Wagner Morales é um arqueólogo da imagem em movimento e há dez anos imprime essa marca à sua pesquisa audiovisual. Começou com apropriações e releituras de gêneros cinematográficos nos vídeos Ficção Científica, Filme de Horror, Cassino – Filme de Estrada (todos de 2003), e Filme de Foda (2006). Na individual Base, em cartaz na Galeria Transversal, em São Paulo, ele se debruça sobre um clássico do cinema de artista: a série Screen Tests (1964 e 1966), de Andy Warhol. Mas, ao contrário de Warhol, ele não retrata personalidades. Em Screen Shots (2011-2012), Morales retrata oito televisores abandonados na calçada, à espera do lixeiro. O diálogo travado entre os dois trabalhos, ainda que sutil e indireto, é notável.
As relações de correspondência começam com a técnica utilizada. Os Screen Shots foram filmados em Super-8 – mídia corrente nos anos 1960 – e depois transferidos para vídeo, conferindo às imagens dos aparelhos de tevê descartados uma aura vintage. A câmera demora-se em cada aparelho, prolongando um olhar que esses objetos obsoletos jamais receberiam. Mais que a imagem e o timing, porém, é a estrutura criada para exibir esse trabalho que problematiza o que está sendo mostrado.
Morales optou por projetar os filmes sobre a superfície de uma caixa volumosa, no formato de uma velha tevê de tubo de raios catódicos. O projetor foi escondido dentro de outra caixa idêntica. Ao colocar tela e projetor nesse espelhamento, o artista tornou evidente o sistema hierárquico de emissão e recepção que, no século 20, determinou as telecomunicações. A obsolescência desse sistema comunicacional é confirmada pelo conteúdo das projeções: aparelhos mudos e adormecidos. Nos damos conta, afinal, de que o artista produziu um obituário da televisão.