O Skulptur Projekte Münster é uma exposição que acontece na Alemanha a cada dez anos. Em 2017, chega à sua 5a edição, refletindo transformações da compreensão do espaço público que impactam as próprias especificidades do evento. Cada vez menos escultórica, a mostra enfrenta agora as novas dimensões da cultura urbana contemporânea. Filtra as experiências do corpo, do tempo e do espaço pelos processos de digitalização e incorpora um leque de artistas como Aram Barthol, destaque da #seLecT7, Pierre Huyghe e o duo Barbara Wagner e Benjamin de Burca.
Para a mostra, o duo brasileiro apresenta o documentário inédito Bye Bye Deutschland! Eine Lebensmelodie, sobre um casal que canta música schlager, uma espécie de brega alemão, muito particular. “O schlager só se encontra com o nosso brega na questão do ‘gosto’ popular, mas esteticamente se apropria de qualquer forma mainstream”, diz Barbara Wagner à seLecT. Os protagonistas do documentário são emblemáticos dessa relação. Naturais de Münster, o casal Markus Sparfeldt e Steffi Teumner são covers de dois artistas bastante diferentes, Udo Jürgens e Helene Fischer. “Udo Jürgens é como um Frank Sinatra alemão. A Helene Fischer, uma Beyoncé mais bem-comportada”, diz Barbara.
Benjamin e Barbara destacam a importância do vínculo entre a música schlager e a câmera. Afinal, é uma música que tinha como grande palco nos anos 1970 os programas de auditório e sua história é também a história da tevê alemã. O filme tem como ponto de partida a boate Elephant Lounge, em Münster, um ponto significativo desse tipo de cultura pop mainstream nos anos 1970 e também o lugar que abrigará a videoinstalação do duo durante o Skulptur Projekte. Além da boate, eles gravaram no jardim botânico, no teatro municipal e no estádio de futebol.
Inevitável associar esse projeto ao que foi apresentado na Bienal de São Paulo por eles, em 2016. Em ambos exploraram a produção de imagens relacionadas a expressões musicais populares e suas indústrias. Não há apenas afinidades estruturais, mas também de linguagem. Barbara destaca que ambos, ela e Benjamin, não trabalharam com diálogos, apenas canções (os personagens entram e saem de estados de performance ou produção). “Os personagens reais se autorrepresentam. Observamos a construção do espetáculo feito para câmera em um documentário que rejeita o naturalismo”, diz ela. Eles não param por aí.
“O próximo filme que sai em julho é sobre gospel feito na Zona da Mata canavieira de Pernambuco”, conclui.