A Plataforma argentina na feira de arte contemporânea ARCOmadrid, que acontece de 22 a 26 de fevereiro, na capital espanhola, foi parte de uma estratégia de reativação das relações comerciais entre os dois países, depois de um longo período de deterioração. À visita do presidente argentino Mauricio Macri e sua participação no fórum Investir na Argentina, com ministros e empresários espanhóis, somou-se o destaque do país latino-americano no mundo da arte, ao ganhar homenagem na 36ª edição da tradicional feira espanhola.
O sistema de país homenageado, adotado hoje por poucas grandes feiras internacionais, é usado pela ARCO com muita eficiência para ambas as partes. De um lado, atrai novas galerias participantes – agregou dez novas adeptas às duas argentinas veteranas que já participavam do evento. De outro, revela à comunidade internacional as peculiaridades de cenas artísticas e mercados emergentes.
O panorama da arte argentina em Madri trouxe à tona 12 galerias de Buenos Aires – concentração que chamou a atenção dos jornalistas europeus presentes. Enquanto a imprensa internacional buscava pistas para compor uma identidade nítida para a região, a artista Leticia Obeid declarava, em vídeo exibido na galeria La Isla Flotante: “Não somos índios nem europeus, senão una mistura entre os autênticos proprietários da terra e seus usurpadores”.
Mas é fato que o melhor da produção do país não estava concentrada no corredor de coloração azul sinalizado no mapa da feira, e sim em diversas galerias internacionais – algumas brasileiras. David Lamelas, argentino cidadão do mundo e um dos pioneiros da arte conceitual, estava muito bem apresentado pelo galerista belga Jan Mot, com duas obras audiovisuais: Interview with Marguerite Duras (1970-2014), em 16 mm, e Mon Amour, em vídeo digital.
A brasileira Nara Roesler colocou em diálogo em seu estande duas gerações de argentinos: Julio Le Parc e Eduardo Navarro. “Há muitos artistas que não têm galeria na Argentina, portanto estão na seção Diálogos”, diz Catalina Lozano, curadora deste setor da ARCOmadrid, à seLecT.
Outro destaque foi a galeria suíça Peter Kilchmann, que colocou em diálogo Jorge Macchi – talvez o mais internacionalmente consagrado dos artistas argentinos contemporâneos, e certamente um dos melhores –, e a mexicana Teresa Margolles. O também mexicano Rafael Lozano-Hemmer, representado pela madrilenha Max Estrella, dava assas às selfies com o Bilateral Time Slicer, um espelho que multiplica o reflexo em várias lâminas.
A mais consolidada das galerias argentinas, Ruth Benzacar, colocou em cena Valentina Liernur, que, segundo explicou o responsável pelo estande, traz em sua obra uma forte relação com o mundo da moda. Mais que moda, chama a atenção, na forma como rasga e alfineta a tela, a clara remissão a Lucio Fontana – altamente “disputado” pelas historiografias da arte argentina e italiana, por ter nascido em Rosário (Argentina), em 1899, e morrido em Varese (Itália), em 1968.
Impossível deixar de apontar também a excelência da produção de dois jovens argentinos residentes em São Paulo. Pablo Accinelli, representado pela portenha galeria Ignacio Liprandi; e Nicolás Robbio, representado pela paulistana Vermelho. Robbio, no entanto, não estava na feira, mas apresentou um projeto individual no espaço cultural La Casa Encendida, no centro de Madrid. Composta por cinco obras em uma sala, a mostra Ejercicios de Resistencia é um ponto de luz e frescor, não apenas no mapa da arte argentina, mas certamente na cena internacional.