A imagem Mãe do Fogo (2019),representação da lenda marajoara a respeito de uma figura que assombra e desorienta os vaqueiros, faz parte da série Mitos e Encantarias, que começou por acaso em 2018, quando o artista Luiz Braga resolveu clicar um caranguejeiro na Ilha de Marajó e, ao ver o resultado, com seu cabelo descolorido e corpo coberto de lama do mangue, percebeu que tinha ali a representação do Curupira. A vontade de retratar as lendas locais vem de conversas antigas com o escritor João de Jesus Paes Loureiro e a percepção de que existe uma cultura que brota a partir das raízes amazônicas e, segundo o fotógrafo, não precisa ser “chancelada por uma escola europeia, nórdica ou oriental”. “Se você puxar esse fio, ele vai dar no fundo do rio, no fundo da floresta e nada mais interessante que mergulhar nessas histórias”, diz Braga. Acostumado a fotografar a população ribeirinha de Belém, ele conta que, com o passar do tempo, começou a sentir a cidade se tornando mais áspera e encontrou em Marajó um território acolhedor, onde percebeu o respeito à floresta e viu a oportunidade de se relacionar com as histórias que ouvia de seu pai. Até agora, ele já registrou, além de Mãe de Fogo e Curupira, Matinta e uma lenda fictícia, criada por ele próprio, que nomeou como Nossa Senhora Padroeira das Lavadeiras. Entre as próximas vontades estão as imagens de Iemanjá, Mulher de Branco e Saci.