A exposição Um Defeito de Cor, montada inicialmente no Museu de Arte do Rio, e premiada como Melhor Exposição do Ano 2022 pela revista seLecT_ceLesTe, iniciou sua itinerância em Salvador. O museu escolhido para abrigá-la foi o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira. Localizado no final de linha da Praça da Sé, pouco antes do Elevador Lacerda, Pelourinho, Centro Histórico e artístico da cidade, o MUNCAB tem o objetivo de “preservar o patrimônio cultural afro-brasileiro, contribuir para a promoção da igualdade racial, respeito à diversidade cultural, a valorização e preservação da memória e das expressões culturais afro-diaspóricas”. O fechamento do MUNCAB, portanto, significava um desleixo dos órgãos competentes em relação a tudo o que o Museu se propõe. Seu prédio, projetos e anseios, se encontram protegidos e abarcados pelo gradil Histórias de Ogum, criado pelo reluzente artista baiano J.Cunha, filho de Xangô, orixá do equilíbrio e da justiça.
Xangô também reivindicou, segundo Ana Maria Gonçalves, o livro Um Defeito de Cor. Por essa razão, este foi “ofertado” ao orixá num terreiro em Salvador. Cidade onde Gonçalves foi apresentada aos caminhos que a levaram à escrita de um dos maiores clássicos da literatura brasileira contemporânea, aqui, numa das ruas por onde a autora transitava buscando casas para suas personagens, a poucos metros do Pelourinho, aqui, é onde o livro, a autora e a exposição retornam para religar o seu/nosso início e futuro. É também disso que se trata a reabertura do MUNCAB com Um Defeito de Cor. O Museu hoje funciona como um portal.
Atravessando o gradil já citado, cujo protótipo está na exposição, estando prestes a entrar, o público é convidado a atravessar a obra penetrável Igbaiwá (2021), assinada pela artista baiana Nádia Taquary e pelas artífices Ana Carolina dos Santos, Brenda Marley, Camila Santana, Luciene Santana, Maiara Silva, Maísa Oliveira, Neide Santana, Roselene dos Santos, Rosemary Lubarino, Rosiane Batista, Sabrina Silva e Sônia Ferreira. Trata-se de uma instalação com fios de conta/guias feita de miçangas vermelhas que formam o desenho de uma cabaça, a Igbaiwá – a Cabaça da Existência, segundo Klass Wootmann Woortmann, no artigo Cosmologia e Geomancia: Um Estudo da Cultura Yorùbá-NÃ gô. A cabaça também é comumente ligada ao útero, à criação gerada pelas forças/energias/figuras femininas, como afirma Adilbênia Freire Machado, no artigo Filosofia Africana e Saberes Ancestrais Femininos: Útero do Mundo. A relação entre a cabaça logo na entrada e o início do livro fica nítida quando pensamos na crença de que duas metades não podem ser separadas. Segundo Woortmann, vários relatos informam que a abertura da cabaça “resultou na destruição da ordem – a morte do cosmos enquanto mundo organizado”. É um retrato dessa desordem que vemos na série de cinco aquarelas, também produzidas por Taquary. Nalgumas delas vemos cabaças, noutras há mais nitidamente a relação com o “riozinho de sangue” mencionado logo no início do livro, quando ler se torna, pela primeira entre muitas vezes, um ato de coragem. Uma das aquarelas é intitulada Ekodidé, nome dado a uma pena avermelhada retirada da cauda de um papagaio. Tal pena é utilizada em rituais do candomblé, inclusive na feitura de santo, e simboliza realeza e honra, possibilitando ao portador da pena tornar-se portador também do dom da palavra e da sabedoria.
IROKO, ÁRVORE ANCESTRAL
Em seguida, vemos a primeira obra da também baiana Goya Lopes. A artista e designer têxtil fez uma estampa para cada capítulo do livro Um Defeito de Cor, todas presentes na exposição. As longas faixas de tecido estampadas são utilizadas para marcar diferentes momentos e temas ao longo do percurso. Diante da obra de Goya, pouco antes de adentrarmos definitivamente a exposição, temos um longo texto curatorial. Seu tamanho e letras miúdas, junto à presença de um outro texto logo ao lado, já nos lembram das 952 páginas do livro. Essa é uma lembrança que se mostrará infeliz e recorrente. Afinal, contando apenas no primeiro andar da exposição, são 20 textos apresentados como notas de rodapé (mais pela posição que ocupam que pela relevância do teor). O primeiro deles tem mais de mil caracteres, um glossário com cinco palavras, e trata de iroko, a árvore que é “a própria representação de ancestralidade, dos antepassados e da história da comunidade e do ilê onde foi cultuado”. No glossário consta uma longa definição da palavra “abriku” que se mostra muito mais relevante no livro e mesmo nele é definida de forma muito mais resumida. Ao lado de tal texto, temos três obras que fazem referência a Iroko: Samaúma (2022), também conhecida como o baobá brasileiro, e Iroko (2022), ambas de Matheus Ribs; a terceira obra é Árvore da Memória para Jamais Esquecer (2020), da artista baiana Ani Ganzala.
