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Postado em 21/01/2016 - 4:31
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Galeria Nara Roesler abre filial em Nova York. Lançamento oficial será durante a feira Armory Show 2016, em março
Paula Alzugaray

O Flower District, de Nova York, não é um endereço com tradição no mundo da arte. Mas é lá, entre uma loja de chapéus e um comércio de bijouterias, que a Galeria Nara Roesler está começando um novo capítulo de sua bem-sucedida trajetória no sistema de arte internacional. No segundo andar do número 47 da Rua 28, quase esquina com a Broadway, não está apenas a mais nova galeria comercial a abrir em Nova York. Está uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil, fundada em 1989, atuante em dois grandes espaços em São Paulo e no Rio de Janeiro e dona de um forte programa de internacionalização que começou com a participação em feiras no exterior, há 15 anos.

Alexandra Garcia, diretora da Nara Roesler New York diz que, como toda a ilha de Manhattan, aquela área está mudando rapidamente. Mas o que é realmente sedutor no Flower District é que esta é uma das últimas áreas que ainda não entraram no ciclo de especulação imobiliária e gentrificação que sobe vertiginosamente os preços de alugueis, inviabiliza pequenos comércios e expulsa os ateliês de artistas.

Chegar ao 47 W28th Street tem um gostinho de – porque não – SoHo nos anos 1970, Lower East Side nos anos 1980, ou Chelsea nos 1990, antes desses bairros terem se tornado as mecas do mercado de arte mundial e serem invadidos por lojas de design, hotéis e restaurantes 5 estrelas e grifes de luxo.

Há quem aposte que, pela proximidade com o Chelsea, o Flower District seja a bola da vez. Como vizinhos, a Nara Roesler tem a Casey Kaplan Gallery, e por pouco tempo a Broadway 1602, galeria que representa Lenora de Barros e Marcius Galan em NY, mas que está de mudança para o Upper East Side. Outros apostam no West Harlem, onde a Mendes Wood DM está a ponto de arrematar um imóvel para, em breve, instalar sua filial nova-iorquina, em operação casada com a poderosa Mike Verner Gallery, que também tem filiais em Londres e Berlim.

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Alexandra Garcia, diretora da Nara Roesler New York (Foto: Cortesia Galeria Nara Roesler)

A chegada das duas galerias brasileiras à Big Apple se dá em um momento de reconfiguração do mapa das artes local, quando várias galerias estão debandando de um Chelsea inflacionado. É certo que o fato do compositor George Gershwin ou de Marilyn Monroe terem vivido na W28th  dá ao local uma aura especial. Mas é muito menos relevante do que o fato do endereço estar realmente no coração da ilha, no meio do caminho para qualquer uma das coordenadas a norte, sul, leste ou oeste.

A ideia que norteia a operação Nara Roesler NY é justamente esta: posicionar-se no centro da ilha e do mundo, onde clientes da Europa, América Latina, Ásia e América do Norte circulam com desenvoltura. “Nova York é um hub”, afirma o diretor Daniel Roesler. “A meta é ter um endereço acolhedor para atender os clientes internacionais da galeria e para estarmos mais próximos dos curadores, dos consultores e dos comitês de aquisição dos museus”. O percentual de vendas para estrangeiros atualmente é de 20 a 25%. “Queremos dobrar esse percentual”, diz Roesler.

Operação sustentável
Com a alta do dólar, o investimento teve seu grau de risco dobrado. “Por isso, é muito importante começar esta operação com custos baixos”, diz a diretora Alexandra Garcia. “Estamos chamando o espaço de viewing room. Quero receber no estilo brasileiro, para tomar um café e falar sobre arte”.

A diretora aponta que, se o crescimento acontecer como eles planejam, em três anos podem se mudar para um ground floor. Mas o que interessa nesse momento não são os metros quadrados de paredes, nem a vitrine para a rua. Além das vendas com hora marcada para clientes, a galeria está focada em se posicionar como plataforma para articulação de projetos e parcerias institucionais que contribuam para a construção da imagem dos artistas brasileiros no exterior.

Daniel Roesler aponta como o primeiro grande projeto a individual de Tomie Ohtake na Tina Kim Gallery, uma das galerias Blue Chip de NY, com forte presença na Ásia, com abertura marcada para 2 de março. “A gente espera que essa exposição traga o entendimento da obra de Tomie que ela merece, tanto nos EUA quanto na Ásia”, diz Roesler.

A galeria está funcionando desde Dezembro de 2015 e terá seu lançamento oficial na Armory Show 2016. Mas as ações começaram muito antes disso. A lista das conquistas dos últimos três anos não são nada desprezíveis: exposição de Antonio Manuel na American Society, de Paulo Bruscky no Bronx Museum, a participação de Antonio Dias na coletiva Transmissions, no MoMA – abrindo a exposição –, e de outros artistas na coletiva Under the Same Sun: Art From Latin America Today, no Guggenheim Museum. Além disso, eles viabilizaram a publicação e distribuição para EUA e Europa 15 livros em inglês sobre arte e artistas brasileiros, editados pela APC Brasil. “Na Armory vamos mostrar um Brasil poderoso – Vik Muniz, Antonio Dias, Paulo Bruscky, Lucia Koch, Marcos Chaves, Artur Lescher. Na galeria, vamos mostrar nossos artistas internacionais”, diz Alex Garcia. Em abril/maio, durante a Frieze Art Fair, Moacir dos Anjos fará no espaço uma curadoria de Cao Guimarães.

A operação NY irá alterar o plano de participação em feiras da galeria. Este ano, a Nara Roesler deixará de fazer as feiras européias e latino-americanas para jogar todas as fichas nos EUA. Fora dos EUA, apenas a participação na Art Basel Hong Kong será mantida. A entrada de Daniel Roesler no comitê da Armory Show também irá pesar dentro do processo de aclimatação no novo endereço. O estreitamento de contatos com galeristas nova-iorquinos, que estão no comitê, como Marianne Boesky e Sean Kelly, sem dúvida renderá altas conexões e parcerias. Assim aconteceu, por exemplo, com Luciana Brito, que durante 5 anos integrou o comitê da Armory e fechou negócios de ouro, como a representação de Marina Abramovic no Brasil.