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Postado em 30/03/2012 - 12:49
Tátil, tangível
Paula Alzugaray

Designers e artistas colocam a mão na massa para criar espaços e objetos que atingem altos níveis de sedução tátil. É o contra-ataque da gestualidade e do palpável?

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Legenda: Escultura Hercule (2011), de Joana Vasconcelos (Foto: Daniel Malhao)

Os Bubble games bem que tentaram. Viraram mania em laptops e palmtops, como que reverberando em uníssono: o que a ponta dos dedos não toca, o corpo não sente. Mas isso até aparecerem mobiliários inteiramente revestidos por plástico bolha, devolvendo-lhe a condição de “material” e redimensionando suas relações sensoriais.

Ao criar a Bubble chair, os designers brasileiros Rodrigo Almeida e Guto Requena evocaram a memória infantil de estourar as bolhinhas com os dedos, mas amplificando-a para todo o corpo. “Decidimos penetrar essa bolha e seguir um caminho que guiou nossos pensamentos para um universo onírico e de fantasias, obedecendo apenas à vontade do material e dos estímulos que ele proporcionava”, afirmam eles. Como Almeida e Requena, há diversos artistas e designers que trocam o tato da tecla do computador pela criação de espaços tangíveis e tridimensionais.

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Legenda: Bubble Chair (2011), de Rodrigo Almeida e Guto Requena, feita de plástico bolha (Foto: Marcos Cimardi)

Quando a dupla Humberto e Fernando campana deixou a zona de conforto dos produtos industriais macios, abandonando-a pelo tensionamento entre realidades tão contraditórias como o vime e o plástico, chegou a uma obra que explora por completo o fascínio das matérias.Isso fica evidente em seus objetos artesanais, como o cabideiro de couro em forma de árvore seca, uma de suas últimas criações. Na França, a manualidade faz a diferença do Petit h, laboratório criativo da Hermès, que desde 2010 aproxima designers e artesãos em atividades de reaproveitamento de matéria-prima. a responsável pelo projeto, Pascale Mussard, define a produção como “objetos poéticos não identificados”.

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Legenda: Mancebo Caatinga, dos Irmãos Campana, da Firma Casa (Foto: Fernando Lazlo).

O trabalho manual chega às últimas consequências em Daniel Asrham/Snarkitecture, tornando-se um impulso tátil corporal. na instalação performática DIG, realizada em Nova York, em 2011, o artista, armado de martelos, picaretas e cinzéis, mergulhou em blocos de isopor, criando um ambiente tridimensional que denomina “arquitetura da escavação”. “Nós não usamos modelagem paramétrica. todo o nosso trabalho é criado pelas mãos”, diz Asrham, que com o mesmo empenho braçal manufaturou as paredes da loja do estilista Richard Chai, em Nova York. Seu design tátil e tangível inclui também a Ghost Chair, coberta pela pele de um falso tecido. efeito ótico e desejo tátil também se combinam nos trabalhos do italiano Maurizio Galante, que chegou ao design pela via da alta-costura. seus pufes tato-tatoos são objetos que despertam os sentidos de cuidado e afeto, pets que pedem para ser abraçados.

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Legenda: Puff Tato-White Bunny, de Maurizio Galante, feito em poliuretano macio coberto com tecido tecnológico e imagem impressa, da Firma Casa (Foto: Baleri)

Sentar, deitar e rolar é o tipo de relação que todo design tangível pede. Mas o que acontece quando obras de arte, que não devem ser tocadas – especialmente quando expostas em galerias e instituições – atingem altos graus de sedução tátil? “Reconheço que o meu trabalho tem esse elemento de tatilidade, e que a abundância de cor, as texturas, as formas e o movimento convidam o corpo a interagir”, diz a artista portuguesa Joana Vasconcelos. em trabalhos de parede, como Hallyu, de 2011, o desejo do tangível deve ser satisfeito pelo tato do olho. mas, na obra da artista, a interação física pode ser alcançada em instalações como Passerelle, Spin e Ponto de Encontro.

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Legenda: Escultura Hallyu (2011), de Joana Vasconcelos (Foto: Fernando Lazlo)

A dicotomia palpável/não palpável move também a obra da brasileira Maria Nepomuceno. Entre suas instalações destacam-se objetos em forma de redes feitas de cordas, palhas, contas e colares, que instigam visão e olfato, encantam pelos brilhos e cheiros, mas que não podem ser usados.

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Legenda: Girafa em crocodilo (2011), criada por Marjolijn Mandersloot para o ateliê Petit h. (Foto: Coco Amardeil)

“Acho que um desenvolvimento natural da obra é que ela se torne de fato absolutamente tátil e possa ser experimentada pelo corpo plenamente. Essa é uma das questões da minha obra e em algum momento essa entrega/desapego vai acontecer!”, anuncia.

*Publicado originalmente na edição impressa #4.