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Still do vídeo Quando a fé move montanhas (Versão documental 2000-2002), de Francis Alÿs (Foto: Divulgação 6ª Bienal do Mercosul)
Postado em 04/03/2021 - 5:44
#tbt seLecT #7
Os impactos do nomadismo na cultura, no consumo e na tecnologia foram assunto em edição de 2012
Da redação

Leia o Admirável Mundo Móvel para se lembrar de como o mundo mudou em apenas dez anos. Parodiando o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, a seLecT #7 foi dedicada à mobilidade e à velocidade. Artistas viajantes, dispositivos eletrônicos portáteis, mochileiros, Ícaros, Sísifos e drones congestionam as páginas da edição lançada em agosto de 2012, que também comemorava o primeiro ano da revista. 

Capa da seLecT #7

Naquele momento, a internet móvel apenas começava a se tornar uma realidade concreta, dando à luz os smartphones e liberando os usuários do sedentarismo dos computadores de mesa ou do peso dos laptops. Atenta às armadilhas da obsolescência programada, seLecT analisava, no Mundo Codificado, os paradoxos na vida dos “doentes por conexão”: conforme os equipamentos tecnológicos ficam menores, mais tempo passamos conectados no trabalho, menos calorias gastamos e menos horas de sono dormimos. 

A mesma questão é analisada desde outro ângulo na seção Curto Circuito, em que o urbanista Renato Cymbalista, o engenheiro civil e sociólogo Eduardo Alcântara Vasconcellos e o arquiteto e designer Caio Vassão respondem à pergunta: Acelerar está nos fazendo parar?

Mecas da vida em trânsito, os aeroportos são associados a megacidades, em ensaio de Paula Alzugaray, ilustrado com Aeroporto (2012), da célebre série de vistas aéreas de Cassio Vasconcellos, também capa da edição. Outro ensaio, de Angélica de Moraes, convida a uma viagem através da história milenar do desejo de voar, desde os tapetes voadores – cuja primeira referência, segundo a autora, está no Corão –, até os Flying Carpets de Alex Flemming.  

Na matéria de artes visuais – que naquele tempo ainda não tinha a alcunha de “curadoria” –, Juliana Monachesi aborda os artistas caminhantes e a performance “como profissão de fé”. Lita Albuquerque, Esther Ferrer, Simon Starling, Oriana Duarte e Francis Alÿs compõem o quadro dos “novos Sísifos que enfrentam o sol e o desgaste físico, deixando os rastros poéticos de seus trajetos pelo mundo”. Em outra reportagem, Monachesi discute os artistas que tem o deslocamento como modo de vida, saltando de residência em residência artística.

Nina Gazire especula o futuro do jornalismo sob a influência dos drones, a partir de uma análise da cobertura realizada pelo jornalista Tim Pool do movimento Ocuppy Wall Street, em 2011, em Nova York, quando esses “aeromodelos” ainda eram uma novidade incipiente. 

Portfólio da edição, o artista Aram Bartholl apresenta uma obra que defende o open source e critica o monopólio digital de empresas como o Google. Em trabalhos de intervenção urbana e digital, Bartholl é uma confirmação da tese da edição #0 da seLecT: o fim do virtual. 

A cidade também é foco de ensaio visual de Ricardo van Steen, diretor de arte da seLecT, sobre os “homens-seta”, que anunciam lançamentos de empreendimentos imobiliários e são, segundo texto do escritor Ronaldo Bressane, “uma espécie de lumpesinato em um mundo neoliberal, uma versão contemporânea do homem-sanduíche moderno”. 

Bressane também assina um perfil dedicado ao casal Lady Jaye e Genesis P-Orridge, que no projeto Pandroginia passam por uma série de operações estéticas e neurolinguísticas para se tornarem clones um do outro. Na seção de literatura, junto aos escritores Antônio Xerxenesky e Joca Reiner Terron, Bressane foi um dos convidados a desenvolver pocket contos ilustrados com fotos extraídas do Instagram.

Em entrevista, Hans Ulrich Obrist, um dos curadores mais incensados do mundo, discute sua obsessão pelo formato da entrevista. Em 2012, o curador já havia lançado no Brasil cinco volumes de entrevistas pela Editora Cobogó. “As entrevistas formam uma história polifônica do tempo em que estou vivendo”, relata o curador à Juliana Monachesi.

Em Coluna Móvel, Ana Letícia Fialho que, para nossa felicidade, é colaboradora recorrente da revista desde o começo, registrava um momento histórico do nosso sistema de arte, com o volume de negócios das galerias crescendo, em média, 44% ao ano, em patamares bem acima de outros setores da economia. 

Fecham a edição um Obituário da secretária eletrônica (1935-2000) e um Delete (seção de críticas destrutivas) de usos viciados do “Bombril do século 21, com 1001 utilidades”, o telefone celular. 

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