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Sala em que Anna Maria Maiolino exibe conjunto de vídeos no Pivô (Fotos: Everton Ballardin)
Postado em 18/04/2018 - 12:44
Prelúdio de uma exposição individual
Configuradas pela artista especificamente para o Pivô, obras de Anna Maria Maiolino roubam a atenção em exposição coletiva Imannam
Luana Fortes

A exposição que inaugura o Programa Anual de Exposições do Pivô reúne Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima, artistas de três gerações diferentes, com curadoria de Tania Rivera. A partir de um jogo com as letras de seus nomes, a coletiva recebe o título Imannam, replicando um suposto entrelaçamento entre os trabalhos exibidos. Em texto sobre a mostra, afirma-se que não se pode determinar onde termina o trabalho de uma artista e começa o da outra. Isso de fato acontece em obras de Linnemann e Lima, especificamente feitos para o Pivô. No entanto, até que ponto é possível um entrelaçamento entre essas obras e a produção de uma artista com mais de 50 anos de trajetória?

Ao entrar no espaço expositivo, a obra Caramujo (2018), de Laura Lima, pretende desestabilizar ou ativar o corpo do público. Lima rebaixou o teto de uma parte do Pivô e espera que as pessoas se curvem e passem debaixo dele. No entanto, muitos simplesmente desviam do trabalho e acabam também deixando de notar Os Invisíveis (número 11) (2017), de Ana Linnemann, que já tem como proposta não ser imediatamente percebido. Uma instalação sonora de Anna Maria Maiolino, Trans-versos (2012), também entra no jogo de relações, por mais que seja a única obra de Maiolino que de fato estabelece contato com as de suas companheiras de exposição.

 

Adiante, após curvar-se à obra de Lima (ou desviar dela), dá-se de cara com Os Invisíveis (número 12). Outra vez sútil, o trabalho talvez também não seja notado. A obra de Linnemann que mais clama por atenção é A Mesa Do Ateliê (2018). Com um espaço mais reservado, tem um aspecto desconstruído que faz com que a instalação pareça parte do Pivô. Mas apresenta partes que convidam um olhar mais curioso, como um lápis desenhando em um caderno, movimentado por um pequeno motor, ou uma espiral iluminada que desce de uma mesa ao chão.

Logo a frente, uma sala quadrada paira sobre o espaço, suspensa. Um tanto esquisita, traz um feixe esburacado que permite enxergar aquilo que se passa por dentro. É o Quarto Incapacitado (2018) de Laura Lima. Ao olhá-lo, remanesce na cabeça do público se aquilo sempre esteve ali, parte do Pivô, quando na realidade foi inteiramente projetado pelo artista. Lima escalou Kimis Noda e Leandro Muniz, da equipe de curadoria do espaço, para trabalhar dentro do quarto enquanto a exposição estiver acontecendo. O nome dos dois está inclusive na ficha técnica do trabalho.

E, depois dessas dúvidas sobre o que é ou não trabalho de arte, geradas por sutilezas e relações espaciais, a exposição ganha cara de exposição. Anna Maria Maiolino expõe uma instalação com cadeiras e ovos, uma intervenção na parede com poema de T.S. Elliot, o trabalho Estado de Exceção (2009-2012), além de 12 vídeos que roubam a atenção com a maior imponência. “Não me importava muito saber o que elas estariam mostrando”, disse a artista em vídeo exibido na mostra. “As duas eram construtoras e eu me sentia um corpo estranho”, continua, enfatizando também o respeito que sente por ambas. E, é uma pena, ou um prazer, afirmar que Maiolino é realmente um corpo estranho em Imannam. Estranho no sentido de especial, de algo que se sobressai. Ao atravessar a exposição, logo deixa-se de considerá-la uma coletiva. Em certo momento, você se encontra em uma individual de Anna Maria Maiolino e recebe uma torrente de investigações de uma artista de 76 anos, experimentando com antigos trabalhos, montando instalações com vários vídeos em sincronia admirável e, sem dúvida e sem sutileza, fazendo com que a coletiva anterior fosse considerada um prelúdio do que vem a seguir.

Serviço
Imannam – Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima
Pivô
Avenida Ipiranga, 200 – Edifício Copan, lj 54 – São Paulo
Até 2/6/2018
pivo.org.br