Há, com a presença dos textos, o desenho de uma linha muito tênue entre a remanescência, a “citação” ao livro, e a dependência dele. É bem verdade que essa última não ocorre. Ou seja, é possível visitar a exposição sem ter lido o livro e sem sentir falta de algo por não tê-lo lido. No entanto, ao ler os textos, o público é convidado a conhecer os contextos histórico, filosófico, cultural e religioso em que se baseiam o livro e a exposição. A questão é: esse convite tão relevante não parece bem sustentado, tendo em vista o cansaço gerado pela imensa quantidade de textos, aparentemente sintéticos, mas complexos e profundos. Dada a posição destinada aos textos, possivelmente seu principal efeito será gerar ruídos e excesso de informação. Tratando-se de uma exposição com uma quantidade grande de obras, a forma como os textos são apresentados talvez precise ser melhor estudada. Faz-se necessário reconhecer o peso das informações apresentadas, a influência na exposição e a relação entre o peso dos textos e o peso das demais obras. Porque, sim, textos também são obras e não se pode ter tudo de toda forma.
FILOSOFIA DA PROXIMIDADE
Após o texto curatorial, há um curto texto da Ana Maria Gonçalves, no qual percebemos uma tentativa de sintetizar aquilo que o público urge por sentir. Em um trecho, a autora diz: “Que esta exposição seja abrigo. Seja chama. Seja zonzura e quizomba. Adúrà, idapò, porípò. Asè. Que seja só o começo, tanto pra quem já partiu quanto pra quem está pra chegar”. À primeira vista, soa presunçoso. Mas o que parece impalpável se torna estranhamente possível através das obras, matérias, o palpável (embora não interativo). A exposição utiliza o despertar de sensações, através da materialidade, com um objetivo muito particular e raramente alcançado como aqui. É a arte, o sublime, como veículo de aproximação por meios e temas específicos. Gonçalves, num bate-papo que sucedeu a abertura do Museu, mediado pelo multiartista Chico Assis, declarou: “a gente quer deuses com os quais a gente possa dançar, comer, rir, brigar…”. Essa “filosofia da proximidade”, trabalhada e tecida ao longo da exposição, tem sua fonte na cachoeira da cosmologia elaborada na diáspora africana em parceria com as perspectivas filosóficas dos povos nativos/indígenas brasileiros. Em ambas temos, por exemplo, a proximidade entre divindade e natureza. Inclusive a natureza dos sentidos, da vida, do mundo. A natureza que nos circunda, fornece vitalidade, permeia e protege. Pensando no candomblé, orixá e natureza têm muito em comum. Aliás, são indissociáveis, como na cabaça. Ambos promovem vida para além da existência, do pleno funcionamento dos órgãos. Tal relação entre orixá e natureza está representada figurativamente na obra O Baobá Acolhe Iansã (2011), da artista baiana Edsoleda Santos. A árvore da ancestralidade, que tudo sabe, tudo viu e vê, acolhe uma ancestral. Na obra, feita com bico de pena e aquarela, podemos até ver espectros, sombras e transparência.
As obras figurativas, aliás, ocupam um lugar muito curioso na exposição Um Defeito de Cor. Vemos, por exemplo, fotografias do linguista estadunidense Lorenzo Dow Turner, feitas entre 1940 e 1941, quando ele viajava por Salvador e pelo Recôncavo pesquisando línguas africanas e elementos da cultura afro-brasileira. Suas fotografias, em geral, mostram pessoas negras “comuns”. Ainda no primeiro piso, temos a obra Ofó (2021), da multiartista carioca Aretha Sadick, que se manifesta por meio da performance, da música e tecnologias griot. Temos uma obra da série O Que Sustenta o Rio, Aqualtune (2018), de Joelington Rios, artista oriundo do quilombo Jamary dos Pretos, em Turiaçu, Maranhão. Na mesma parte da exposição, a obra A Certeza da Aurora (2022), de Tiago Sant’Ana, artista e curador baiano. Vemos Indexicalidade Colonial (2020), do artista nigeriano Kelani Abass. E, enfim, obras do Mestre Didi que, entre outras coisas, foi fundador do Terreiro Ilé Axé Asìpá, em Piatã, Salvador. Cito majoritariamente os artistas com obras presentes no início/na entrada da exposição. Trata-se de artistas negras/os de diferentes lugares do Brasil e do mundo, que expressam suas poéticas e pesquisas através dos mais distintos suportes, narrativas e técnicas.
