Apaixonado pela arte e compromissado com a sua democratização, o economista fundou em 2011 o Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto (SP), com o intuito de compartilhar o acesso à coleção que construiu com sua esposa Dulce – uma das maiores e melhores do país, com forte teor experimental – e de formar um projeto educativo de base, com exposições, cursos e debates. Antes do IFF, Figueiredo Ferraz já era um defensor das artes em sua cidade natal, apoiando o Museu de Arte de Ribeirão Preto e sempre envolvido em suas atividades.
“É difícil dizer exatamente quando nasceu a ideia de fazer um espaço nos moldes do Instituto”, apontou Figueiredo Ferraz, em texto publicado no site do IFF. “Hoje, olhando para trás, vejo o quanto esse sonho é antigo. Desde o momento em que me conscientizei de que aquele conjunto de obras que eu estava adquirindo estava formando uma coleção, senti a necessidade de ter um espaço onde essa coleção pudesse ser mostrada publicamente e compartilhada com todos os que gostam de arte. Portanto, nada mais natural que esse espaço tenha como vocação primeira as artes visuais”.
Um edifício para que os visitantes transitassem com “muita luz e calma” foi construído para levar a Ribeirão Preto uma discussão cultural de qualidade. O espaço se tornou rapidamente um centro de referência para visitantes dos grandes centros brasileiros e internacionais, refletindo o engajamento e o comprometimento de seu idealizador com o fortalecimento do sistema da arte.

Em 2018, quando ocupava o cargo de presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Figueiredo Ferraz participou do 1º Encontro das Artes Visuais, ciclo de debates organizado pela seLecT em parceria com a Secretaria da Economia Criativa do MinC e com o escritório CesnikQuintino&Salinas Advogados, sediado no Itaú Cultural. O encontro visava contribuir para o avanço da construção de uma agenda de políticas públicas para o sistema das artes no país. Nele, o economista atentou para o fato de 95% da produção visual brasileira estar retida em coleções particulares e disparou: “Me pergunto por que as coleções particulares se escondem ou são inibidas? Primeiro, porque não há estímulo nenhum para que se mostrem. Em segundo lugar, temos uma Constituição que gera receio, impõe medo. Existe uma espada na cabeça dos colecionadores. O que nós temos é um somatório de leis, decretos e normas que a cada governo vai se acumulando e virando uma colcha de retalhos. Uma coisa complicada, difícil de entender e de fazer com que as pessoas tenham confiança de mostrar suas coleções”.
Além da tristeza pela perda de Figueiredo Ferraz, é duro constatar que, desde então, as dificuldades apenas se agravaram no que diz respeito à comunicação do setor com os responsáveis pelas políticas públicas. Mas com a partida do colecionador, fica um legado de edificações. Entre seus ideais e construções, destacamos seu apreço e sensibilidade acerca da centralidade do papel da imprensa, da crítica e do jornalismo para o desenvolvimento cultural do país. Ferraz foi sócio da Bamboo, revista de design contemporâneo, e leitor assíduo da revista seLecT. Dessa relação de admiração mútua, alimentada ao longo de uma década, extraímos a confiança em seguir lutando para firmar o lugar da arte e da imprensa cultural na agenda sócio-educativa deste país.