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Fotografia da exposição Sereias (Fotos: Divulgação)
Postado em 12/07/2016 - 5:58
Sereias sem cauda e com reivindicações
Exposição em Fortaleza mostra série de fotografias e vídeo documental sobre mulheres pescadoras
Ana Abril

No imaginário popular, as sereias são seres marinhos com cabeça e torso de mulher e cauda de peixe. Geralmente, elas são pensadas como mulheres exóticas, com forte poder de atração e vozes mirabolantes e sedutoras. Para os pesquisadores e fotógrafos Sérgio Carvalho e Fernanda Oliveira, contudo, as sereias do século 21 moram no Nordeste brasileiro e são mulheres empoderadas, com dupla jornada de trabalho e que compartilham com as sereias mitológicas a relação com o mar.

Sob este olhar, nasceu a exposição Sereias, que estará aberta ao público a partir do dia 13/7, no Espaço Cultural Correios Fortaleza (ECC). A mostra, formada por 30 fotos e um vídeo documental, surge de uma pesquisa antropológica de 5 anos de duração sobre as mulheres que participam ativamente da pesca no Ceará.

Fotografía realizada por Sérgio Carvalho e Fernando Oliveira
Fotografía realizada por Sérgio Carvalho e Fernanda Oliveira

A curadoria de Sereias está assinada pelas pesquisadoras Angela Magalhães e Nadja Peregrino, com expografia do designer Ademar Assaoka e textos da jornalista Iana Soares. O click artístico de Carvalho e Oliveira também permite um olhar documental, que leva o espectador a conhecer o rosto e o trabalho de mulheres pescadoras, marisqueiras, lagosteiras e algueiras. O vídeo documental, por sua vez, foi realizado pelo cineasta Tibico Brasil e complementa a mostra fotográfica.

Além de modernizar uma figura mitológica, a mostra também tem uma forte marca feminista. Tal e como demonstram as fotos, o feminismo se instala em regiões litorâneas do Nordeste quando as mulheres começam a se conscientizar da importância do trabalho que realizam como pescadoras e como cuidadoras do lar, uma dupla jornada muitas vezes desvalorizada pela sociedade. Como consequência dessa conscientização, as mulheres pescadoras estão se organizando em associações e colônias para reivindicar seu espaço em uma atividade predominantemente masculina.

Imagem da exposição Sereias
Imagem da exposição Sereias

Nesse território, feminismo une-se à conservação do meio ambiente graças à preocupação dessas mulheres pescadoras, que junto com suas famílias, resistem ao despejo de suas comunidades. Com o intuito de preservar a natureza e manter suas atividades artesanais, nordestinos lutam para resistir em suas terras, consideradas por empresas e pelo governo como espaços com grande potencial turístico.

Tudo isso poderá ser observado e discutido em Sereias, que fica em cartaz até 3/9. O projeto ainda se tornará um  livro com o mesmo nome e com lançamento previsto em agosto, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC).

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