“NOSSOS DOCUMENTOS SOMOS NÓS”
A exposição também acolhe muitos/as artistas baianos/as. Além das já citadas Nádia Taquary, Goya Lopes, Mestre Didi, J. Cunha, e Ani Ganzala, há muitas. Entre tantas/os, está Rebeca Carapiá, Tiganá Santana e Jaqueline Coêlho… Há também artistas que ainda não obtiveram o reconhecimento e atenção à altura do seu trabalho, como o Álex Ìgbó, que participa com sua obra Andem com as Cobras, Elas Sabem Morrer (2022-23); a impactante ÌWÁ (2023), de Aislane Nobre; e As Cores do Silêncio (2023), de Jasi Pereira – uma artista baiana formada na Escola de Cerâmica Ceramiq, na Polônia, que estudou e trabalhou na Ucrânia, onde conheceu a cultura bizantina, na Argentina, onde trabalhou com Sara Silvina Iturraspe e Raul Cerda. Jasi Pereira já expôs em vários lugares do mundo, inclusive na Europa e em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake, mas é a primeira vez que expõe em Salvador. Quais são as portas abertas, as estruturas de fomento e iniciação a artistas na capital baiana e em todo o estado? Aléx, Aislane e Jasi, apesar de ainda não terem o reconhecimento devido e proporcional ao seu trabalho, assim como demais artistas citados/as têm nas suas pesquisas e poética formas variadas de se posicionar e tratar, ou não, da negritude. Muitas vezes o fazem de forma não programada/esperada e nos levam a indagar: o que é arte negra?
No já citado bate-papo antecedido pela abertura do Museu, Ana Maria Gonçalves reafirmou que “tudo é verdade no prólogo (do livro), menos o manuscrito”, e acrescentou: “os nossos documentos somos nós”. Assim, a autora questiona a prática racista de exigir que as narrativas construídas por pessoas negras sejam sempre baseadas em dados, comprovações e, sobretudo, numa realidade engendrada pelo racismo. Vivemos um boom da representatividade e, nela, artistas negros/as têm representado semelhantes em diferentes contextos, alguns impostos pelo racismo, outros superando tais imposições. Mas geralmente atrelados a ele, mesmo que destaquem a sua superação. Não seria esse um desdobramento daquilo que a autora denuncia? Onde estão os delírios, o surrealismo, o abstrato proposto por pessoas negras? Na exposição, há algumas. Isso também é permitir liberdade. Aliás, talvez essa seja a única maneira de exercê-la e garanti-la.
No texto curatorial, Ana Maria Gonçalves cita a poeta, ensaísta, novelista e documentarista canadense Dione Brand que, em seu livro Um Mapa para a Porta do Não Retorno: Notas sobre Pertencimento afirma: “Ter o próprio pertencimento alojado em uma metáfora é um enredo luxuoso; é como habitar uma alegoria, ser um tipo de ficção. Viver na Diáspora Negra é, penso eu, viver como um ser fictício – uma criação dos impérios mas também uma auto-criação. É ser alguém vivendo dentro e fora de si mesmo. É entender-se como signo estabelecido por alguém e ainda assim ser incapaz de escapar dele, a não ser em momentos radiantes de simplicidade transformados em arte”. É rompendo a lógica dicotômica, fundamental para a cultura ocidental, que podemos vislumbrar, engendrar e exercer nossa humana liberdade. Gonçalves se utiliza desse princípio no livro quando, por exemplo, torna complexa a personagem da Luísa Main. Não vou discorrer para evitar spoiler, mas resumo: a humanidade e a humanização vão na contramão da pré-concepção, da ordem categórica. Por isso a personagem é contraditória, imperfeita e torna-se, embora limitadamente, livre e infinitamente humana.
O TAMBOR E O MUSEU
Na exposição Um Defeito de Cor, o público é convidado a reelaborar o lugar da literatura e questioná-la com essa fonte absoluta de conhecimento, apesar do (e inclusive pelo) tratamento dado aos textos. O corpo sabe muito mais, de fato. Visitando a exposição não são raros os momentos em que obras despertam algumas sensações que quem leu o livro certamente sentiu. São sensações que nossa experiência na cidade e no mundo também ativa. Essa dimensão não é acessada nem promovida com facilidade. Trata-se de algo muito peculiar e certamente distinto de qualquer experiência vivida nas exposições. Difícil capturar o fio condutor da curadoria capaz de gerar esse misto de angústia, dormência, alívio e fé. Difícil compreender racionalmente o que gera tudo isso. Por exemplo, a paisagem sonora Um Defeito de Cor (2022), criada por Tiganá Santana e Jacqueline Coêlho, produzem um efeito comparável à saída do Ilê. Quem viveu sabe. Trata-se de um grande assento (ou de um convite a sentar no tambor) no qual podemos sentir o som vibrar nosso corpo. Não qualquer som: o fruto da riqueza rítmica, artística e filosófica que gera um pertencimento incomum. Definitivamente sentimos que “o tambor, será o pai de todos os que transgridem a dor em desafios de festa e liberdade”, como nos conta Criolo.
