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Gestores públicos em reunião no Itaú Cultural: Da esq p/ direita Cassius Antonio da Rosa(Minc), Fabricio Noronha, Fabiano Piuba, Eduardo Moron,Marilhia Marton e Marcelo Queiroz - Abertura do Lancamento do PIB da Economia da Cultura e das Industrias Criativas. Foto: Bruno Poletti
Postado em 12/04/2023 - 1:30
O país da criatividade
Oferecer evidências para a construção de políticas públicas é objetivo da nova plataforma de mensuração do PIB da Economia da Cultura, lançada pelo Observatório Itaú Cultural

Parem as máquinas. A partir de hoje, o Brasil deve ser conhecido não mais como o país do futebol, das empreiteiras e dos sistemas viários estratosféricos para escoar a indústria automotiva. O primeiro levantamento do recém-lançado Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural mostra que o PIB da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC), em 2020, superou o mercado automotivo e cresce hoje de forma mais acelerada que o total da geração de riquezas no país. Os dados indicam uma realidade irrefutável: o Brasil é o país da criatividade.

“Estamos colocando a bola em campo, trazendo dados para que a sociedade, empresas e governos possam perceber a cultura como um ativo estratégico e um motor para o desenvolvimento social do país”, disse Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, em coletiva de imprensa, na segunda, 10.

A pesquisa coloca a arte e a cultura em posição estratégica para a geração de emprego e renda no país: entre 2012 e 2020, os segmentos criativos experimentaram um crescimento de 78%, enquanto a economia total avançou 55%. Em 2012, a participação do PIB da ECIC era de 2,72%, saltando para 3,11%, em 2020. Uma representatividade maior que União Européia e países como Canadá, Rússia e México.

A metodologia do painel de dados econômicos da cultura foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores, liderado pelo economista Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a partir de dados do IBGE e do Ministério do Trabalho, entre outros órgãos. “O que se produz aqui não é somente visualização estatística, mas material para produção de massa crítica e conhecimento”, disse Valiati. A 34ª edição da Revista Observatório, totalmente dedicada ao novo PIB da economia cultural, dá início aos trabalhos de reflexão crítica sobre o tema.

Necessidade de regulação
Os setores criativos reúnem artes visuais, cênicas, audiovisual, música, moda, artesanato, editorial, arquitetura, design, publicidade, museus, patrimônio, games, softwares e tecnologia da informação aplicados ao campo criativo.

Na apresentação da pesquisa, ficou claro que o jornalismo cultural independente – incluídos sites culturais de conteúdo aberto como a seLecT_ceLesTe – enfrenta impasses na formalização de dados, semelhantes aos de setores da cultura popular. Como estimar o valor de bens gratuitos e acessíveis como as festas de rua, por exemplo? “Ainda estamos estudando como medir, identificar e produzir estatísticas sobre esses campos. A regulação das plataformas digitais é decisiva para isso”, disse Leandro Valiati.

União e reconstrução
Embora o país tenha experimentado, entre 2018 e 2022, uma consistente diminuição do incentivo federal à Cultura e a demolição de políticas públicas, o PIB da ECIC do período passou de 2,37% para 3,11%. “Os dados são retardatários em relação à realidade”, explica Valiati.

Parafraseando o novo slogan do recém-criado Ministério da Cultura, este é, portanto, um momento crucial de “união e reconstrução” de um ambiente cultural saudável. Este é o objetivo do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais da Cultura, que reuniu nesta terça 11, no Itaú Cultural, secretários da cultura de 13 estados brasileiros (Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Amazonas, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Tocantins, Rio Grande do Norte e Distrito Federal) e gestores de 21 estados, para conhecer e debater os dados divulgados.

“Foram muito bons esses dois dias em São Paulo, tanto o ato do lançamento da pesquisa quanto hoje, nessa imersão que fizemos com a equipe do Observatório Itaú Cultural e gestores estaduais e municipais”, diz Fabricio Noronha, Secretário de Cultura do Espírito Santo e Presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais da Cultura, à seLecT_ceLesTe. “Nós saímos com um compromisso de continuar seguindo essa agenda. A pesquisa impulsiona esses dados a entrarem na ordem do dia, ela vem num momento oportuno, da reconstrução do Ministério, da chegada das novas leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Os gestores saíram animados pra que esses dados – e os que virão a ser produzidos com dados locais – sejam incorporados na prática diária dos projetos. Decisões, correções de rumos e rotas são naturais nas políticas e, quando elas são baseadas em dados, tudo isso fica com mais força e evidência para medir o sucesso das políticas”.

Serviço
Painel de dados

Revista Observatório