da transversalidade e da revisão crítica dos discursos e narrativas históricas e atuais.
Como órgão da administração pública municipal, o Museu de Arte do Rio cumprirá a ordem da Prefeitura do Rio de Janeiro de não realizar a exposição “Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira”. Entretanto, o MAR acredita que os museus são espaços fundamentais para a diversidade. Eles nos ajudam a conhecer diferentes ideias de mundo e a entender outros pontos de vista. Neles, o presente acontece e o futuro se constrói. A pluralidade, a amplitude e a continuidade das discussões do presente são a garantia do futuro de uma sociedade democrática.
Os debates propostos pela arte não devem ser interrompidos. Silenciar as discussões incômodas é não encarar os conflitos inerentes à sociedade. Por isso, a não realização de “Queermuseu” não impedirá que aconteça o debate que era, fundamentalmente, a intenção do MAR na reabertura desta exposição. Como um museu escola, reafirmamos nosso compromisso com um diálogo aberto, público e respeitoso. E convidamos a todos para, desde já, integrá-lo.
Rio de Janeiro, 4 de outubro de 2017
Museu de Arte do Rio | Instituto Odeon