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Crianças interagem com a videoinstalação Stellentstellen (2013), do artista e coreófrafo William Forsythe (Foto: Luana Fortes)
Postado em 10/07/2019 - 10:32
Quem é você na terra dos desinibidos?
Obras do artista e coreógrafo norte-americano William Forsythe despertam corpos de diferentes públicos
Luana Fortes

William Forsythe: Objetos Coreográficos, com curadoria de Veronica Stigger e da Forsythe Produções, parece a princípio uma exposição que não tem nada para incomodar. Ela foca nos intercâmbios entre arte e dança, não toca em assuntos quentes do momento e mostra ao público brasileiro pela primeira vez a obra do bailarino norte-americano, que foi diretor do Ballet Frankfurt e fundou sua própria companhia em 2005. Mas, à medida que o público é convocado a se movimentar, passam a se manifestar efeitos contraditórios que variam do constrangimento à catarse.

Grupos de crianças fazendo visitas mediadas unem-se em frente à videoinstalação Stellentstellen (2013), em que dois dançarinos entrelaçam seus corpos a partir de uma combinação coreográfica. Uma mediadora do Sesc Pompeia comenta de canto que há alguns dias um senhor se aborreceu com a dubiedade do trabalho. Seria um ato sexual? São dois homens gays? Outro mediador pergunta às crianças se elas querem seguir ao outro trabalho. Elas gritam que não.

Na instalação inédita Insustentáveis, São Paulo (2019), são oferecidos fones de ouvido que dão orientações de deslocamento. Essa é a obra mais desafiadora da exposição, tanto em termos de extroversão quanto de ação demandada. É bastante improvável que você consiga fazer tudo o que o áudio sugere. Eventualmente, há aqueles indivíduos solitários interagindo quase em transe. Há também quem não entre no círculo delimitado para a ação, mas que acaba se arrependendo pela falta de coragem.

Para os mais acanhados, um banco posicionado no meio do deck do edifício projetado por Lina Bo Bardi pede: “Ande dezenove passos a partir do banco. Com seus olhos fechados. Ande para trás e sente-se”. Mais inofensiva, a instrução é suficiente para provocar uma nova relação com o espaço e com o corpo. E, para os acanhadíssimos, bastante impressionante é o vídeo Palestras a Partir de Tecnologias de Improvisação (2011). O trabalho elabora uma metodologia para a dança improvisada a partir do desenho. Nesse caso, basta sentar e assistir. Mas mesmo aqui pode surgir uma singela vontade de levantar e tentar botar em prática aquilo que ensina Forsythe. O corpo do público também é objeto coreográfico.

Serviço
William Forsythe: Objetos Coreográficos
Até 28/7
Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93 – São Paulo
sescsp.org.br