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Postado em 14/01/2013 - 8:37
Pieter Hugo’s Nollywood
Juliana Monachesi

O fotógrafo sul-africano Pieter Hugo interpreta a indústria cinematográfica da Nigéria

“Estamos fazendo cinema para as massas. Nós não fazemos filmes para a elite assistir em suas casas de vidro. Eles podem se dar ao luxo de ver seu Robocop ou qualquer coisa parecida”, afirma a diretora e produtora Paz Piberesima.

Mahmood Ali Balogun, outro produtor e diretor de Nollywood, defende também a ideia de que “para aqueles que trabalham no cinema nigeriano, o que se faz aqui é um cinema de subsistência, é o que as pessoas fazem para ganhar a vida. Não é como fazer cinema de fantasia com um grande orçamento. Assim que termina um filme, você se joga no set para começar outro, senão você não tem o que comer”.

Os depoimentos são parte do documentário This Is Nollywood (2007), do diretor Franco Sacchi, sobre a florescente indústria cinematográfica da Nigéria, que em 15 anos de existência já transformou a cultura popular local. Depois de Hollywood e Bollywood (Índia), o cinema nigeriano é a terceira maior indústria do mundo (segundo relatório da Unesco de 2009), produzindo anualmente quase 2 mil filmes de baixo custo, lançados diretamente em vídeo. No contexto africano, esses produtos audiovisuais são uma das raras instâncias de autorrepresentação na mídia de massa do continente, segundo Federica Angelucci, curadora italiana sediada na Cidade do Cabo. “Trata-se de uma narrativa para a população africana, com a qual ela pode se identificar”, explica Franco Sacchi.

Para perscrutar a realidade da indústria nigeriana de filmes, o fotógrafo sul-africano Pieter Hugo escolheu o caminho menos óbvio: em vez de ir a campo documentar os sets de filmagens e as criações que costumam ser executadas – do início ao fim – em pouco mais de uma semana, Hugo recriou as cenas, temáticas e personagens mais recorrentes e característicos de Nollywood. Assim como fizera com a série The Hyena & Other Men (2005-2007), mostrada na 27ª Bienal de São Paulo, o artista encena tudo. E consegue, desse modo, o retrato mais fiel de seu assunto.

As fotografias da série Nollywood (2008-2009) foram tiradas com uma câmera de médio formato nos centros de produção cinematográfica de Enugu e Asaba, no sul da Nigéria, com atores verdadeiros e assistentes atuando em cenas inspiradas nos filmes e no imaginário popular típico retratado nos filmes. Segundo Angelucci, o cinema na Nigéria conta histórias e reflete as vidas de seu público. “As estrelas são atores locais, os enredos confrontam o observador com situações familiares de romance, comédia, bruxaria, suborno, prostituição.

A narrativa é exageradamente dramática, sem finais felizes. A estética é violenta e excessiva; nada é dito, tudo é gritado”, afirma ela. As imagens da série de Pieter Hugo refletem tanto a estética de Nollywood quanto suas condições de produção, já que maquiagem e figurino eram improvisados em pouco tempo e os locais escolhidos para as fotos muitas vezes já não ficavam mais disponíveis quando a produção estava completa. Coisas da vida real. E mais um motivo para simpatizar com as representações nigerianas: conforme o próprio artista, o mais fascinante dessa indústria talvez seja o fato de priorizar os finais trágicos, em detrimento dos desfechos felizes que, segundo Hugo, são artificiais. “Acho a versão nigeriana do mundo mais honesta, porque possibilita que o espectador se relacione com as tragédias da vida e com aspectos não resolvidos da existência humana”, diz Pieter Hugo.

*Publicado originalmente na edição impressa #6

* Fotos: cortesia Pieter Hugo / galeria Stevenson (Cape Town / Johannesburg) e galeria Yossi Milo, New York