Um outro ponto merece destaque: a postura adotada pela Prefeitura de Salvador ao financiar a reabertura do MUNCAB, promovendo a montagem da exposição após a primeira parte de uma série de reformas que o Museu precisa para funcionar de forma plena e autônoma. Finalmente, foi dado o respeito merecido pelo MUNCAB e toda a sua sina de refletir, acolher e produzir manifestações culturais. Trata-se de uma atitude histórica, uma vez que, desde que foi aberto,em 2009, o Museu não funcionou integralmente por mais de alguns meses. Ter em Salvador o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira é importante, histórico e estratégico em todos os níveis imaginados. Emmanuel Araújo sempre foi e será um visionário. Agora que a região do Centro Histórico, a começar pelo Santo Antônio Além do Carmo e pelo Pelourinho, passa a ser valorizada por investidores externos, mesmo com toda a gentrificação e a especulação imobiliária, investir num museu naquela região também passa a ser uma boa. No entanto, ainda é necessário que o MUNCAB, para garantir parte do funcionamento de forma autônoma, adote uma prática que enfraquece o seu discurso e sina: a cobrança de ingressos. Para além da discussão sobre as condições financeiras da maioria da população, temos de pensar em quem geralmente transita por museus.
Sabemos que a cobrança de um valor para ingressar, só produz um efeito no público: a manutenção da ideia de que o Museu é um espaço mantenedor das distâncias. Já é difícil convidar a cidade a entrar e promover pertencimento nos museus gratuitos, mais difícil será nos pagos. Contudo, se quisermos discutir a questão com a seriedade requerida, temos que indagar o porquê do MUNCAB ainda precisar cobrar ingressos para ajudar a custear seu funcionamento. Onde estão os investimentos e parcerias que permitirão ao Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira funcionar sem que seja necessário cobrar ingressos? Claro, o MUNCAB precisa desse recurso para funcionar. Embora não seja o suficiente para garantir o funcionamento do Museu de forma independente do apoio público, a cobrança de ingresso, em tese, garante alguma autonomia. Contudo, ainda precisamos buscar investidores para esse Museu fundamental, bem gerido, bem estruturado e privilegiado. É importante que o Museu não fique sob as asas/costas da Prefeitura. Cabe também ao IPAC, à Secretaria de Cultura do Estado, ao Governo estadual como um todo, e à iniciativa privada investir nesse patrimônio público que já vem produzindo retornos notáveis. Lembremos: o dinheiro faz muito mais política do que o discurso. Além da reabertura do Museu, outras medidas ainda precisam ser adotadas para consolidar mudanças efetivas e perenes, de forma constante. Há, claro, a continuação das reformas e manutenções no prédio, por exemplo. Tudo isso e o mais necessário precisa ser realizado preservando a devida autonomia das lideranças do MUNCAB e garantindo os direitos (inclusive trabalhistas) da equipe como um todo.
Tratando da equipe, na ficha técnica percebem-se informações não raramente omitidas como, por exemplo, o crédito ao motoboy Antônio Ferreira, não à empresa qualquer que fosse ela; e ao escritor baiano Alex Simões, pela revisão dos textos. Nela também podemos perceber que, além da citada inserção de inúmeros/as artistas negros/as da Bahia, houve também uma importante e fundamental inserção na assistência de curadoria, exercida por Rogério Félix, pesquisador e curador baiano. “Detalhes” assim norteiam uma mudança capaz de superar os discursos que, embora importantes, não produzem tudo. Ou seja, é importante que as pessoas sejam tão reconhecidas quanto o Museu. Nesse como em qualquer outro. É uma prática justa. Aliás, o artista Ayrson Heráclito foi um dos responsáveis pela expografia da exposição Um Defeito de Cor e participa da mesma também com a fotografia Aguê com Avivi (2020). Heráclito, ao longo do ano passado, criou uma série de pinturas em aquarelas e de esculturas em aço-inox denominada Juntó. Na série, exposta na mostra Agô, no Museu de Arte Contemporânea da Bahia, podemos ver que o machado de Xangô, representando a justiça e o equilíbrio, foi esculpido pelo artista interligado ao opaxorô de Oxalá que, em síntese, é o orixá da paz. Assim, podemos concluir também que a paz vem da justiça e a justiça, da paz. Que justiça continue a ser feita ao MUNCAB. Que a cidade de Salvador não seja de forma alguma impedida de sentir esse abrigo, essa chama, essa zonzeira e quizomba.
Xangô guia!