O Masp inaugura nesta quinta-feira, 4, duas importantes exposições monográficas do eixo temático Histórias das Mulheres, Histórias Feministas a que se dedica o museu em 2019. Com curadoria de Fernando Oliva e Adriano Pedrosa, Tarsila Popular reúne cerca de 120 obras da modernista Tarsila do Amaral (1886-1973), entre desenhos e pinturas. ” É a exposição da Tarsila mais ampla em termos temporais e de quantidade de pintura”, disse Oliva em coletiva de imprensa. A exposição compreende três fases da trajetória da artista e traz desde as mais emblemáticas obras, como Abaporu (1928) – que pertence ao Malba de Buenos Aires – até trabalhos menos conhecidos.
A primeira fase representada na mostra é a Pau-Brasil, que traz sua produção inicial com telas de cores e temas tropicais em diálogo com símbolos da modernidade brasileira. A segunda, iniciada nos anos 1920, é a fase Antropofágica, relacionada ao Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade, com quem se casou em 1926. E a última é chamada de fase Social, pela aproximação de Tarsila com temáticas políticas e sociais. É dessa fase, por exemplo, a pintura Operários (1933).
Como um todo, a proposta curatorial é a de iluminar a relação da artista com temas, personagens e narrativas ligadas ao popular no Brasil. “Do ponto de vista de uma história das mulheres e historias feministas, a gente não deixou de lado da mostra as questões sociais, políticas, raciais, de classe, isso faz parte também da nossa abordagem tanto na exposição quanto no catálogo”, conta o curador.

Merece destaque o esforço do museu, e da curadoria da mostra, de promover novas e atualizadas reflexões sobre a obra de Tarsila. Das 52 pinturas expostas, 40 têm textos analíticos inéditos escritos por pesquisadores convidados. “Numa monográfica, a gente nunca analisou tantas obras, nunca teve um investimento tão grande nisso. A gente achava que faltavam análises recentes inéditas e novas perspectivas sobre a Tarsila. Muitas análises da Tarsila, apesar de fundamentais, fundantes até, são de 40 anos atrás”, diz Fernando Oliva.
O esforço é ainda mais evidente na produção de textos para o catálogo da individual, que também é lançado em 4/4. Organizado pelos dois curadores, a publicação bilíngue tem 85% dos textos escritos por mulheres. “Sabemos que não só na historiografia da Tarsila, mas também na historiografia brasileira de modo geral, poucas autoras escreveram, por uma série de razões que não cabe a nós definir, mas esse é o fato”, afirma Oliva. “Até então nenhuma autora, pesquisadora, curadora, crítica negra havia escrito sobre a Tarsila. E nesse catálogo nós felizmente tivemos a contribuição das duas super pesquisadoras negras Amanda Carneiro e Renata Bittencourt”.
Lina Bo
A segunda individual que abre agora no Masp é Lina Bo Bardi: Habitat, que traz seu título da revista de arquitetura produzida pela ítalo-brasileira nos anos 1950. Com curadoria de Tomás Toledo, curador-chefe do Masp, Julieta González, do Museo Jumex (Cidade do México), e José Esparza Chong Cuy, que trabalhava no MCA Chicago, a exposição inaugura no museu projetado por Lina Bo Bardi (1914-1992) em 1968 e mostra diferentes facetas da arquiteta. “Eu considero que é essencial pensar a Lina não só como arquiteta, mas também como filósofa, desenhadora, curadora, cenógrafa e editora”, diz o mexicano Chong Cuy.

Depois de inaugurar no Masp, a individual itinera para a Cidade do México e Chicago. “Para nós era importante iniciar a exposição no Masp e depois fazer um caminho Sul-Norte, diferente do que normalmente acontece, que é Norte-Sul”, conta o Chong Cuy. Já que o público mexicano e estadounidense tem menos familiaridade com a atuação de Lina Bo Bardi, em comparação ao brasileiro, a mostra será ampliada ao viajar para os outros países para oferecer uma visão ainda mais ampla sobre a arquiteta. Um dos elementos acrescentados será uma pequena mostra com obras do acervo do Masp exibidas nos cavaletes de vidro elaborados por Lina Bo Bardi.
O catálogo da exposição também foi feito com bastante empenho e tem textos em português, inglês e espanhol. Traz materiais de arquivos, traduções de diversos reflexões escritas por Bo Bardi, além de ensaios de oito pesquisadores. “Nosso objetivo com a exposição foi não só fazer com que três instituições colaborassem, mas também replantar o entendimento de uma personagem instrumental para a construção da identidade do séc. 20 num país como o Brasil, que foi exportado ao estrangeiro”, relata Chong Cuy.
Serviço
Tarsila Popular
Lina Bo Bardi: Habitat
De 5/4 a 28/7
Masp
Av.Paulista, 1578 – São Paulo
masp.org.br