A experimentação com novos meios e a expansão do vocabulário artístico marcaram a produção da arte do Nordeste no século 20, fortalecendo-se a partir dos anos 1960. A rizomática e transnacional rede de Arte Correio, por exemplo, teve nessa região a maior participação de artistas do Brasil. O Poema/Processo, importante movimento de poesia de vanguarda brasileira, interligou o Rio de Janeiro com o Rio Grande do Norte, redefinindo conceitualmente o poema como um fenômeno que possibilita experimentar as muitas formas de linguagens, inclusive a visual. Esses e outros movimentos experimentais eram anticomerciais e antissistema e criaram sua própria forma de circulação, não baseada na parte institucionalizada da ecologia da arte. Ao usar o papel, por exemplo, um dos suportes mais desvalorizados, esses artistas apostavam em outra maneira de fazer e de pensar a arte.

Montez Magno (PE)
Montez transita entre várias linguagens, tais como a pintura, a ilustração, a poesia e a escultura, tendo como norte a experimentação formal e a expansão das questões da arte moderna. A arquitetura ocupa um lugar significativo em suas pesquisas, assim como a poesia visual.

Dailor Varela (RN)
A poesia stricto sensu foi a grande formação de Dailor Varela, sendo João Cabral de Melo Neto sua primeira grande influência. O Poema/Processo propiciou uma virada em suas experimentações com a linguagem, passando a radicalizar tanto os signos verbais quanto os visuais.

Unhandeijara Lisboa (PB)
Unhandeijara pode ser considerado um multiartista. Sua atuação compreende uma dinâmica participação no movimento de Arte Correio, sendo o responsável pela capa da publicação Karimbada, e na aposta da xilogravura como uma maneira de fazer convergir tradição e experimentação.

Leonhard Frank Duch (Alemanha/PE)
Alemão, mudou-se com a família inicialmente para São Paulo e estabeleceu-se no Recife, onde se formou em jornalismo. Integrou-se à fervilhante cena cultural de Pernambuco e foi um ativo membro da rede da Arte Correio. Seus trabalhos abordavam o sistema político e o próprio estatuto da arte num mundo em transição. Voltou a morar na Alemanha em 1994.

Letícia Parente (BA)
Apesar de sua obra em vídeo ser a mais reconhecida, o desenho, o xerox e a Arte Correio também ocuparam papel de destaque no universo artístico de Letícia Parente. Devemos ressaltar a complexidade de seu pensamento – que perpassa ainda a química, sua área de formação, sendo autora do livro Bachelard e a Química – no ensino e na pesquisa. Costumava dizer que seu trabalho tinha uma dinâmica mais ramificada do que linear.

Daniel Santiago (PE)
Muito conhecido por sua atuação na Arte Correio e na dupla Bruscky & Santiago, Daniel construiu um corpo de trabalho que não se limita às contestações estéticas dos anos 1970. Foi designer gráfico e professor de arte. Sobressaem em suas obras a exploração poética do cotidiano, os questionamentos filosóficos sobre a solidão, a vida e a liberdade e a aliança com a literatura e o teatro.

Falves Silva (PB)
Falves conectou-se muito cedo com o sentimento de vanguarda que busca romper com paradigmas e forjar torções semânticas. Para ele, o Nordeste é um território que aponta para o futuro, um lugar profícuo para novos horizontes, talvez por estar longe demais das capitais. Além de participante do Poema/Processo, Falves também foi integrante da Arte Correio.
*Curadoria publicada originalmente na #select21