O que é, o que é? É um produto característico de Portugal, usado nas artes decorativas, mas não é o azulejo. É leve, resistente, versátil, impermeável a líquidos e gases, elástico, reciclável, ecológico, biodegradável, hipoalergênico e tem qualidades térmicas e acústicas. Essa matéria prima perfeita não é fruto de manipulação genética em laboratório de alta tecnologia. É a cortiça, matéria orgânica 100% natural, extraída da casca do Sobreiro, a árvore mais comum do Alentejo, da família do Carvalho.
Portugal é o principal produtor mundial de cortiça e o Sobreiro é um símbolo nacional. A fabricação de rolhas de garrafas de vinho é apenas o seu uso mais conhecido. Caravelas, pranchas de surf, skates, tecidos, acabamento arquitetônico de palácios e conventos são algumas das outras aplicações possíveis daquela que se revela das matérias mais versáteis da natureza.
A cortiça portuguesa acaba de tornar-se a matéria prima da mais recente criação dos designers brasileiros Fernando e Humberto Campana. São três cabines e uma poltrona, que estão em exposição no Consulado Geral de Portugal em São Paulo até agosto. Evento encerra a programação do Experimenta Portugal’ 18, quarta edição do evento que promove em São Paulo a arte e a cultura luso-brasileira.
Célebres pela experimentação com materiais comuns do dia-a-dia, os irmãos Campana nunca haviam trabalhado com cortiça, que se incorpora à perfeição à sua filosofia de trabalho, baseada em recuperação, reciclagem e respeito ao meio ambiente. “Os Campana tem este DNA inquieto, criativo, pulsante. Portanto, colocar a cortiça nas mãos deles foi como entregar um novo brinquedo para uma criança. Aqueles olhos arregalados de prazer e de felicidade”, diz Bruno Assami, diretor executivo do Experimenta Portugal. “O maior desafio foi o fator tempo.
Somente quatro meses para realizar um projeto dessa envergadura. Mas é fascinante ver o que o design consegue. Além da perspectiva criativa, a precisão que o conhecimento, somado a técnica e a tecnologia trazem de uma forma única a criatividade”.
As peças foram produzidas com o apoio da Corticeria Amorim e da fábrica de moveis Época, de Paços de Ferreira, pequena cidade no distrito do Porto, considerada a capital europeia do móvel. “O fruto desse projeto tenho certeza que foi essa sinergia de vontade de realizar e fundamentalmente dessas diversas expertises”, diz Assami.
Vale registrar ainda outros usos surpreendentes da cortiça portuguesa ao longo da história antiga e recente. Nos séculos das navegações, o material era o preferido na construção dos liames das naus e caravelas, por sua resistência às intempéries. Já no século 21, para aguentar a potência das ondas gigantes da praia de Nazaré, em Portugal, o surfista havaiano Garret McNamara construiu uma prancha inteiramente em cortiça portuguesa, em parceria com profissionais de design e aerodinâmica. E no mundo do espetáculo, Lady Gaga usou um vestido em cortiça folheada a ouro e prata, projetando globalmente as novas possibilidades do material, aplicado às tecnologias têxteis.
Serviço
Exposição de Design Irmãos Campana
Até 19/8
Consulado Geral de Portugal em São Paulo, Sala Fernando Pessoa
Rua Canadá 324 – São Paulo
campanas.com.br