Nos últimos anos, o Instituto Tomie Ohtake mudou consistentemente seu alcance de público. De 400 mil visitantes por ano, passou a 1 milhão. “Isso implica em um aumento de responsabilidade do instituto e em pensar o modo como as exposições podem ser montadas e comentadas, em outros formatos de pesquisa e mediação”, diz o curador Paulo Miyada antes da abertura oficial de Alucinações Parciais – Exposição-Escola com Obras Primas do Brasil e do Centre Pompidou.
Com co-curadoria de Miyada e de Frédéric Paul, do Centre Pompidou, de Paris, o projeto tem o objetivo de propiciar, dentro do espaço físico da exposição, ações, aulas, palestras, workshops, ateliês, debates e outros programas que contribuam para um entendimento aprofundado das obras e os conceitos do Modernismo. Uma arena foi montada no centro da exposição para esse fim. Uma das perguntas iniciais do programa é: “o que esta obra prima provoca em nós?”
O título Alucinações Parciais foi emprestado de uma obra de Salvador Dalí, presente na mostra. A narrativa curatorial baseia-se em grandes nomes da história da arte, como Picasso, Miró, Leger, Malfatti, Portinari, Maria Martins, Nery. Talvez por isso os curadores ressaltam o termo “obra-prima” ao referir-se aos trabalhos expostos. Caberia, no entanto a revisão do termo, em um momento em que a historiografia da arte está em franca e contínua revisão.
Um dos aspectos que chamam a atenção quando se está diante de “Quadro com mancha vermelha” (1914), de Kandisnky, é a ausência – tanto na exposição quanto na coleção do Centro Pompidou – de uma obra Hilma af Klint. “Descoberta” há apenas dez anos pela historiografia europeia, a sueca af Klint (atualmente em cartaz na Pinacoteca de São Paulo) desbancou Kandinsky do pioneirismo do abstracionismo na Europa. A ausência de af Klint ecoa ainda a ausência de artistas mulheres no recorte do curador francês Frédéric Paul – diferentemente da seleção de obras brasileiras feita por Miyada.
“Poderíamos ter apresentado dez obras primas e basta. Mas estamos apresentando 20 obras primas que dialogam de maneira interessante”, diz Paul durante visita antes da abertura oficial da mostra. O diálogo proposto é entre o modernismo europeu e o brasileiro, com dez obras do Centre Pompidou e dez de artistas brasileiros, provenientes das coleções do MASP, Pinacoteca, Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e particulares. “Esse encontro com modernos brasileiros preenche uma lacuna, porque esse período está muito pouco representado na coleção do Pompidou”, afirma Paul.
Ricardo Ohtake, diretor do ITO, afirma que esta é a primeira de uma série de colaborações entre as duas instituições. A programação completa da exposição-escola inclui 150 atividades ao longo de 65 dias. Antes de programar sua visita, confira aqui que tipo de experiência deseja ter ao entrar em contato com os trabalhos.
Serviço
Alucinações Parciais
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 – São Paulo
Até 10/6
institutotomieohtake.org.br